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Porta para o empreendedorismo

Porta para o empreendedorismo

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“No início, é interessante ter suporte para estruturar uma base. Depois, para entender o cenário financeiro e fazer a gestão ou descobrir como faturar mais”, orienta Stefane Teixeira, da ACIM 

Na esteira do cenário nacional, o número de Microempreendedores Individuais (MEI) em Maringá tem crescido de maneira acelerada: dados da prefeitura apontam que há mais de 44 mil na cidade, 43% mais do que em 2020, quando eram 31 mil. No Brasil, são cerca de 15 milhões. O Paraná contabiliza 778,3 mil, sendo que 205 mil foram abertos somente em 2023. 

Esse grupo encontrou no MEI uma maneira de formalizar e facilitar seus empreendimentos, que muitas vezes podem ser realizados dentro de casa, por meio de computador ou notebook, na cozinha fazendo doces ou artesanatos, por exemplo. “O MEI regulariza o empreendimento autônomo tornando possível que, mesmo trabalhando sozinho, o empreendedor tenha acesso a incentivos e benefícios específicos”, explica a agente de negócios no Inovus, ambiente de inovação da ACIM, Stefane Teixeira. 

Os MEIs têm direitos a benefícios previdenciários, acesso a linhas de crédito com juros atrativos, possibilidade de ter um funcionário registrado, segurança do negócio na emissão de notas fiscais, além de privilégios para participar de licitações municipais.

Outro chamariz é a ausência de burocracia. “O processo para abrir um MEI é rápido, objetivo e gratuito. Além disso, uma das principais vantagens desse modelo de CNPJ é a baixa tributação de impostos”, destaca Stefane. 

Ainda assim o caminho que vai da ideia de abrir uma empresa ao sucesso no mundo dos negócios é longo e costuma ser difícil. Mais do que vontade de empreender, é preciso planejamento e organização. “Os principais erros estão na organização interna da empresa e na gestão financeira. Muitos empreendedores se oficializam, porém não realizam planejamento empresarial para entender como funciona a estruturação para atuar no mercado”, pontua a agente de negócios.

Para evitar estes erros, Stefane indica buscar a ajuda de profissionais e espaços como a Casa do MEI, criada em novembro passado numa união com o Sebrae, com oferta de serviços gratuitos para associados da ACIM. “Buscar ajuda é relevante em qualquer estágio. No início, é interessante ter suporte para estruturar uma base. Depois, para entender o cenário financeiro e fazer a gestão do negócio ou descobrir como faturar mais”, orienta Stefane.  

Na Casa do MEI, por exemplo, o microempreendedor tem acesso a consultorias e mentorias, participa de palestras e workshops gratuitos, além de usufruir de ferramentas para a organização da empresa. Também é possível tirar dúvidas sobre a formalização e as obrigações fiscais dessa classificação de CNPJ. 

 
Recolocação no mercado

Vinda de São Luís/MA, Adriana de Lima Freitas encontrou no MEI a forma de formalizar a produção de velas, difusores e outros produtos da Chérie Aromas 

Adriana de Lima Freitas é uma entre milhões de brasileiros que passou a trabalhar como MEI. No início de 2021 ela trocou São Luís/MA por Maringá para acompanhar o marido, que veio transferido. Aqui, sem contatos, sentiu dificuldade para entrar no mercado de Design de Interiores, área de sua formação profissional. “Cheguei a fazer alguns trabalhos, mas percebi que demoraria muito para alcançar o fluxo de trabalhos que tinha lá”, conta. 

Como alternativa, decidiu explorar outro talento: de artista. No Maranhão, além de designer de interiores, Adriana dava aulas de artesanato. “Sempre gostei de trabalhos manuais. Ao analisar o mercado local, vi que era uma alternativa para explorar como negócio”, revela.

Seguindo os passos da mãe, que trabalha com aromas, a designer formalizou-se como microempreendedora individual e criou a Chérie Aromas há um ano. Antes, porém, frequentou cursos de cosméticos naturais e marketing olfativo.

Hoje produz velas, difusores, home spray, sabonete, escalda pés e sais de banho. A marca conta ainda com acessórios de resina. Por enquanto, a produção é comercializada em canais de venda na internet – como Instagram e WhatsApp - e espaços parceiros, como salão de beleza e clínicas de estética, mas em breve deve ganhar espaço próprio. “Este ano contratei gente para aumentar a produção e pretendo até o final do ano abrir uma loja física”, projeta.

Parte da animação vem do suporte depois que começou a frequentar a Casa do MEI, na ACIM. Em pouco mais de um mês, ela participou de uma rodada de negócios, contratou uma consultoria financeira e criou planilhas que ajudam a estruturar o negócio de forma organizada. “É um local para troca de experiências, crescimento e estruturação do negócio, pois tudo que preciso o local oferece: cursos, consultorias, networking, sem falar no atendimento da equipe”, exalta Adriana. 

