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Um ambiente sadio para as gerações Y e Z

Um ambiente sadio para as gerações Y e Z

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Conhecer potencialidades e limitações de cada geração é o caminho para aparar arestas e focar em resultados

Quando terminou a graduação em Química, Ana Paula Bonini, hoje com 35 anos, chegou ao mercado de trabalho cheia de vontade de fazer a carreira decolar. Com foco em atuar na indústria, o primeiro emprego foi em uma usina de cana-de-açúcar, onde fazia análises de controle de qualidade. Foram quatro anos desempenhando a função, mas o trabalho não lhe trazia satisfação. “Saímos da faculdade com a crença de que vamos conseguir executar o trabalho da forma como aprendemos e acreditamos, mas, de imediato, acaba sendo uma ilusão”, diz.

Disposta a dar outro rumo à vida profissional e encontrar uma ocupação menos mecânica, Ana Paula pediu demissão e retornou para a universidade para cursar outra graduação, Engenharia de Produção. Não demorou até que ela estivesse novamente empregada, desta vez na indústria de confecção, onde fazia planejamento e controle de produção. O trabalho mecânico da experiência anterior foi substituído por um ambiente dinâmico, mas ainda faltava algo para Ana Paula se sentir realizada com o trabalho.

Ao longo da trajetória, ela ainda atuou em um núcleo de pesquisas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mas o contrato era temporário. Quando começou a pandemia, ela teve o contrato de estágio obrigatório da segunda graduação suspenso e decidiu dar outro rumo à carreira. “Por muito tempo tive o sentimento de gastar energia em algo que não condizia com a minha essência, que estava distante daquilo que acreditava. Queria a liberdade de tomar decisões, criar e me dedicar a algo que contribuísse com o mundo e com o meio ambiente”, diz.

Foi organizando as ideias e listando possibilidades que nasceu a Natunabarra Saboaria Artesanal. “Busquei algo que estivesse alinhado aos princípios que acredito: consumo consciente, uso de insumos naturais e respeito ao meio ambiente”, diz. Com o conhecimento adquirido ao longo da trajetória e pouco investimento, Ana Paula criou três produtos, que estão em fase de testes. “São três sabonetes, todos com óleos essenciais, vegetais e extravirgem, além de manteigas naturais”.

Em busca de propósito

A trajetória da Ana Paula reflete parte dos anseios das gerações jovens em relação ao mercado de trabalho. De acordo com o consultor empresarial J. Rodolfo Grou, a geração Y (ou millennials), que compreende os nascidos entre 1980 e 1995 e têm entre 25 e 40 anos, busca um propósito no trabalho que executa. “Em geral, são profissionais que chegam ao mercado com boa formação, pois tiveram oportunidade de estudar e se preparar, também valorizam a qualidade de vida, a flexibilidade, buscam inovação e são focados em resultados rápidos”, diz.

Outro ponto positivo da geração Y é que os profissionais valorizam o compartilhamento e o debate e sabem que o crescimento vem por meio da entrega de resultados. Por outro lado, segundo o consultor, parte dos profissionais da geração Y e também da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010 - com menos de 25 anos) tem dificuldade de ouvir ‘não’ e respeitar hierarquias, isso, em geral, é consequência de uma criação permissiva e com poucas frustrações, já que algumas famílias optaram por dar aos filhos aquilo que não tiveram. “Essas características muitas vezes refletem no desempenho profissional. Alguns acreditam que só pelo fato de terem estudado e se formado merecem cargos e salários altos”.

As gerações jovens também apresentam falta de resiliência e maturidade. “Para alguns, uma cobrança por resultado é motivo de choro e de vontade de pedir demissão”, diz. Além disso, alguns são desatentos e exigem que os gestores deixem as funções estratégicas para auxiliá-los em tarefas simples ou a corrigir erros”.

