“Quando começamos praticamente não havia concorrência organizada em Maringá”, diz Carol Camotti, da Estar Bem Cuidadoria, que deve franquear o negócio
Carol viu a demanda por esses serviços acompanhar as mudanças demográficas e Maringá se consolidar como uma das cidades com mais idosos no Brasil. Para se ter ideia, Maringá possui 75.219 habitantes com 60 anos ou mais, o que representa 18,4% dos 409.657 moradores – índice superior à média nacional de 14,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Quando começamos, praticamente não havia concorrência organizada em Maringá. Fomos apresentando nosso serviço, e as demandas foram surgindo”, conta. Em menos de dois anos o negócio faturou o suficiente para pagar as contas e sustentar a mudança de um escritório em casa para uma sede comercial, onde hoje atuam sete colaboradores pela operação.
A equipe de cuidadores e técnicos de enfermagem que trabalham diretamente com os pacientes chega a 50 pessoas. Os profissionais atendem clientes, na maioria acima de 80 anos, com serviços de assistência básica em domicílio e cuidados com sondas, gastrostomias e outras necessidades de saúde. O tíquete médio gira em torno de R$ 9,6 mil.
O modelo de negócios inclui um sistema próprio para gerenciar escalas, treinamentos e acompanhamento personalizado, tanto que Carol deve franquear as primeiras unidades em breve. “Não é um mercado simples. Exige qualificação e sensibilidade para lidar com famílias em situações complexas”, explica.
O principal desafio tem sido a escassez de mão de obra qualificada, enquanto a informalidade permanece como característica marcante. Nesse contexto, a empresa lançará cursos com foco em comportamento. “Cuidar de idosos é uma necessidade social que só vai aumentar nas próximas décadas, mas enfrentamos o desafio de encontrar profissionais preparados, o que tem sido tema nas reuniões do Núcleo de Home Care e Cuidadoria do Programa Empreender da Acim, do qual faço parte. Geralmente, as pessoas são contratadas pela capacidade técnica e demitidas pelo comportamento. A Estar Bem vai oferecer cursos online para o Brasil todo para tentar suprir parte dessa lacuna. Trabalharemos habilidades emocionais”, diz.
Domicílio e hospital
Rafael Sanches, da Cuidar Mais, que oferece cuidados domiciliares e hospitalares e tem 30 cuidadores fixos
A Cuidar Mais, que também integra o Núcleo de Home Care e Cuidadoria, nasceu em 2018 como um desdobramento da experiência de Rafael Sanches, então estudante de Enfermagem. Seu primeiro cliente, um idoso de 94 anos, tornou-se um “aliado” do negócio quando começou a recomendar os serviços. Com a demanda crescendo por indicações, foi preciso contratar profissionais para dar conta dos atendimentos. Foi quando surgiu a necessidade e a oportunidade de formalizar a operação.
A empresa oferece cuidados domiciliares e hospitalares, incluindo atendimentos pontuais, pré e pós-operatórios, com pacotes diários e mensais - os contratos seguem um modelo, com adaptações apenas para casos específicos. A equipe conta com cerca de 30 cuidadores fixos, além de plantonistas para atendimentos hospitalares esporádicos.
A seleção prioriza profissionais qualificados, com cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), contratados como prestadores de serviço. Embora atenda também crianças e adultos, o foco permanece nos idosos, que representam 90% dos clientes. Os valores por paciente variam entre R$ 2 mil e R$ 15 mil mensais, conforme as necessidades.
Apesar do crescimento, Sanches cita desafios como a concorrência de serviços informais, o que vem sendo enfrentada com base na construção de reputação positiva do negócio. “Nosso diferencial está na credibilidade pelo atendimento personalizado, em que o relacionamento humano ainda supera as tentativas de implementação tecnológica. Mais do que assistência técnica, oferecemos atenção. A escuta atenta às histórias dos idosos se tornou um valor intangível do nosso serviço”, acentua.
Clínica
Na Vida Ativa há uma lista de espera de 25 pessoas, conta Adriana Mota
A casa de repouso admite idosos lúcidos ou em fase inicial de demência, sendo que o atendimento permanece com o paciente independentemente do agravamento, conforme a necessidade da família. A estrutura conta com 28 colaboradores, incluindo nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e equipe de enfermagem.
