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Muito mais do que uma embalagem

Muito mais do que uma embalagem

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O processo de criação de uma embalagem envolve pesquisa, análise de mercado e do público-alvo, prototipagem e testes, explica o CEO & CBO da Box Ideias, Raphael Oliveira


Antes do primeiro gole, a Cervejaria Walrus, de Curitiba, conquista os apreciadores de cerveja artesanal pela aparência. Coloridas e bem-humoradas, as latas são uma criação da Box Ideias e renderam à agência maringaense um merecido lugar na Short List Brasil Design Awards 2022, premiação do design brasileiro. 

Além das latas premiadas, o time de profissionais de design da Box Ideias – que conta com quatro colaboradores – assina as embalagens da Smart Fit Supps, linha de produtos da rede de academias Smart Fit. 

“O design da embalagem desempenha papel fundamental no marketing, pois é responsável por atrair a atenção do consumidor, comunicar os valores da marca, diferenciar o produto dos concorrentes, transmitir informações, criar uma experiência visual e influenciar a decisão de compra”, pontua o CEO & CBO da Box Ideias, Raphael Oliveira.

O processo de criação é complexo e começa com a pesquisa e a análise de mercado e do público-alvo. A definição dos objetivos antecede a etapa de criação do design e o desenvolvimento do layout da embalagem.

Depois é feita a prototipagem e testes. E neste momento a tecnologia é aliada, oferecendo ferramentas e recursos de realidade aumentada e rastreamento de dados, por exemplo, que permitem ao designer explorar possibilidades, criar protótipos virtuais, melhorar a eficiência e a precisão do trabalho, bem como oferecer experiências interativas aos consumidores.

Por fim, antes da produção e implementação, as embalagens passam por ajustes. “O processo pode levar semanas ou meses, dependendo da complexidade do projeto, dos requisitos do cliente e dos recursos disponíveis”, explica Oliveira.  

Outra preocupação é a escolha da matéria-prima. Nesta etapa, é preciso considerar a segurança do produto, a compatibilidade com o conteúdo, a viabilidade de produção e a sustentabilidade. 

A bandeira da sustentabilidade, aliás, tem ganhado força. “Os consumidores estão buscando produtos com embalagens de materiais recicláveis ou biodegradáveis”, diz o CEO. Além disso, a preocupação com a igualdade e a acessibilidade tem aberto caminho para embalagens inclusivas. “Uma embalagem pode transmitir uma imagem de qualidade, confiança, inovação e preocupação com o usuário. Além disso, se for funcional e intuitiva, pode melhorar a experiência do usuário, facilitando o manuseio, armazenamento e uso do produto”, pontua.

 

Atraentes e funcionais

Elevados ao papel de protagonistas na proteção à saúde durante a pandemia, os produtos de limpeza e higiene dispararam em vendas. Dados do Sebrae apontam que o setor tem expectativa de alta de 2% neste ano na comparação com 2022.

Com o cenário promissor, novas marcas pegaram carona na tendência. Outras, tradicionais, ampliaram seus portfólios. Destacar-se em meio à miríade de opções nas gôndolas dos supermercados é tarefa árdua e ressignificou a importância das embalagens no setor.



“Temos que deixar claro, de fácil e rápido entendimento o que é o produto, suas funções e os detalhes de como facilitar a vida do consumidor”, diz Giovanni Brescansin Cantagalli, da Crivialli


“O consumidor tem pouco tempo para escolher o produto, consequentemente temos pouco tempo para conquistá-lo. Então temos que deixar claro, de fácil e rápido entendimento o que é o produto, suas funções e os detalhes de como facilitar a vida do consumidor, seja por um diferencial ou facilidade da embalagem”, pontua o gerente de Marketing do Grupo Crivialli, Giovanni Brescansin Cantagalli.

O aspecto visual é crucial para as vendas, devido ao apego da maioria dos consumidores à aparência, mas precisa ir além. Para Cantagalli, também é preciso conquistar o consumidor em casa, garantindo qualidade e facilidade na hora do uso do produto. 

“Consideramos as percepções do mercado e, principalmente, o que o consumidor está preferindo, bem como seus hábitos de consumo. E a partir dessas informações pensamos, por exemplo, o volume ideal do frasco, tipo de material, formato da tampa, até a alça ou tipo de pega. São detalhes que importam”.

Felizmente, segundo ele, a tecnologia contribuiu, oferecendo opções de materiais e formas de projeção assegurando qualidade. Também houve avanços na questão ambiental, favorecendo o reaproveitamento e a reciclagem. De olho nos benefícios ecológicos, a Crivialli prioriza embalagens leves e de materiais reciclados, que favoreçam a economia circular. “Este é um movimento de mercado que está melhorando lentamente, mas ainda temos muito a evoluir no que diz respeito à sustentabilidade das embalagens. O que falta é uma evolução cultural por parte dos consumidores em priorizar produtos ecologicamente corretos”. 

Além disso, o design precisa atender a critérios técnicos e de segurança condizentes à linha de produção, ao produto e à logística, principalmente no caso de empresas como a Crivialli que vendem para todo o Brasil. “Os produtos não podem sofrer avarias no transporte, por isso tanto os frascos quanto as caixas passam por essa análise de design, onde o formato e o tipo de material são importantes. Usamos também embalagens secundárias, que o consumidor não vê, mas que são projetadas para cada tipo de produto com intuito de aumentar a segurança na logística”, diz o gerente.

Não menos importante é o custo, embora a Crivialli não trabalhe com um percentual definido. “O desafio é produzir uma embalagem bonita, com o melhor custo/benefício, compatível com as exigências de qualidade e o mais sustentável”, finaliza.   

