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“O desafio é sempre fazer melhor e se superar”

“O desafio é sempre fazer melhor e se superar”

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Foi por influência do pai, o professor Quirino, que José Armando Quirino descobriu a vocação para a Engenharia Civil. Depois de algumas tentativas de ser aprovado no vestibular para Medicina, ele seguiu o conselho do pai e fez teste vocacional, o que, para sua surpresa, indicou o curso de Engenharia Civil. Nunca havia passado pela cabeça de Zeca Quirino, como é conhecido, trocar Curitiba – a cidade natal – por Maringá, para onde se mudou após ser aprovado na Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 1976. Na sala de aula, conheceu suas duas paixões: Marcela, a esposa há 44 anos, e a Engenharia. Anos depois, em 1989, casados, os dois fundaram a Catamarã Engenharia. 

À frente da construtora, Quirino se notabilizou pela criatividade e inovação de empreendimentos como o Planetarium Tower, Cenarium Residence I e II, Luminum Residence e o Zetta Residence – este último prestes a ser concluído. Inquieto, o engenheiro promete superar suas criações como o recém-lançado Duo Living Complex. “Nossos focos são a evolução e o aprendizado constantes, de forma que o próximo empreendimento seja sempre o melhor, até que possamos nos superar novamente”, diz.  

Na empreitada, além da esposa, o empresário tem a companhia dos filhos Rodrigo e Marcelo, também engenheiros e sócios da Catamarã. Além deles, Zeca é pai de Bruno e Eduardo, ambos médicos, cirurgião plástico e urologista, respectivamente. Tem quatro noras e nove netos. “Sou apaixonado pela minha família”. 

Pela trajetória, Zeca Quirino, que é vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no noroeste do Paraná (Sinduscon/PR-Noroeste), receberá o prêmio Empresário do Ano, entregue pela ACIM, Apras, Fiep e Sivamar a pessoas que se destacam no ramo empresarial. A cerimônia será em 29 de setembro. Confira a trajetória dele:


Como surgiu a Catamarã?

Quando terminei a faculdade, já casado e com nosso primeiro filho, fui para Santa Catarina trabalhar em uma construtora e lá executei a Caixa Econômica de Curitibanos, casas populares em Campos Novos e grande residencial em Blumenau, mas veio a crise e parou o setor. Voltamos para Maringá e fui trabalhar na Metro Engenharia. Trabalhei um ano e meio com rede de água e esgoto e depois fui chamado pela Construtora Design para concluir o Greenville, que era o prédio mais alto do Paraná à época, entregue em setembro de 1989. No dia 14 daquele mês, eu e a Marcela fundamos a Catamarã. Ela era chefe da Divisão de Cadastro da prefeitura e tinha um salário fixo para garantir essa nova viagem. O começo não é fácil, mas desde o início nunca priorizamos o retorno financeiro, isso é consequência. Priorizamos fazer diferente, imprimindo profissionalismo e autenticidade. Começamos com obras para terceiros e públicas. Em 2006, fizemos a primeira incorporação com o Planetarium Tower. Colocamos uma placa enorme em frente informando quantas semanas faltavam para entregar a obra, algo nunca feito na cidade. Na época as lojas de tinta e materiais de construção usavam os tapumes dos edifícios como outdoor do local. Pensei: se é bom para eles, deve ser bom para nós. Então fizemos um tapume onde pintamos o skyline da cidade e enchemos de outdoor com imagens de todas as áreas comuns do empreendimento. Também fizemos o primeiro plantão de vendas da cidade: as pessoas passavam na rua e pelo vidro viam o andamento dos serviços. Quando estávamos para entregar o edifício, chegou em Maringá o primeiro grande player nacional de incorporação. À época, na cidade apenas 10% do mercado de edifícios eram por incorporação (preço fechado). Nossas obras sempre tiveram hora e dia para serem entregues. Este compromisso se tornou diferencial e marca da Catamarã.

 

Como avalia a concorrência das construtoras? 

Quando os primeiros players nacionais chegaram, todo mundo ficou assustado. Porém, para nós, foi um presente. Concorrer com incorporadoras, com qualidade, procedimentos técnicos, preço determinado e prazo estabelecido em contrato - tudo o que já fazíamos - era uma disputa de iguais. Além disto, a chegada destes players inverteu a relação: as obras de preço fechado passaram a representar 80%, enquanto as de preço de custo, 20%. Como não trabalhamos com escala, mas com produtos únicos, não sentimos a concorrência. Tanto que fomos reconhecidos pela gestão, responsabilidade socioambiental e qualidade por meio do Prêmio Sinduscon/PR-Noroeste na categoria Incorporação. Somos a única empresa pentacampeã. 


A Catamarã sempre foi uma empresa familiar ou chegou a ter sócios? 

Não trabalhamos com investidores. Eu e a Marcela começamos o negócio e cada filho que se formou em Engenharia ganhou um percentual da empresa. Como somos transparentes, tudo foi conversado numa reunião com toda família e formalizado.

 

Como é manter uma empresa familiar competitiva?