O tíquete médio mensal varia conforme o grau de dependência, girando em torno de R$ 9 mil. Consultas médicas são realizadas trimestralmente por meio de parcerias com geriatras e neurologistas.
A Vida Ativa opera sem convênios e já recusou proposta para terceirizar serviços. “Priorizamos a qualidade do atendimento e uma operação saudável em vez da expansão”, ressalta. A demanda por vagas supera a oferta, mas a expansão trava em razão da falta de profissionais que se enquadrem no perfil exigido pela clínica. “Recebemos pacientes que passaram por outras instituições e retornaram para nossa lista de espera. Mantemos uma rotina estruturada que inclui desde cuidados básicos a serviços como podologia e corte de cabelo”, comenta.
Para vencer a falta de profissionais com os perfis desejados, a clínica mantém cuidadores em longo prazo por sistema de bonificações. “Muitos têm formação técnica, mas falta humanização no atendimento. Por isso, aplicamos estratégias para reter bons profissionais”, explica.
Startup
Luísa Bernardes e Camila Gonçalves, da startup CuideMe, que monitora sinais vitais, atividades diárias, situações de emergência e geolocalização de idosos
A idealizadora Luísa Bernardes trouxe para o desafio uma dor pessoal: a dificuldade de monitorar as duas avós septuagenárias, que resistiam em deixar suas casas, mas precisavam de acompanhamento constante da saúde. “Elas não se adaptavam com cuidadoras presenciais e quando vieram morar comigo, percebi como era importante ter dados sobre a saúde delas para mitigar riscos”, relata Luísa. A experiência se transformou no embrião da CuideMe, em 2020.
Sem perder de vista o potencial do mercado da terceira idade, a chamada economia prateada, que, segundo o Sebrae, movimenta R$ 2 trilhões por ano no Brasil, a CuideMe surgiu como um sistema integrado que combina relógio inteligente, tecnologia 4G, um aplicativo e, mais recentemente, dispositivos médicos via bluetooth. Além de monitorar sinais vitais e atividades diárias, a solução identifica situações de emergência, como quedas, e oferece geolocalização em tempo real, permitindo localizar idosos que possam se perder ao sair de casa.
A novidade permite que cuidadores e profissionais de saúde realizem medições precisas de parâmetros como pressão arterial, glicemia e oxigenação, com os dados sendo transmitidos automaticamente para a plataforma da CuideMe. Essa funcionalidade reduz a necessidade de anotações manuais, minimiza erros e garante um histórico da saúde do paciente. Sócia e também idealizadora, Camila Tejada Garcia Alba Gonçalves detalha que “todos os dados são armazenados em nuvem e podem ser acessados por familiares e médicos por meio de relatórios automatizados.” A tecnologia dos dispositivos inteligentes é desenvolvida integralmente em Maringá, enquanto a produção dos equipamentos ocorre no exterior.
Os resultados do monitoramento são expressivos: por meio da integração de dispositivos médicos, a solução contribuiu para uma redução de 35% na progressão de casos crônicos para críticos em pacientes com doenças crônicas e de 30% na incidência de internações por complicações agudas em pacientes diabéticos.
A CuideMe opera com um modelo de assinatura, atendendo tanto instituições de saúde quanto famílias em todo o Brasil, com crescimento médio de 16% ao mês. Apesar do crescimento acelerado, há desafios de um setor em transformação. “Além das dificuldades para captar investimentos, percebemos que muitas pessoas ainda negligenciam o cuidado com a própria saúde, buscando acompanhamento apenas quando a situação se agrava. Além disso, muitos negócios voltados à terceira idade ainda operam de forma analógica, sem integração tecnológica para um cuidado mais eficiente e acessível”, explica Luísa.
“Nosso propósito é transformar o cuidado com a saúde por meio da tecnologia, oferecendo uma solução que não apenas monitora, mas antecipa riscos e proporciona segurança para pacientes, famílias e instituições”, destaca Luísa.