Ela também faz planos de ingressar no programa Empreender, da ACIM. Isso porque, depois do árduo desafio de estruturar a Chérie Aromas sozinha, Adriana descobriu a importância da união. “Sozinhos não conseguimos ir muito longe. Precisamos de pessoas, parcerias e qualificação para fazer o nosso negócio acontecer. Afinal, quem não é visto não é lembrado”, diz.

 

Oportunidade e necessidade

Depois de estudar alimentos funcionais no mestrado e doutorado, Jiuliane Martins da Silva deu início a Dajiu, que produz bananinha em barra e deve aumentar a linha de produtos 

Assim como para Adriana, ingressar no empreendedorismo também foi desafiador para a engenheira de alimentos Jiuliane Martins da Silva. Entre os maiores desafios, ela cita responsabilidades múltiplas, provisão de capital, jornada de trabalho superior a oito horas diárias, expectativa de rendimentos imediatos, além dos riscos do negócio.  

Assim como tantos outros, ao optar pela formalização como microempreendedora individual, ela encontrou na Casa do MEI suporte para direcionar e impulsionar a Dajiu Functional Foods, marca que criou há um ano. “Procurei a Associação Comercial em busca de apoio e orientação em áreas específicas, além do networking empresarial. Essa parceria proporciona visibilidade e credibilidade no mercado, o que é fundamental para o crescimento e a consolidação da marca”, diz.

Jiuliane estava no último ano do doutorado em Ciência de Alimentos, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), e havia passado por várias áreas da Engenharia de Alimentos quando decidiu que era hora da pesquisa transpor os muros universitários e alcançar a sociedade. “Sempre trabalhei com alimentos funcionais, tanto no mestrado quanto no doutorado, e não me conformei em deixar tudo que aprendi somente no papel. Identifiquei uma chance de negócio. Meu trabalho como pesquisadora foi fundamental para isso, e decidi lançar um produto”, conta. 

O produto é a bananinha da Dajiu, cujo processo de criação e fabricação começa com a seleção de frutas frescas, como bananas maduras, que são processadas até obter consistência cremosa e homogênea. A mistura é moldada em barrinhas, secas em baixa temperatura para preservar nutrientes e embaladas individualmente para garantir frescura e conveniência para o consumidor, sem a adição de açúcar. O público-alvo são pessoas adeptas de dieta balanceada e que “procuram opções práticas e nutritivas”.

Para alcançar o público, além de promover os produtos em si, Jiuliane compartilha, nas redes sociais, conteúdos sobre nutrição e bem-estar. Também aposta em parcerias com influenciadores digitais, nutricionistas e profissionais de saúde, além de promover eventos e degustações. 

É possível adquirir os produtos em lojas online parceiras, redes sociais e pontos de venda físicos, como lojas de produtos naturais, empórios e supermercados. Os valores variam, já que estão sujeitos a ajustes de custos, promoções e sazonalidade dos ingredientes. Para o futuro, a intenção é expandir a linha de produtos. Além disso, a engenheira quer fortalecer parcerias e investir em tecnologia e sustentabilidade.

 

Sonho de infância

Foi com o brechó e outlet Cabide Espacial que Naryman Nerilo viu a oportunidade de empreender; ela pretende abrir mais lojas e lançar uma marca de roupas 

A necessidade de renda é a principal explicação para o crescimento do número de MEIs, mas existem outras. Que o diga Naryman Nerilo, que embora desde os 12 anos sonhasse com o negócio próprio, nunca tinha imaginado se tornar proprietária de um brechó. A ideia veio da mãe que, diante das crises de ansiedade da filha, a incentivou a largar o emprego com carteira assinada e abraçar o sonho de infância. “Estava infeliz no trabalho e minha mãe sugeriu que eu abrisse um brechó. Aceitei a sugestão e comecei a procurar salas comerciais. Não foi fácil, mas acabei encontrando o lugar ideal na Zona 3”, conta a microempreendedora individual.  

É lá, na rua Mathias de Albuquerque, que funciona o Cabide Espacial Brechó e Outlet. Nas araras, os clientes encontram roupas e acessórios femininos novos e seminovos. No quesito marcas, opções de grifes nacionais e internacionais não faltam. “Temos fornecedor fixo em Maringá, mas há peças que vêm de fora, de países como Estados Unidos, China, Vietnã e Índia”, conta Naryman. 

Os preços são variados e “mais em conta”, segundo a empresária. No ‘cantinho’ da liquidação, por exemplo, há araras com peças a partir de R$ 10. Só os vestidos de festas que chegam a custar cerca de R$ 400. 

O resultado da combinação qualidade, variedade e preço não poderia ser outro: sucesso de vendas. Além da loja física, as roupas e os acessórios são divulgados e vendidos na internet, levando a marca Cabide Espacial para o Brasil inteiro e até para o exterior. “Semanalmente envio pacotes para vários estados, como Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo”, cita. 

