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Cooperativas e empresas moldam futuro da geração limpa

Cooperativas e empresas moldam futuro da geração limpa

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Michel André Felippe Soares, da Coer: “cooperativa constrói usina e distribui os créditos de energia. Assim, mesmo quem mora em apartamento ou não tem espaço físico, pode usufruir”
Energia solar é sinônimo de economia, sustentabilidade e independência energética. E mesmo com a entrada em vigor do Marco Legal da Geração Distribuída (Lei 14.300/2022), chamado “taxação do sol”, que alterou as regras de compensação da energia gerada, o setor não mostra sinais de desaceleração. Pelo contrário: cooperativas e empresas relatam crescimento na procura, impulsionado pelo aumento das tarifas convencionais e busca de soluções sustentáveis. O Brasil tem quase 4 milhões de sistemas conectados à rede de distribuição de energia elétrica, sendo que quase 80% são de usinas de consumidores residenciais, conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As placas solares representam quase um quinto da capacidade de energia instalada no país.

Em Maringá e região, o modelo cooperativista tem se consolidado como forma de democratizar o acesso à energia limpa. Segundo o presidente da Cooperativa de Energias Renováveis (Coer), Michel André Felippe Soares, a lógica é simples: “em vez de cada pessoa instalar painéis solares individualmente, a cooperativa constrói uma usina central e distribui os créditos de energia entre os cooperados. Assim, mesmo quem mora em apartamento ou não tem espaço físico, pode usufruir da energia solar”.

A Coer, sediada em Maringá e com usinas em diversas cidades do Paraná, reúne centenas de cooperados. Soares explica que o modelo de geração compartilhada elimina uma das maiores barreiras ao acesso à energia limpa: o alto custo inicial de instalação. “O cooperado não precisa investir em equipamentos nem se preocupar com manutenção. Ele apenas paga uma taxa de adesão e começa a receber os créditos de energia na conta de luz. É simples, sustentável e sem burocracia”, afirma. 



João Paulo Fagundes, da Sinergi, que conta com 67 usinas e atende cerca de 7 mil unidades consumidoras 
Mas o cenário mudou um pouco após a Lei 14.300, que passou a cobrar gradualmente pelo uso da infraestrutura da rede elétrica, a chamada tarifa Fio B. “Antes a compensação era de 1 para 1: cada quilowatt gerado e injetado na rede virava um crédito integral. Agora há uma cobrança progressiva pelo uso da rede, mas o impacto ainda é moderado”, explica. Segundo ele, a energia solar segue vantajosa, e o retorno para o consumidor continua significativo, especialmente quando o projeto é coletivo, como nas cooperativas.

Quem confirma a força desse modelo é o vice-presidente da Sinergi Cooperativa João Paulo Fagundes. Em funcionamento desde 2019 e primeira cooperativa de energia solar do Paraná, a Sinergi atende cerca de sete mil unidades consumidoras e segue em expansão. “Mesmo com as novas regras, a procura se manteve alta. Os consumidores entenderam que a energia solar é um investimento inteligente, que traz economia e sustentabilidade”, afirma.

Fagundes ressalta que o modelo cooperativo facilita o acesso à tecnologia: “o cooperado não precisa ter imóvel próprio nem espaço no telhado. Ele participa da geração coletiva e recebe o benefício direto na conta de luz. Além disso, não há custos com manutenção ou riscos técnicos. É um formato seguro, colaborativo e acessível.” 

Segundo Fagundes, a cooperativa conta com 67 usinas, sendo 62 de 75 kW de potência instalada, uma de 150 kWp, uma de 300 kWp e três de 1 mWp, que entregam média de geração de 1,3 GW/h mensal. “Todas as usinas são de propriedade dos cooperados, que fazem a locação para a cooperativa”, explica.

Com relação à “taxação do sol”, ele reforça que o impacto é pequeno quando o projeto é bem estruturado. “Para quem entrou antes de 2023, as regras foram mantidas. Já os novos cooperados têm uma pequena cobrança pela utilização da rede, mas o benefício ainda é expressivo. A queda nos preços dos equipamentos ajudou a equilibrar o cenário”, explica.