Na Catamarã exercemos a meritocracia. Meus filhos são sucessores, e dão o melhor para a empresa, enquanto os herdeiros tiram o melhor da empresa para si. Sou amoroso com os filhos, porém, exigente. Meu filho Rodrigo diz que o mandei embora no início, mas, na verdade, sugeri que ele fizesse um curso em São Paulo porque ainda não tinha o envolvimento necessário. Deu certo. Já o Marcelo se formou muito novo. Eu pensei: poxa, como será? É o filho caçula do patrão, responsável pela execução de um grande empreendimento com mais de cem metros de altura e quase 18 mil metros quadrados, apesar da supervisão do irmão, ou talvez por isto, não vai ser respeitado. Mas ele começou a conquistar o respeito quando desceu em todos os tubulões da fundação. Todos entenderam a importância da base, não só na edificação como na vida. Quando a obra do Luminum Residence começou, o Marcelo era o engenheiro residente. Porém, vi que era hora de analisar os perfis de ambos para definir a próxima etapa da empresa, aproveitamento o potencial, talentos e dons de cada um. O Rodrigo, pelo conhecimento profundo de obra, foi promovido a diretor de Engenharia, e o Marcelo, pela criatividade e comunicação, foi promovido a diretor de Marketing e Vendas. Uma frase que ajudou muito este processo foi eu ter entendido que “debaixo de árvore frondosa não cresce nem grama”. Por isso, comecei a me podar, deixando a luz do sol passar para que eles crescessem. 

 

Já pensa ou iniciou a sucessão da empresa?

Nossa sucessão é tão natural que as pessoas se perguntam: qual empresa de consultoria vocês contrataram? Não contratamos ninguém. A gestão da Catamarã é participativa autocrática; ouço todo mundo e depois digo: é por aqui que vamos. Faço a seguinte analogia: o pai que nunca ensinou o filho a andar de bicicleta, dá bicicleta importada de 20 marchas, e diz: agora pode andar, sem o ter ensinado. Desde o começo dei a cada filho uma bicicletinha com rodinhas, ensinei-os a pedalar e disse: o pai está aqui, vão pedalando. Gradativamente fui tirando as rodinhas e continuei correndo ao lado deles. Eles se sentiram seguros e começaram a correr com a bicicleta.

 

Como é ver dois dos quatro filhos seguindo seus passos na carreira?

A Marcela e eu somos engenheiros, ela mais que eu, porque entramos na mesma turma e ela se formou em quatro anos e meio, e eu, em cinco. É um grande prazer e honra ter filhos engenheiros para dar continuidade ao legado da empresa. Lembra que meu pai pediu para eu fazer o teste vocacional? Fizemos o mesmo com os meninos, pois acredito que só tem um jeito de se dar bem na vida: é fazer o que gosta. É bom saber que os meninos vieram para Engenharia porque gostam, e os que foram para Medicina também. Estamos com a missão cumprida, se hoje resolvêssemos parar, a empresa continuaria. Porém, tenho muita lenha para queimar, por enquanto sou o mais criativo e ousado, pela paixão pelo que fazemos e principalmente pela minha fé. Se você perguntar a qualquer filho qual a maior herança que deixaremos, eles dirão só duas letrinhas: fé. 

 

Entre as edificações que construiu, tem uma especial? 

Somos apaixonados por nossa Maringá, que tem como ícone da arquitetura a Catedral Metropolitana, linda nos seus 360 graus. Sempre objetivamos construir edifícios que embelezem a cidade. Participamos de cada detalhe: a escolha do terreno, nome do edifício e arquitetura dos interiores, pois precisa ter o DNA da Catamarã. Construímos lares com respeito para com a cidade e nossos clientes, pois lá eles viverão os momentos mais felizes e também os mais tristes. Hoje nosso “xodó” é o DUO Living Complex, mais um ícone para Maringá, com o qual subimos a régua dos imóveis da região. 

 

Entre tantos compromissos, ainda encontra espaço para trabalho social?

A fé sem obras é vazia. Há 24 anos eu e a Marcela estávamos num acampamento da igreja, e o monitor de uma fazenda de recuperação de dependentes químicos em Franca nos questionou o que faríamos com essas pessoas da nossa cidade. Aquilo tocou nosso coração, apesar de não termos problemas com drogas na família, mas tive amigos de faculdade que morreram por conta disso. Então nos unimos a um grupo e fundamos a Marev - Maringá Apoiando a Recuperação de Vidas. O tratamento de nove meses está fundamentado em três pilares: oração, disciplina e trabalho, tendo atendido centenas de pessoas. Fui presidente da entidade por oito anos e estive à frente da administração. A Marcela atuou na formação dessas pessoas, em encontros semanais, por 16 anos. Hoje colaboramos de forma diferente. Sou aquele cara que quando aperta, eles procuram, sou uma espécie de padrinho. Até hoje encontramos pessoas que passaram por lá e agradecem, dizendo: minha nova vida é uma vida por causa do trabalho de vocês. 

 

Consegue conciliar a vida pessoal com a profissional? 

A partir dos 60 anos você tem decisões mais assertivas e rápidas. Na Catamarã sou mais um conselheiro/consultor do que gestor, porém estou de olho em tudo. Delegar não é entregar, é corrigir a rota quando necessário. Tenho quatro filhos, quatro noras e nove netos. Meus filhos se admiram e se amam. Eu e a Marcela fizemos a nossa parte, porém sem a presença de Deus, seria impossível. E ainda sobra tempo para o golfe, mais uma paixão. 

 

Qual a sensação de ter sido eleito Empresário do Ano?

É uma honra entrar para um grupo tão seleto de nomes que tanto fizeram por Maringá, sendo o 23º Empresário do Ano. É um orgulho para o time Catamarã: família, colaboradores e fornecedores. Na palavra de Deus está escrito: “Confie seus planos ao Senhor e teus negócios terão bom êxito”. Estou sendo homenageado não pela família ou pela empresa, mas por algo muito maior, a fé, que sempre nos capacita.