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Inovação local independente do segmento

Inovação local independente do segmento

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Partiu dos médicos Marcio Ronaldo Gonçalves (foto) e Leonardo Arnoni a iniciativa de desenvolver um leito robótico para ajudar no tratamento de pacientes acamados por longo tempo em hospitais

É desenvolvida em Maringá - e por maringaenses - uma inovação na área médica que promete revolucionar o tratamento de pacientes graves no mundo. Trata-se de um leito robótico feito de prismas articulados que promovem melhores condições de cuidados a pacientes acamados em hospitais, prevenindo o aparecimento de escaras – feridas causadas por pressão do corpo do paciente imobilizado, cujo tratamento demanda gastos com profissionais, materiais e medicações. 

O protótipo conta com sete prismas estofados, impermeáveis e com controle térmico, interligados e autônomos, proporcionando variedade de combinações de movimentos capazes de realizar funções que exigem grande mobilização de equipes. O trabalho de prevenir escaras deixa de ser feito pela troca contínua de posição do paciente, e passa a ser realizado pela lenta movimentação dos prismas do leito. 

Outras funcionalidades da cama incluem a facilidade de acesso às vias aéreas, realizar pequenos procedimentos invasivos e banho com água corrente no local. A movimentação dos prismas também realiza tração de fêmur e fisioterapias focadas. O equipamento ainda pode realizar inspeção em HD, ultrassom e ciclos de massagem cardíaca. 

A ideia é do médico intensivista Marcio Ronaldo Gonçalves e do cirurgião oncológico Leonardo Arnoni, que sentiram a necessidade de inovar para melhorar as condições de pacientes acamados em UTI e ajudar no trabalho de equipes multidisciplinares. “Não existe nada parecido no mundo. Pensamos em um leito robótico a partir do conceito de esteiras, de rolamento do paciente. De início, pensamos em cilindros, depois em formas triangulares”, conta Gonçalves. 

Com a ideia no papel, os sócios procuraram o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para desenvolver o protótipo. O resultado veio depois do trabalho realizado com dez engenheiros durante um período de cerca de três anos, interrompido durante a pandemia. “Tivemos ajuda para desenvolver a versão atual do protótipo de testes clínicos que estão acontecendo. Pelos resultados preliminares, temos visto que a movimentação dos prismas em baixa velocidade e alternando pontos de pressão, de fato, evitam o surgimento de escaras”, diz Gonçalves. 

A patente brasileira já foi conquistada e será iniciado o processo em busca da patente internacional. Para terminar a prototipagem final antes da testagem em grandes hospitais, estão em curso negociações com duas grandes indústrias. O objetivo é que até o fim do ano, 20 protótipos funcionais estejam em operação em hospitais no Brasil – a autorização nos órgãos reguladores será solicitada na etapa final de desenvolvimento do leito.

O custo do equipamento é alto, tendo em conta que o protótipo foi construído com recursos dos sócios. “A necessidade deste tipo de produto é grande. Os problemas em UTI são universais. Só os Estados Unidos gastam R$ 10 bilhões por ano em tratamento de escaras. Essas lesões ainda aumentam a mortalidade”, contrapõe Gonçalves. 


Arquitetura e design


Diogo Veluza, arquiteto e CEO do Collection, plataforma com faturamento milionário que dobra de tamanho a cada ano e é usada por 30 mil profissionais

Na área da arquitetura e do design, há menos de três anos nasceu em Maringá o Collection, uma plataforma que permite aos profissionais utilizar itens reais em seus projetos. A ideia deu tão certo que o faturamento milionário da empresa dobra a cada ano. A solução já tem cadastrados mais de 30 mil profissionais, alcançou 1,6 mil cidades em todos os estados do Brasil, chegou a dez países e possui 1,5 mil acessos diários. Por mês, são registrados 5.793 usuários e mais de 12 mil projetos.

Os resultados deixam evidente que a startup preenche uma lacuna ao oferecer um plug-in para programas de projetos com uma biblioteca de mais de dez mil materiais que existem nas lojas e memorial descritivo totalmente automático, lançado recentemente. Ou seja: com a solução, os profissionais passam a projetar com produtos disponíveis no mercado e não mais com objetos genéricos em 3D; e com a automatização do memorial descritivo, não precisam fazer a listagem manual de item por item usado no projeto. 

A inovação surgiu a partir de uma iniciativa anterior, que propõe a lojas de acabamentos um simulador para apresentar aos clientes os materiais aplicados. É que com a catalogação de revestimentos e outros itens, a empresa viu uma oportunidade de facilitar o trabalho de arquitetos e de designers. “Tínhamos uma grande biblioteca e notamos que isso poderia ser usado não apenas pelas lojas de acabamentos, mas por profissionais que oferecem projetos completos. Ampliamos a biblioteca e as funcionalidades para que os projetos se tornassem realistas, favorecendo a semelhança entre a proposta e a execução”, conta o arquiteto e CEO, Diogo Veluza. 

