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O dono da marca

O dono da marca

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Rocky Silva precisou brigar com um estúdio de Hollywood para continuar usando o nome da empresa, a Rocky Hunter


Imagine disputar com uma gigante do cinema mundial um nome para a própria empresa de pequeno porte. A história que parece roteiro de filme é uma das tantas que o empresário Rocky Silva tem para contar sobre a própria vida. Sim, o nome dele é Rocky, como o do famoso lutador de sobrenome Balboa. 

Entre os milhares de espectadores que se encantaram com a história do lutador de origem pobre estavam os pais do empresário. “Minha mãe estava grávida quando foi ao cinema com meu pai para assistir ao filme do Rocky. Eles gostaram tanto que ficaram para assistir a próxima sessão. Depois não teve jeito: decidiram que se tivessem um menino, meu nome seria o mesmo do herói cinematográfico”, conta.

Anos depois o empresário usou o nome na empresa de RH, a Rocky Hunter. A própria história do empreendimento é interessante. Depois de sair de Curitiba e vir para Maringá com a família para criar a filha, Rocky se viu insatisfeito como diretor nacional de uma empresa. Para não sair da cidade, decidiu aceitar uma representação comercial.

Durante a conversa com um empresário e possível cliente ouviu que o tal produto não interessava naquele momento. “Ele queria saber o que eu tinha feito na empresa onde trabalhei para que ela crescesse tanto. Contei que tinha feito um trabalho com os funcionários e ele imediatamente quis saber quanto cobraria por uma consultoria de RH. Calculei um valor na hora e fechamos negócio”, lembra.

Com a consultoria, Rocky apontou problemas na área de vendas e sugeriu substituir os três profissionais. Mais uma vez o empresário pediu que Rocky o ajudasse. “Consegui encontrar rapidamente três vendedores e esse empresário me indicou para outro. Nisso fui conquistando clientes e decidi oficializar e profissionalizar o negócio”, afirma.

Orgulhoso do nome, Rocky apostou em repeti-lo para nomear a empresa. Criou a logomarca com um homem dando um soco no ar. O negócio foi aumentando e o empresário decidiu contratar uma advogada para fazer o registro de marca. Quatro meses depois, a advogada avisou que o estúdio de Hollywood MGM estava se opondo ao registro, alegando que a empresa maringaense estava cometendo plágio. “Na hora só pensei em como enfrentar alguém tão grande, mas se desistisse, já teria perdido, e se tentasse, poderia ganhar. Claro que eu pensava muito no tempo que trabalhei para construir a marca. Fiquei preocupado, com medo de ter que mudar tudo. Mas há dois meses recebi a notícia de que tínhamos vencido. Fiquei emocionado”, comemora.

A estratégia para provar que não se tratava de plágio foi mostrar que a inspiração veio do próprio nome do empresário. O processo durou dois anos. Hoje a Rocky Hunter tem cinco anos e atua em seis estados. “Esse fato reforçou que precisamos perseverar e correr atrás dos sonhos. Ser empresário no Brasil não é fácil, mas a vitória representou muito para mim e para Maringá”, reflete.

 

Jornada do registro



Edmila Denig, da Atlas: “se antes era possível ter um concorrente com o mesmo nome em outro estado sem complicações, essa realidade não é a mesma no mundo online”
A busca pelo registro de marcas está crescendo. “Na pandemia até quem tinha uma pequena loja precisou migrar para a internet, fazer site ou criar página nas redes sociais. Se antes era possível ter um concorrente com o mesmo nome em outro estado sem complicações, essa realidade não é a mesma no mundo online”, explica a advogada especialista em registro de marcas e patentes, Edmila Denig, que é proprietária da consultoria Atlas.

O processo para registro de uma marca leva tempo e tem custos. Edmila explica que esse tempo chegou a sete anos, mas hoje, em média, em um ano e três meses é possível ter a marca registrada. Os custos variam conforme o tamanho da empresa e geralmente o que se paga à consultoria inclui as taxas do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão governamental responsável pelos registros de marcas e patentes.

“Os empresários precisam ser mais criativos na escolha dos nomes. Em um levantamento, pesquisamos 153 nomes e destes, conseguimos o registro de apenas dez marcas porque todos os outros tinham impedimento”, revela.

