Rodrigo Store, do núcleo da avenida Cerro Azul, calcula que a via tem quase mil empresas; ele mesmo é sócio de três
Os segmentos podem até ser diferentes, mas os desafios de alguns empresários são comuns: segurança pública, atração e fidelização de clientes, disputa com vendas online, falta de estacionamento e até concorrência com trabalhadores informais. Estes são alguns dos desafios enfrentados diariamente por empresas de diferentes regiões de Maringá, mas, em alguns locais, empreendedores decidiram se unir para superar os desafios e encontrar oportunidades para crescer.
Com o suporte do programa Empreender, da Acim, foram criados quatro núcleos territoriais: com empresários do centro, das avenidas Cerro Azul e Mandacaru e da rua Piratininga, cada região com suas características e desafios. Rodrigo Store é sócio de três empresas na avenida Cerro Azul: uma loja de vestidos de alta-costura, uma loja de noivas e uma importadora, e é ele o representante do Núcleo Cerro Azul, que tem buscado melhorias para fomentar o comércio da região. “Em cidades como Londrina existem microrregiões definidas e seria ótimo se conseguíssemos fazer o mesmo em Maringá”, diz.
Estima-se que ao longo da avenida estejam instaladas quase mil empresas divididas basicamente da Catedral à praça do Teatro Reviver Magó, do teatro ao cruzamento com a avenida Nildo Ribeiro da Rocha e dali ao Contorno Sul. Segundo o empresário, apesar de ser uma avenida, cada trecho apresenta uma realidade. O primeiro, mais próximo do centro e da Catedral, é um dos locais mais bonitos da cidade, com canteiros centrais floridos e bem cuidados. A ciclovia que fica na avenida foi, inclusive, eleita pelo site The Summer Hunter uma das cinco mais belas do país.
A realidade começa a mudar entre o Teatro Reviver Magó e o cruzamento com a avenida Nildo Ribeiro da Rocha. Ali deixam de existir tanto a ciclovia quanto os canteiros e se mantém o desafio da busca por vagas de estacionamento. “Nos últimos anos, essa região passou a abrigar empresas nos prédios, o que aumentou o fluxo de veículos e, consequentemente, a disputa por vagas de estacionamento”, afirma. Para driblar a situação, uma das intenções do núcleo é conseguir junto à prefeitura a implantação do estacionamento rotativo.
O último trecho, que vai até o Contorno Sul, concentra empresas e uma parte com mais residências. Por ali, o desafio da segurança pública é intenso, já que a região é afastada. Segundo Store, um dos empresários desta região teve prejuízo de R$ 8 mil com o roubo da fiação elétrica e precisou fechar o estabelecimento para reparar o prejuízo. Outro foi roubado mais de dez vezes e até o relógio de água foi levado.
“Fizemos um levantamento que revela que dos empresários da avenida, metade não tem iluminação própria, o que contribui para que pelo menos 50% das empresas tenham sofrido arrombamento ou furto”, explica. Segundo ele, a falta de iluminação é um problema que agrava a segurança, no entanto, graças à solicitação feita à prefeitura, o núcleo conseguiu recentemente que fosse feita a instalação de iluminação de LED e a troca do asfalto da região.
Com cerca de 30 membros, o núcleo tem o objetivo de elaborar um plano de trabalho que considera mobilidade, segurança, revitalização de alguns trechos até a inclusão de uma parte maior da avenida nas atrações da Maringá Encantada, por exemplo. “Todos os empresários da Cerro Azul, independente do segmento, estão convidados a participar das reuniões do núcleo e, em conjunto, dedicarmos tempo para encontrar soluções para todos”, afirma.
Mãos à obra
Junior Jucalli coordena o Núcleo do Centro, que tem entre os desafios a disputa com as vendas pela internet, concorrência com informais e falta de segurança pública
Fundado em outubro de 2022, o Núcleo do Centro é o pioneiro entre as iniciativas de reunir empresários de segmentos diversos, mas que atuam na mesma região da cidade. Segundo Junior Jucalli, do ramo de calçados e coordenador do núcleo, na área central os principais desafios são: disputa com as vendas pela internet, concorrência desleal com camelôs e falta de segurança pública. “A presença dos camelôs é um problema recorrente no centro que, mesmo com a fiscalização, traz prejuízo e transtorno aos comerciantes”, afirma.