 

Bem embaladas e protegidas

No caso da Toli Distribuidora de Autopeças, que está no mercado há 39 anos e tem dez unidades espalhadas pelo Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, a principal preocupação é com a incolumidade dos produtos. 



“O cartão de visita da área da logística é o volume bem-feito e seguro”, diz Everton Sunelaitis Bezerra, da Toli Distribuidora de Autopeças


Para garantir que as peças cheguem intactas aos clientes, o processo de empacotamento segue normas de qualidade da certificação IS0 9001, que a empresa detém desde 2012. 

“Da mesma forma que não abrimos mão de embalagens intactas e adequadas, nossos clientes precisam receber seus produtos com as embalagens corretas e seguras”, afirma o coordenador de Logística, Everton Sunelaitis Bezerra. 

Quando a mercadoria chega à distribuidora, é feita a segregação dos itens e verificado o estado dos produtos e das embalagens primárias dos fabricantes. Na hora de acomodar os itens nas prateleiras, há um limite máximo que é rigorosamente respeitado para evitar danos e avarias. “Usamos uma forma de organização chamada dun. Se as vendas do item costumam ser de 50 peças, por exemplo, montamos uma caixa de 50 unidades para que o operador separe a caixa fechada, ganhando agilidade no processo e melhor acomodação do produto”, exemplifica Bezerra.

Depois de concluída a venda, as mercadorias são empacotadas em caixas de papelão, que podem ser seminovas, usadas ou reaproveitadas. Todas passam por processo de limpeza, que inclui a retirada de eventuais etiquetas, e avaliação para garantir que estejam em condições de transportar o produto em segurança. “No check-out, o operador logístico verifica a caixa adequada ao tamanho para evitar desperdício e enchimento”, explica o coordenador. 

O cuidado é o mesmo na hora de organizar internamente as caixas. Lâminas de papelão são usadas para fechar e rebaixar, se necessário. Peso e volume são observados no momento de empilhar. 

Os espaços vazios são preenchidos com plástico bolha, no caso de produtos frágeis. Alguns itens, devido ao formato, são embalados com filme strecth. Se o pedido tiver cubagem maior, usam-se pallets. 

Uma máquina de airpack, que produz almofadas de ar, ajuda no processo. A empresa também promove treinamentos rotineiramente com a equipe de colaboradores. 

Por fim, a caixa é lacrada com fitas personalizadas e antifurtos e etiquetada, informando o transportador se o volume é frágil.   “Costumo dizer que o cartão de visita da área da logística é o volume bem-feito e seguro. Na venda o cliente tem o contato direto com o vendedor. Na logística o primeiro contato é com o volume”, diz o coordenador.

Além de causar boa impressão, a embalagem correta reduz custos e perdas. “Um pacote mal feito, sem os produtos bem-acomodados, pode chegar danificado ao destino, gerando prejuízo e, principalmente, insatisfação do cliente. É justamente para evitar estes tipos de situações que a empresa investe em treinamentos e processos”, pontua. 

 

Ajuda especializada

Potencializar a performance de empresas por meio da otimização das embalagens pode ser mais fácil com a ajuda especializada, como a da equipe da Forma Futura Design. O escritório de inteligência e estratégia oferece projetos personalizados à realidade e necessidade de cada cliente. 

“Estudamos os formatos e tipos de embalagens e avaliamos as singularidades antes de chegar à embalagem ideal. Também negociamos com fornecedores os contratos e fixamos preço/ano”, explica o diretor da Forma Futura Design, Wiliam Lopes de Oliveira.



Wiliam Lopes de Oliveira: Forma Futura Design aplica questionário para entender a política do cliente e se há compromisso com a responsabilidade socioambiental


Outro ponto importante é analisar o processo fabril para descobrir se as perdas ocorrem por manuseio humano incorreto ou descarte de processo.

Já a escolha do material, segundo Oliveira, depende de uma série de fatores, como o tipo de produto a ser embalado, o nível de proteção, como será estocado e transportado e o nível de inovação pretendido. 

“É feito um questionário e para entender a política da empresa e se há compromisso com a responsabilidade socioambiental em relação às embalagens para aí definir a matéria-prima”, explica. 

Esta, aliás, é uma decisão de impacto nos custos. Se a empresa opta por embalagens recicláveis ou sustentáveis, o custo pode ser alto no início, mas com o decorrer do tempo diminui, principalmente se associado a programas de reciclagem e logística reversa.

Inovação e exclusividade exigem investimento maior, assim como os processos de empacotamento automatizados. Um design de embalagens eficiente pode significar economia também em termos logísticos e garantir a durabilidade dos produtos. “Ela protege o produto durante o transporte e armazenamento, reduz perdas e avarias, facilita o manuseio, permite a codificação para venda e rastreamento dos produtos”, cita. 

Outra razão para investir é o poder das embalagens de atrair os consumidores. “Embalagem é o cartão de visita e uma compra muitas vezes é feita por impulso. O consumidor pega o produto, se não conhece, cria curiosidade, isso representa 50% de uma venda, dependendo do segmento do produto, preço e necessidade”, ensina o diretor.

Ele, entretanto, explica que para cumprir esta função, as informações precisam ser claras, indicando a finalidade do produto, modo de preparo ou uso, entre outros. “Precisa sempre criar conexão com o consumidor”, diz.

Para aumentar o engajamento, Oliveira ainda sugere conectar a embalagem à web por meio de QR Code e investir em inovação como estratégia de diferenciação e vantagem no ponto de venda.