O processo de registro inclui a preparação dos documentos, protocolo no INPI, pesquisas e possíveis contestações de outras empresas. Quem não faz o registro, pode ter o uso da marca contestado e ter que mudar do dia para a noite. Além do prejuízo para mudar fachada, alterar logomarca e os locais onde ela estiver exposta, a empresa acusada de uso indevido pode pagar multa e ser submetida à operação policial de busca e apreensão. Quando se trata de perfil em redes sociais, em menos de 12 horas o infrator pode perder a conta com o nome irregular.

 

Uso indevido



Nipponflex descobriu que uma rede de lojas do Nordeste usava a mesma marca e precisou acionar a Justiça, conta o diretor Jeferson Braz

No caso da Nipponflex, indústria de colchões localizada em Maringá, uma empresa que fica no Nordeste estava usando a logomarca Nipponflex na fachada de uma loja. 

A situação foi descoberta porque a empresa tem 29 filiais e quando um distribuidor passou pela região, identificou o problema. O jurídico da Nipponflex fez uma pesquisa nas redes sociais e confirmou o uso da marca em diferentes materiais digitais e físicos.  “Tentamos negociar amigavelmente, mas o empresário simplesmente bloqueou nosso jurídico no WhatsApp e não respondeu à notificação extrajudicial. Aí tivemos que ingressar com uma ação na Justiça”, explica o diretor executivo, Jeferson Braz.

Uma liminar exigiu a retirada imediata da marca. “Esse empresário alterou quase tudo, principalmente a fachada e os anúncios na internet. Ainda restam vídeos publicitários, os uniformes dos funcionários e acessórios de colchão. Por isso está correndo uma multa diária para a empresa pelo uso não autorizado da nossa marca”, revela.

Braz reforça a importância de manter todos os registros em dia como segurança de que a marca não pode ser perdida. “Temos registros em mais de 40 países para onde levamos nossos produtos. Já enfrentamos outros casos e por isso investimos tanto nos registros”, conclui.

 

Registro de patentes



Nipponflex descobriu que uma rede de lojas do Nordeste usava a mesma marca e precisou acionar a Justiça, conta o diretor Jeferson Braz

Paulo Badan criou a mais antiga empresa de marcas e patentes da cidade, em 1986, que leva o sobrenome dele. Antes, ele gerenciou a antiga Telepar e depois foi sócio em uma indústria que fabricava agulheiro de cestinha e grampos de cabelo. Nessa época ele tinha cerca de oito processos de marca e patente no INPI e, por isso, conhecia os caminhos para o registro. 

À época foi convidado a fazer parte da diretoria da Acim e, em contato com outros empresários, percebeu que eles tinham problemas com processos de marcas administrados por empresas de fora do estado. “Sugeri, então, ao dono da empresa que prestava serviço para mim, que era de Curitiba, que contratasse alguém em Maringá para atender os clientes daqui. Ele fez, mas depois não foi possível manter o representante. Então, como eu ajudava os empresários com esse trabalho, pedi para ser o representante e vi que era um nicho de mercado”, lembra.

Os clientes começaram a aumentar e Badan percebeu que seria impossível dar conta da demanda utilizando apenas os horários vagos. Decidiu sair da sociedade da indústria e criou a Badan Marcas e Patentes. “Comecei praticamente do zero, mas entrei de corpo e alma na atividade”.

Ele reforça a importância do registro de marca. “Se a empresa tem uma marca que está em uma fachada, em uniformes de funcionários, sites, redes sociais e descobre que essa marca não é dela, o prejuízo é enorme”, destaca.

Ele explica que principalmente nas fábricas, entre os colaboradores, surgem ideias inovadores que podem ajudar em processos produtivos. Essas ideias podem ser patenteadas não só como forma de proteção, mas como mais um produto para trazer rendimentos financeiros. “Imagine o dono de uma indústria de alimentos que cria uma forma que abre as laterais, desgrudando do produto. Ele pede a patente dessa criação simples, porque sabia que os concorrentes veriam e copiariam, mas ao ter a patente, pode vender a invenção. Neste caso, ele nem queria ganhar dinheiro, apenas ser ressarcido dos gastos para desenvolver a inovação. E os concorrentes, por sua vez, iam levar a receita pronta de algo que pode baratear o custo de produção”, exemplifica.

Engenheiro eletricista, Badan tem como filho e sócio um advogado especialista em direito da propriedade intelectual, por isso eles também trabalham com o registro de patentes e direitos autorais de livros e músicas.