No entanto, com quase dois anos de atuação o núcleo teve conquistas que trouxeram retorno. Uma delas aconteceu em abril, quando cerca de 50 comerciantes se uniram para revitalizar a praça Raposo Tavares. De forma voluntária, eles se reuniram para fazer pintura, limpeza, entre outros serviços de revitalização. “Nossa intenção foi promover melhorias imediatas para reduzir problemas como a falta de segurança, e, com isso, tornar o comércio do centro mais atrativo para os consumidores”, explica.
Outra conquista foi incluir a praça Napoleão Moreira da Silva nas atrações da Maringá Encantada e, assim, atrair visitantes e potenciais clientes para a região na programação de final de ano. Além disso, no Dia das Mães do ano passado, o núcleo conseguiu viabilizar o que foi chamado de ‘Quarteirão da Alegria’, um dia com programação especial para o público infantil com a presença de robôs de LED, distribuição de pipoca etc. “Foi uma ação que trouxe resultado, por isso, queremos investir em outros eventos deste tipo aos sábados com atrações para crianças e food trucks, por exemplo”, diz.
Inspiração estrangeira
Empreendedores do Núcleo Piratininga Soho buscam inspiração no bairro nova-iorquino para criar uma identidade forte, conta Michele Bocardi
Investir em eventos também é uma das intenções do Núcleo Piratininga Soho, fundado neste ano para representar os comerciantes da rua Piratininga, entre as avenidas XV de Novembro e Tiradentes. Os eventos fazem parte de um plano para criar uma identidade forte para a região, que abriga boutiques de roupas femininas, infantis, joias e acessórios, além de restaurantes e cafés.
A inspiração do nome ‘Soho’ vem de Nova York, Estados Unidos: Soho é um bairro do distrito de Manhattan conhecido por ser um dos principais destinos de compras da cidade e por abrigar lojas luxuosas e galerias de arte sofisticadas. Michele Bocardi, conselheira do núcleo e proprietária da Cazza Flor, de semijoias e acessórios, afirma que a intenção de firmar uma identidade para a região é tornar o trecho um shopping a céu aberto com status de ponto turístico.
Em conjunto, os comerciantes conseguiram realizar eventos com música ao vivo e opções gastronômicas, e a experiência foi positiva. “Fizemos Festa Junina e Feira de Artesanato e vimos que funciona para atrair, inclusive, moradores da região que muitas vezes não compram na vizinhança”, afirma. No entanto, um dos desejos que ainda não foi alcançado é a possibilidade de fechar a rua para a realização dos eventos. “Isso ainda é algo que estamos buscando com a prefeitura”, diz.
Para divulgar os atrativos, o núcleo trabalha na criação de um perfil nas redes sociais, onde será destacado o slogan: ‘A rua mais charmosa da cidade’. O grupo está investindo em uma identidade visual que traduza a sofisticação e, com isso, espera se conectar a potenciais clientes não só de Maringá como da região.
Vantagens para o consumidor
Vicente Subtil, sócio da Gela Boca da avenida Mandacaru: empresários da região querem melhorar segurança pública e criar clube de descontos
Há 25 anos no mesmo ponto da avenida Mandacaru, a matriz da Sorveteria Gela Boca testemunhou a evolução do comércio local, no entanto, Vicente Subtil, sócio da unidade, afirma que os anos de experiência também trouxeram outra constatação: a de que sozinho é muito difícil conquistar mudanças. Lançado há cerca de quatro meses, o Núcleo da Mandacaru, presidido por ele, tem trabalhado questões que envolvem principalmente a segurança pública da avenida, como a falta de iluminação e a presença de moradores de rua.
Com 12 membros, o núcleo reúne empresários de salões de beleza, postos de combustíveis, oficinas mecânicas, lojas de roupas, restaurantes e outros comércios voltados à alimentação, e são estes últimos um dos que mais sofre com a falta de segurança, já que muitos funcionam à noite. “Infelizmente todo dia acontece alguma situação que envolve a segurança pública ao longo da avenida”, diz.
Além de buscar melhorias em relação à segurança, os empresários buscam alternativas que favoreçam o comércio local. Um dos desejos é incluir a Mandacaru na programação da Maringá Encantada, com mais decorações, horários especiais de funcionamento e atrações que ajudem a atrair público. “Também estamos estudando maneiras de criar um Clube de Descontos entre as empresas que fazem parte do núcleo para estimular nossos clientes a manter as compras no comércio local”, diz.
Apesar do trabalho recente do grupo, ele está animado e espera que, em conjunto, os comerciantes da região possam encontrar melhorias que atendam as necessidades de todos. “Sozinhos não temos força para conquistar alguns avanços, mas quando melhoramos ‘o todo’, todos são beneficiados, criando uma concorrência mais saudável entre as empresas do mesmo segmento”, diz.