Assim que decidiu seguir o caminho do empreendedorismo, ela buscou a formalidade, optando pelo MEI. “É a ferramenta mais fácil e prática para quem está começando, tanto para conseguir empréstimos como gerir o negócio. Tenho a ajuda de uma contadora, mas daria conta de fazer a declaração, os pagamentos e a emissão de notas sozinha”. 

Planejamento e conhecimento também são importantes aliados. “Não quero repetir os erros do passado. Aos 19 anos, montei uma fábrica de chinelos que não deu certo porque não consegui alcançar a qualidade nem tinha experiência com divulgação”, confidencia. 

Bem diferente da Naryman de hoje, que investe em tráfego pago e orgânico na internet. Nas redes sociais, usa a simpatia para atrair clientela para o brechó e outlet, além de investir em inovação para melhorar a experiência de compra. “O sucesso está nos detalhes”, ensina. 

Parte do conhecimento vem das consultorias ofertados pela Casa do MEI instalada na ACIM. “É um acolhimento que o microempreendedor individual precisa no começo. Já fiz várias consultorias, inclusive financeira”. Satisfeita com a experiência, Naryman deve seguir frequentando o espaço, até porque tem muitos planos. Ela pretende abrir lojas físicas da Cabide Espacial pelo Brasil e no exterior. O lançamento de uma marca de roupas também está nos planos. “O importante é correr atrás dos sonhos e nunca desistir”, conclui.

 

Impulso materno

Após a maternidade, Dayane Moura decidiu que era hora de empreender e passou a vender semijoias e joias

Outro desafio comum é equilibrar a maternidade e a carreira profissional, o que leva mulheres a buscar o empreendedorismo. Segundo pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, sete a cada dez empreendedoras brasileiras decidem abrir um negócio depois da maternidade.

Dayane Moura é uma delas. Após se tornar mãe, em 2009, ela decidiu que não voltaria a trabalhar com carteira assinada para ter tempo para se dedicar à filha. Tendo o atendimento ao público como ponto forte, iniciou uma análise de opões de negócios. 

Após uma breve incursão no mercado de consórcios, ‘descobriu’ as semijoias no final de 2011. “Percebi que precisava vender algo imediatista, que enchesse os olhos de quem cruzasse meu caminho”, conta Dayane. 

O tempo mostrou que a escolha foi acertada. O negócio prosperou: além das semijoias, hoje Dayane vende joias. “No segmento ouro e prata ofereço peças personalizadas”, diz. São opções para atender uma clientela diversificada, inclusive em termos financeiros. Na carteira de clientes há desde pessoas com renda inferior ao salário-mínimo até de expressivo poder aquisitivo. 

Sem loja física, os atendimentos são individualizados. “Atendo na residência, no local de trabalho e até no meu carro. Quando preciso de um espaço reservado, alugo uma sala”, conta Dayane.

Ela não mede esforços para melhorar a qualidade dos atendimentos e fidelizar a clientela. Recentemente chegou a fazer um curso de Libras ofertado pela Casa do MEI para melhorar a comunicação com as clientes com necessidades especiais. Lá, também buscou consultoria para ajustar a gestão de recursos. “A maior dificuldade do MEI é separar a movimentação do dinheiro nas contas físicas e jurídica”.

Fora isso, Dayane só vê vantagens em ser microempreendedora individual. “O MEI não precisa de um espaço comercial, posso usar minha residência como endereço. Também não precisa contratar funcionários”, cita. É a própria Dayane quem cuida das finanças e da divulgação nas páginas em redes sociais. A ajuda que tem no momento vem do conhecimento obtido por meio de cursos e consultorias e do networking feito em espaços como a Casa do MEI. 

“Gosto de aprender e ter experiências com outros empresários. É bom me sentir pertencente a esse espaço e crescer”, pontua a microempreendedora que, para o futuro, não descarta ter um local fixo para os atendimentos.

 

Como quitar 
débitos 
atrasados?

O MEI tem direito a aposentadoria, auxílio-maternidade, auxílio-doença, entre outros benefícios previdenciários. Entretanto, para usufruir deles é preciso estar com a contribuição em dia. 

Quem estiver com boletos mensais atrasados - Documento de Arrecadação do Simples (DAS) – pode pagar à vista ou parcelado. Ao optar pela primeira opção, basta gerar um novo DAS, acessando o Portal do Empreendedor, optando por pagamento de contribuição mensal e selecionando a opção boleto.

O DAS será impresso com multa e juros, atualizado para a data informada para pagamento. A multa será de 0,33% por dia de atraso limitado a 20% e os juros serão calculados com base na taxa Selic. 

O parcelamento pode ser solicitado a qualquer tempo também no Portal do Empreendedor. Somente serão parcelados débitos vencidos e declarados por meio da DASN na data do pedido de parcelamento.

Não há valor máximo de dívida, mas número máximo de parcelas, que é 60. A quantidade é definida de forma automática pelo sistema, levando em consideração o valor total da dívida e o mínimo da parcela de R$ 50. Link do Portal do Empreendedor: www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor/servicos-para-mei