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Paixões que carregam histórias,  lições e legados

Paixões que carregam histórias, lições e legados

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César Bodan, da Thermo Tech, é dono de uma coleção de 2,8 mil carrinhos da Hot Wheels
O colecionismo é uma prática que vai além de acumular itens: é uma forma de preservar histórias, reviver momentos e expressar paixões. E há colecionadores que fazem dessa atividade um reflexo de suas trajetórias empresariais e pessoais.

César Bodan, dono da Thermo Tech, empresa especializada em refrigeração de transporte, é um exemplo. Ele é aficionado por miniaturas de carros: os modelos Hot Wheels na escala 1:64. A coleção, que começou como um presente para o filho, se transformou em paixão, refletindo sua personalidade e olhar atento ao detalhe. “Comecei a coleção há 19 anos, quando meu filho ainda era bebê. Na época eu queria presenteá-lo e escolhi os carrinhos da Hot Wheels. Me lembro que desde novo tive ligação com carros, sempre acompanhei Fórmula 1 e corridas em geral. E tinha o hobby de colecionar desde criança. Comecei com tampas de garrafa, latinhas de cerveja e cartões telefônicos. No caso dos cartões tenho até hoje, mas meu foco e paixão mesmo são os carrinhos da Hot Wheels”, conta.

Bodan possui uma coleção de cerca de 2,8 mil carrinhos. “O design das miniaturas é fascinante. Tem peças raras, edições limitadas e colecionáveis. Cerca de 50% da coleção é de séries limitadas que comprei em lojas especializadas nos Estados Unidos ou de vendedores desse nicho. A cada edição, uma nova história se desenrola. Conecto-me com cada uma de um jeito único”, compartilha.

Mas ele trata a coleção de forma leve, como um hobby. Bodan destaca, inclusive, o quanto essa prática o ensina a ser organizado, disciplinado e atento aos detalhes, características que ele leva para a vida profissional. “A coleção reflete meu jeito de ser como empresário. O colecionismo é uma forma de aplicar as qualidades no trabalho, como organização e dedicação, de uma maneira prazerosa. Eu me sinto realizado cada vez que consigo encontrar uma miniatura rara, uma edição limitada ou quando vem um cliente e gosta da coleção. Tenho até colaboradores que também colecionam”, explica.

Ele participa de encontros e grupos de colecionadores, onde troca experiências e adquire peças. “O colecionismo tem uma conexão muito forte com o universo empresarial. A troca de informações e o network são parte fundamental disso”, revela.

 

Viagem no tempo



Endocrinologista Sidney Senhorini tem 20 carros antigos, entre eles um Monza que o pai precisou vender e anos depois o médico conseguiu recomprar “num estado deplorável”
O médico endocrinologista Sidney Senhorini é apaixonado por carros antigos. Começou a coleção há 13 anos com a compra de um Escort XR3 conversível 1995, que foi a materialização de um sonho. “Não tinha a mínima condição financeira à época de juventude. Como diz Lô Borges, na canção ‘Clube da Esquina 2’: ‘sonhos não envelhecem’. Então, nunca é tarde para realizarmos”, conta.

Desde então, sua coleção só cresceu. Hoje são 20 carros, todos com histórias que vão além da função de transporte. Entre eles, alguns dos modelos icônicos dos anos 80 e 90. “Naquele tempo, época de importações fechadas no Brasil, modelos como Gol GTI, Escort XR3, Ômega, Opala conquistavam o imaginário de jovens como eu, que sonhavam um dia andar nessas máquinas”.

Para Senhorini, a coleção vai além do simples ato de colecionar. Ele vê os carros como máquinas do tempo que o conectam ao passado, com momentos importantes de sua vida, como o Monza SL/E 1990 que foi comprado zero-quilômetro pelo pai. “Foi o carro em que aprendi a dirigir. Ele foi dado como parte de pagamento no apartamento que minha mãe mora até hoje, e por mais de 20 anos fiquei sem ver o carro. Até que há seis anos, estava sendo vendido em um estado deplorável. Comprei, restaurei e dei o carro de presente para meu pai no aniversário dele. Hoje saio com meu filho de dez anos ouvindo as mesmas músicas que tocavam na rádio quando o carro era novo”.