Da equipe formada por 25 pessoas, seis se dedicam exclusivamente à catalogação de produtos como revestimentos de pisos e de paredes, louças, metais, mesas, cadeiras, decoração, entre outros. “Nascemos como um protótipo, aprendemos no caminho, tivemos apoio da Evoa Aceleradora, do Sebrae e de outros atores do ecossistema e ganhamos escala. Por isso, temos o objetivo de colaborar com o crescimento de parceiros, sabendo que entre 80% e 90% dos escritórios de arquitetura no Brasil têm até cinco pessoas e que a profissionalização pode ser um desafio”, acrescenta Veluza. Ele revela que para os próximos capítulos da jornada, a intenção é alcançar o cliente final, com funcionalidades para orçamentos e compra de produtos.


Mercado internacional


Malu Romancini é advogada e sócia da startup Glocal, que oferece solução para quem quer importar e exportar; depois do alto investimento, startup começou a faturar

Com o objetivo de conectar todas as pontas do mercado internacional, a Glocal foi lançada em julho de 2022 depois de participar do programa de desenvolvimento de ideias que ocorre no Inovus, ambiente de inovação que funciona na ACIM com apoio de parceiros como Sicoob, Sebrae e Evoa Aceleradora. O serviço oferecido pela startup é voltado para quem quer importar e exportar.

“A empresa que quer acessar o mercado internacional  procura um despachante que faz apenas parte do processo. O contrato de seguros, a procura de fornecedor ou de comprador fora do país e outros detalhes são feitos à parte. Buscamos resolver essas necessidades em um lugar só, com uma solução completa”, conta Malu Romancini, advogada e sócia da startup junto a profissionais que possuem experiência no ramo. 

Foi durante a passagem pelo Inovus que Malu e os sócios fizeram a primeira versão da plataforma, que entrega as soluções para o comércio internacional de forma automatizada. O investimento no software foi realizado por meio de um programa disponibilizado aos participantes do Inovus, o Sebraetec, que subsidia até 70% de custo com inovação. 

Segundo Malu, depois de testar a primeira versão, os sócios estão trabalhando em melhorias para a segunda versão. “Conseguimos fazer orçamento na hora para cotar câmbio, despachante... temos tudo tabelado. Alguns itens ainda não conseguimos imediatamente, mas conseguimos mais rápido do que da forma tradicional. Queremos reduzir o custo para o cliente e agilizar o processo por meio de tecnologias, links com órgãos governamentais, blockchain para validação de documentos, geração automatizada de documentos. No futuro, queremos incluir sistemas de bancos”, explica. 

Malu ressalta que o investimento no sistema foi alto e a startup começou a faturar há pouco tempo. A ideia é pleitear uma vaga em um ambiente de aceleração para fazer o negócio crescer. “Já temos clientes e estamos fazendo parcerias para oferecer os serviços da maneira estratégica”, ressalta.

Apoio para desenvolver novidades


Adilson João Jenck, do Instituto Senai: “uma ideia pode trazer inovação para uma região, estado, país sem ser necessariamente inédita. Inovação também é uma questão de cultura organizacional”

Segundo o facilitador de inovação do Instituto Senai de Tecnologia em Metalmecânica, Adilson João Jenck, o conceito do que é inovador foi ampliado e não está mais restrito a iniciativas inéditas ou exclusivamente tecnológicas. “Uma ideia pode trazer inovação para uma região, estado, país sem ser necessariamente inédita. A sociedade pode ganhar com isso se a ideia foi escalonada e capitalizada, se o produto ou processo possuir um diferencial competitivo que vai gerar mais riqueza para a comunidade. A inovação também é uma questão de cultura organizacional”, observa. 

Nesse sentido, Jenck entende que os empreendedores têm oportunidades de aproveitar o apoio oferecido pelo ecossistema de inovação, cujos atores podem aprofundar conexões para atrair interessados. O Senai, por exemplo, tem institutos que oferecem pesquisas, estudos de desenvolvimento de materiais, suporte para a criação de protótipos para empreendedores e empresas de qualquer tamanho.

No Instituto Senai de Tecnologia em Metalmecânica estão disponíveis equipes técnicas multidisciplinares para ajudar a tirar projetos do papel, a validar e a melhorar protótipos – entre as ideias abraçadas pelo instituto em Maringá estão um secador de erva-mate, o leito hospitalar robótico e tecnologia avançada para colheitadeiras. São designers, engenheiros das áreas mecânica, eletrônica, mecatrônica, eletroeletrônica e outras que se envolvem no desenvolvimento da solução de acordo com a expectativa dos empresários. 

“Apoiamos ideias que possuem potencial de ganhar mercado. É possível acessar esse suporte por meio de contrato direto ou por meio de editais de fomento, alguns com poucos inscritos. São serviços que estão disponíveis para ajudar o mercado e beneficiar a sociedade, basta ficar de olho e inscrever a iniciativa”, diz Jenck.