Para explorar as potencialidades dessas gerações e promover o desenvolvimento integral que favoreça o indivíduo e a empresa, é preciso adotar ações que busquem valorizar o desempenho e as metas cumpridas, para manter a motivação e estímulo dos colaboradores. Outra atitude importante é deixar claro o que é esperado de cada um. “Mesmo que o gestor pareça repetitivo, é preciso falar e lembrar os detalhes, já que as gerações mais jovens tendem a minimizar a relevância”.

Y e Z de alta performance

Aos 31 anos, Eduardo Hikishima comanda uma equipe de 39 colaboradores na Freefaro, empresa que fabrica acessórios para animais de estimação, como coleiras, guias e peitorais. Por lá, a geração Y e Z ocupa quase 90% dos postos de trabalho: são 11 colaboradores da geração Y e 23 da geração Z. O próprio CEO é um millennial, por isso, a cultura organizacional está alinhada ao perfil das equipes. “Somos uma empresa jovem e moderna, e procuramos, por meio de uma gestão aberta e de fácil acesso e comunicação, extrair as potencialidades das gerações jovens”, diz.

Segundo Hikishima, a empresa conta com equipe de alta performance e tem baixa rotatividade. Para isso, ele investe diariamente no relacionamento com os colaboradores. “Os mais jovens precisam constantemente saber se estão no caminho certo, por isso, é fundamental que o gestor esteja disposto a dar feedbacks, mas, sobretudo, é preciso lembrar que a formação de uma equipe produtiva começa na contratação”, afirma. Para o CEO, duas características são fundamentais na hora de contratar: competência e disposição. “O grande benefício de investir em jovens com essas qualidades é que a empresa consegue moldá-los e prepará-los para ascender gradativamente”, diz.

Ao longo da trajetória, Hikishima percebeu que os mais jovens costumam perder o interesse rapidamente, por isso, três estratégias para manter a equipe motivada é desenvolver ações de recompensa e valorização e também ser flexível. “Na empresa temos o ponto eletrônico, mas se alguém precisar chegar mais tarde ou sair mais cedo, tudo bem, ninguém vai olhar de ‘cara feia’, cada um sabe a carga horária que precisa cumprir e os resultados que deve entregar”. Outra característica, principalmente da geração Z, é a valorização da diversidade e, neste quesito a Freefaro busca criar um ambiente de respeito e tolerância. “Aqui todos têm abertura para se expressar. Tatuagens, religião e orientação sexual não são problemas”.

Sem glamour no início

No escritório Medina & Guimarães, que tem sede em Maringá e filiais em Curitiba, Florianópolis e Brasília, as gerações jovens conquistaram espaço com esforço e dedicação. Atualmente a equipe de advogados é formada por 30 profissionais, destes, mais da metade é das gerações Y e Z. De acordo com o sócio José Miguel Garcia Medina, o perfil dos profissionais varia entre os que estão no começo da carreira, com cerca de quatro anos na profissão, passando pelos que cursaram ou estão cursando mestrado ou doutorado, até aqueles que possuem pós-doutorado. “Ainda assim considero que somos um escritório marcadamente jovem”, diz.

Também docente no ensino superior, Medina observa que entre alguns paira a ideia de que na advocacia reconhecimento e boas remunerações aparecem automaticamente. “Sobretudo nas redes sociais, há a transmissão da falsa ideia de que logo após tornar-se advogado o glamour que cerca a profissão aparece como num passe de mágica, o que não é verdade”, diz. Segundo ele, na maioria dos casos é preciso bons anos de investimento pessoal para conquistar espaço e ser bem remunerado.

O imediatismo é uma das características das gerações jovens e, conforme Medina, também precisa ser trabalhado entre os recém-formados. “A maior parte dos advogados vive dos honorários de cada processo, por isso, as remunerações costumam oscilar. Saber lidar com adversidades e ter paciência são características indispensáveis”, diz. Por fim, o advogado recomenda aos profissionais jovens que busquem desenvolver resiliência. “Estude muito, trabalhe duro, de forma séria e honesta. Se não der tudo certo em determinada área, não permita que esse tropeço faça desanimar ou desistir. Levante e siga em frente. Isso tudo, um dia, será reconhecido”, finaliza.