A relação com o passado e com as memórias familiares é uma constante. Ele coleciona carros que marcaram sua infância, como Passat e Escort XR3. “Hoje tenho dois exemplares, um deles exatamente igual ao que meu pai tinha”. E também os usa regularmente. “É para usar, rodar, fazer amigos, contar histórias. Carro parado não conta história. Experimente chegar a um posto de gasolina a bordo de um deles, logo um frentista será seu amigo. Eu chamo isso de ‘máquina de fazer amizades”, brinca.

A pandemia mudou o cenário do mercado de carros antigos. “Os preços subiram às alturas. O Gol GTI, por exemplo, chegou a ser vendido por R$ 150 mil. Então, é um hobby que tem se tornado mais caro, mas que também pode ser uma possibilidade de negócios”, salienta ele, que participa de encontros e explica que o lema do antigomobilista é pagar parcelado.

A coleção é mantida em um barracão onde também é feita a manutenção dos carros com a ajuda de profissionais especializados, como funileiros e mecânicos.

 

Mais que xícaras de café



“Colecionar xícaras é mais do que ter um acervo. É começar o dia lembrando de uma viagem, de um encontro, de um gesto de carinho”, comenta a dermatologista Fabíola Tasca 

Na clínica da dermatologista Fabiola Tasca, o cuidado vai além da pele. Entre consultas e tratamentos, pacientes se encantam com uma coleção de mais de 300 xícaras de café e chá dispostas entre o consultório e a casa da médica. O acervo tornou-se símbolo de acolhimento, memória afetiva e conexão com a arte, a história e as pessoas.

“Minha paixão por colecionar xícaras começou quando, há mais de 30 anos, fui para Curitiba prestar vestibular. Passeando pela cidade com meu pai, entrei em um antiquário e me apaixonei por uma porcelana asiática. A peça está comigo até hoje e marcou o início de uma paixão”, conta.

A coleção foi expandindo com peças garimpadas em antiquários, souvenires de viagem e presentes de pacientes e familiares. Uma das xícaras mais antigas data de 1728; outra é da tradicional loja britânica Fortnum & Mason, conhecida por receber a realeza inglesa. Entre as mais simbólicas, uma relíquia herdada da tia-avó e uma xícara adquirida durante visita ao Castelo de Neuschwanstein, na Alemanha.

“Colecionar xícaras é mais do que ter um acervo. É uma forma de ritual, de conexão. É começar o dia lembrando de uma viagem, de um encontro, de um gesto de carinho. Durante a pandemia, por exemplo, olhar para minhas peças antigas, que atravessaram guerras e pandemias, me deu forças para seguir”.

O gesto de servir café em porcelana também carrega um propósito afetivo e profissional. “Acredito que recepcionar amigos, parentes e pacientes com uma xícara de café é uma forma de fazê-los se sentirem acolhidos e especiais”, afirma.

Fabíola lembra com carinho de uma paciente que, ao se mudar para um apartamento menor, a presenteou com um jogo de xícaras japonesas herdado da mãe. “Ela me disse que queria que as peças fossem cuidadas com carinho, pois haviam sido usadas em momentos especiais da vida da mãe. Foi uma honra”.

Fabíola é estudiosa do universo das xícaras. Em 2024, participou do evento Café On, onde expôs parte do seu acervo. No mesmo ano conheceu o processo de fabricação da marca europeia Ginori. Entre suas preferidas, estão as francesas de porcelana Limoges, conhecidas pela delicadeza e capacidade de manter o café aquecido, e recentemente passou a valorizar também as cerâmicas brasileiras feitas artesanalmente, que carregam rusticidade e identidade cultural.

“Depois da medicina, minha paixão é estudar história, arte, café e nisso entra o universo das xícaras, que fazem uma conexão entre passado, presente e futuro. Já fiz networking por causa desse hobby. É uma forma genuína de socializar, de aprender e de se conectar com as pessoas e outros povos. Seja uma amizade, uma parceria ou até uma conversa difícil, tudo pode começar com uma xícara de café”, finaliza.