Para os cooperados da Sinergi, a economia gira entre 20% e 32% na fatura mensal, dependendo da bandeira tarifária. “É uma economia real, com respaldo técnico e jurídico. E o mais importante: não há investimento inicial. É a união de pessoas gerando energia limpa e colhendo resultados”, acrescenta.

 

Vale a pena?


“Nunca foi tão vantajoso investir em energia solar quanto agora”, fala Leonardo Aurélio Varizi, da Helius Engenharia, que instala, em média, 15 sistemas mensais
Além das cooperativas, as empresas especializadas em energia solar reforçam que o setor segue promissor. O engenheiro Leonardo Aurélio Varizi, sócio da Helius Engenharia, afirma que “nunca foi tão vantajoso investir em energia solar quanto agora”. Ele explica que a energia convencional segue em alta, o que torna a energia solar uma proteção contra as oscilações tarifárias.

“Para empresas, é uma decisão estratégica: reduz custos fixos e aumenta a competitividade. Para o consumidor residencial, é uma forma de ter até 90% de economia na conta de luz e valorizar o imóvel”, afirma. O retorno do investimento varia de três a seis anos, com vida útil superior a 25 anos. Para uma família de quatro pessoas que consome R$ 500 por mês, o investimento é a partir de R$ 12 mil.

Segundo o engenheiro, o avanço tecnológico também é um atrativo. “Os novos painéis com células tipo N, como a tecnologia TOPCon, e os painéis bifaciais aumentam a geração de energia. Já os inversores híbridos permitem conexão com baterias, abrindo caminho para autonomia energética total. O futuro é a combinação entre geração, armazenamento e mobilidade elétrica”, detalha.

Varizi conta que realiza em média 15 projetos mensais para aproximadamente 40 orçamentos com visita no local. Ele cita exemplos de clientes que obtiveram resultados expressivos. “Uma padaria em Maringá reduziu a conta de R$ 4 mil para a taxa mínima da concessionária, economizando mais de R$ 45 mil por ano. Já uma família que gastava R$ 900 mensais passou a pagar cerca de R$ 100”, conta. No caso desta família, o investimento foi de R$ 20 mil. Já a padaria investiu R$ 80 mil.


União



“Estamos construindo soluções que integram geração própria e gestão inteligente de energia”, explica Alexandre da Silva Pereira, da Frontiertec, sobre o Núcleo de Soluções em Energia
Outra frente importante para o fortalecimento do setor vem do Núcleo de Soluções em Energia, criado dentro do Programa Empreender da Acim. Segundo o empresário Alexandre da Silva Pereira, da Frontiertec Geradores, o grupo nasceu do desejo de unir empresários do segmento para compartilhar experiências e desenvolver projetos conjuntos. “O núcleo tem oito empresas e busca impulsionar a inovação no setor. Acreditamos que a troca de experiências entre empresas, universidades e poder público é essencial para preparar Maringá para o futuro energético”, explica.

Pereira destaca que o núcleo discute projetos voltados à energia limpa, armazenamento e eficiência. “Estamos construindo soluções que integram geração própria e gestão inteligente de energia. Além disso, queremos conscientizar a comunidade de que sustentabilidade e economia podem andar juntas”, afirma.

Na visão dele, as cooperativas têm papel decisivo na popularização da energia solar. “Elas democratizam o acesso, permitindo que pequenos consumidores participem da transição energética. É um modelo que estimula o senso de comunidade e fortalece o ecossistema local”, ressalta.

Cooperativas e empresas apontam para um futuro em que produzir a própria energia será mais comum e necessário. “A energia solar não é apenas um investimento financeiro. É uma escolha consciente, que representa autonomia, sustentabilidade e um passo decisivo rumo ao futuro que queremos construir”, diz Varizi.

 

IPTU verde

Para quem busca mais incentivo, a Prefeitura de Maringá mantém o programa IPTU Verde, que concede descontos de 3% a 20% no imposto predial para imóveis que adotam práticas sustentáveis, entre elas, a instalação de sistemas de energia solar. O benefício deve ser solicitado no ano anterior, via Sistema Eletrônico de Informações (SEI), e o desconto para energia solar pode chegar a 11%, desde que o sistema seja responsável por pelo menos 20% do consumo da residência. Segundo a prefeitura, o prazo para 2026 terminou em 14 de agosto.