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A próxima onda da inovação é criar uma grande aldeia global

A próxima onda da inovação é criar uma grande aldeia global

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No passado não muito distante prevalecia o consenso de que o sucesso de uma empresa estava atrelado à eficiência financeira e operacional. Hoje esses dois critérios não bastam, de acordo com o educador e web ativista Gil Giardelli. Estudioso da cultura digital, ele inclui um terceiro quesito: a inovação.

“Ser inovador faz parte das empresas que estão num processo novo de lucratividade. Antes investia-se nas empresas que tinham eficiência operacional e financeira bem resolvida, agora é preciso ter financeiro, operacional e eficiência da inovação. Pode ser algo simples no processo ou no serviço, mas a inovação está sendo o diferencial das empresas do século 21”, afirma.

O especialista de cultura digital fala sobre economia, sociedade 5.0 e educação na entrevista a seguir. Ele também ministrará palestra a convite da ACIM e Unicesumar em 17 de agosto, às 18h30, com transmissão ao vivo pelo Youtube da Unicesumar, TV Unicesumar, TV Futuro e Facebook da ACIM:

Qual a importância da inovação em um cenário difícil como o atual?

Hoje existem mais de dez tipos de inovação, entre elas a radical, transformacional e estratégica. Cada empresa precisa entender o conceito de inovação que melhor cabe no seu momento. A inovação urgente é aquela com planejamento para ontem, e isso não é um bom caminho para o momento atual. A inovação tem que ser algo planejado, com metodologia e tempo de maturidade. E mais do que a tecnologia empregada, a cultura da empresa conta muito para o resultado.

O Brasil ainda não tem uma cultura de inovação. Você acredita que este cenário pode mudar no pós-pandemia?

O Brasil é um país muito inovador, o que falta é um projeto como nação. Somos inovadores no sentido de que há muitas ilhas dentro do país e várias iniciativas fabulosas. Florianópolis, Recife, Porto Alegre e Teresina são centros que se destacam mundialmente no conceito de inovação. Também temos muitos profissionais indo para o exterior para assumir importantes cargos de inovação. A questão é que o Brasil precisa resolver qual é o seu projeto como nação no século 21. E uma das questões é entender que um país inovador tem dois pontos importantes: a ética e a tríplice hélice da inovação, que são a iniciativa privada, academia e políticas públicas bem resolvidas.  E  quando  falo  de  políticas  públicas  não  é  no  sentido  de  dinheiro,  mas  que  um  país  não pode demorar de 12 a 15 anos para aprovar uma patente, que o é o que acontece hoje no Brasil.


Se reinventar nunca foi tão urgente e necessário para as empresas. O que podemos esperar no que diz respeito à tecnologia?

Chamamos esta era de AI Economy, onde não só a economia da inteligência artificial, mas as tecnologias cognitivas estão mudando completamente a forma com que nos relacionamos, trabalhamos e vivemos nas cidades inteligentes. Temos, por exemplo,  os  Globotics,  que  é  um  processo  de  altos  conceitos  de holografias que permite a realização de reuniões intercontinentais. A próxima onda da inovação é criar uma grande aldeia global onde pessoas que entendem de ciências exatas e humanas estarão à frente.

O universo digital se tornou a salvação para muitos negócios, inclusive para os que tinham resistência ao meio. Este deve ser o início de uma nova geração de empreendedores?

Vivemos a era do fisiodigital que é o físico dentro do digital e o digital dentro do físico. Não importa se você tem uma loja ou um restaurante, qualquer  tipo de comércio, serviço ou indústria terá que estar presente no digital. O novo empreendedorismo exige que todos aprendam sobre liderança digital.

Nunca se teve tanta abundância de conteúdo e aulas gratuitas, e ao mesmo tempo tanta falta de vontade de querer aprender algo novo. É o que chamamos do fenômeno da paixão pela ignorância. Estude sobre o mundo digital e sobre inovação lendo livros e artigos, ouvindo podcasts, assistindo a vídeos

Como as pessoas devem se desenvolver para não serem engolidas pelas mudanças diante de um cenário mais tecnológico?

Nunca  se teve  tanta abundância  de  conteúdo e  aulas gratuitas,  e ao  mesmo tempo  tanta falta de vontade de querer aprender algo novo. É o que chamamos do fenômeno da paixão pela ignorância. Minha recomendação é: estude. Estude sobre o mundo digital e sobre inovação lendo livros e artigos, ouvindo  podcasts, assistindo a vídeos. Isto é uma nova forma de aprender e aprender durante toda a vida.

O que é a tão comentada 4ª Revolução Industrial?

A 4ª  Revolução Industrial é a conexão das máquinas inteligentes, a inteligência artificial. São máquinas que precisam de menos interação de seres humanos, como os carros autônomos. Na verdade o conceito da 4ª  Revolução Industrial começa a ser substituído por outro: a sociedade 5.0. Nesta nova sociedade as máquinas não estão no centro de tudo como na 4ª  Revolução Industrial, aqui  a tecnologia  e a inovação estão a serviço da humanidade. Saem o B2B e o B2C e entra o  human to human [H2H], ou seja, os seres humanos no centro de tudo. A Sociedade 5.0 foi apresentada pelo governo chinês na última reunião presencial  do  G20,  que  são  os  20  países  mais  ricos,  e  prevê  que todos os humanos devem ser impactados pelas novas tecnologias. Em resumo, ou os benefícios desta nova era serão de todos ou o mundo não será absolutamente de ninguém.


Como podemos definir a economia digital?

Economia no meio  digital é uma nova era onde  teremos moedas criptografadas. O Banco Central Chinês foi o primeiro a lançar sua própria moeda e não atrelar ao ouro. Todos os conceitos  definidos  no  final  da  Segunda  Guerra  Mundial,  no encontro em Bretton Woods [cidade dos Estados Unidos onde representantes de 45 países aliados se reuniram para estabelecer o funcionamento de políticas monetárias e econômicas no pós-guerra] estão caindo e estão sendo criadas formas de entender o mundo e até de somar o PIB. Economia digital pensa em infraestrutura, mas também no uso de tecnologias digitais pelo país e pela nação, bem como nas habilidades das pessoas nesta nova era.

Você acredita numa mudança no ensino no que diz respeito ao uso da tecnologia?

A educação está passando por uma grande transformação. É um momento que chamamos de pedagogia dos iguais, nas quais pessoas de todas as idades estão aprendendo em  podcasts, tutoriais,  Youtube  e  plataformas  de  videogame  e  de  afinidades,  como  a  sul-coreana  K-pop.  Hoje a educação acontece 24 horas por dia, sem espaço concreto e tempo cronometrado. Isso muda o jeito dos professores planejarem suas aulas e também a forma de aprender. Além disso, chega-se ao momento que não dá mais para dividir pessoas entre ciências humanas, exatas e biológicas. Essa transformação começou de  fato na educação e traz uma série  de novas habilidades  para serem ensinadas e aprendidas por professores e alunos.