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Geração Z: construção de carreira para além do imediatismo

Geração Z: construção de carreira para além do imediatismo

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Marina Del Mouro, consultora de RH: “reter um jovem da geração Z exige mostrar aonde ele pode chegar, as ferramentas que precisa, reconhecer o que ele está fazendo e orientação sobre o que fazer”


Movida a desafios e novidades, a geração Z chegou ao mercado de trabalho provocando uma necessidade de transformação nas empresas. Conhecidos por serem ligados às redes sociais e terem facilidade com tecnologia, esses jovens costumam ser dinâmicos e proativos. Também valorizam questões sociais e ambientais mais do que seus antecessores. A grande dúvida que paira sobre os atuais líderes é se eles são capazes de construir carreiras sólidas e longas.

O questionamento surge devido à avidez por novidades, uma característica desses jovens nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e o ano de 2010. “A geração Z vem mais focada no ser do que no ter. Enquanto as gerações anteriores lutavam para ter coisas, a Z quer ser algo e ter experiências. Um trabalho só é significativo quando ele se sente participante de um todo”, explica a consultora de Recursos Humanos, Marina Del Mouro, que faz parte do núcleo de RH do programa Empreender, da ACIM.

A especialista avalia que esse jeito dinâmico, que questiona regras e tradições na cultura empresarial, pode causar certo desconforto em quem vem de épocas mais antigas. Mas ela destaca que a condução correta nas empresas e o treinamento dos líderes para que entendam e atendam – dentro do possível – as expectativas desses jovens não só podem contribuir para que eles escolham construir carreiras sólidas como podem trazer inovação, que é uma das forças da geração.



De jovem aprendiz a coordenador de Marketing: em dez anos, Lucas Gonçalves passou por vários cargos no Grupo Amigão, enquanto se preparava por meio de faculdade e cursos

Este é o caso do coordenador de marketing do Grupo Amigão, Lucas Gonçalves, que tem 25 anos. Ele gosta de desafios, é ligado em tecnologia, busca no trabalho um senso de propósito, e mostra que se engana quem acha que um jovem da idade dele não pode querer construir uma carreira e colaborar de maneira sólida com uma organização. Gonçalves está há dez na empresa, onde começou como Jovem Aprendiz. “Aos 15 anos fiquei sabendo de um processo seletivo para Jovem Aprendiz. Queria começar a trabalhar, ganhar meu próprio dinheiro”, lembra. Ele ficou um ano na função, passou por vários setores e foi contratado após o fim do programa. “Fazia funções extras, assumia um caixa enquanto um dos operadores precisava ir ao banheiro, recolhia carrinhos, pegava produtos e até lavei o estacionamento. Tive oportunidade de aprender de tudo um pouco”, relata.

Aos 18 anos, decidiu se inscrever em uma vaga no departamento de marketing. “Tinha certa familiaridade com tecnologia, gostava do assunto, até fazia anúncios para lojas online. Na entrevista para a vaga percebi que me encaixava na função e me tornei assistente de marketing”, relata.

Nessa época Gonçalves criava os folhetos que ficam na entrada das lojas do supermercado. Ele trabalhava durante o dia, e à noite fazia cursinho pré-vestibular com a intenção de cursar Administração na Universidade Estadual de Maringá. A aprovação veio, ele começou a faculdade e procurou capacitações em ferramentas úteis na área de design. 

O setor seguia em crescimento e por ter se preparado, Gonçalves recebeu a missão de fazer a padronização de design do grupo. Na função, percebeu que tinha facilidade de fazer o trabalho e concluía as tarefas antes do esperado. No tempo que sobrava, começou a estudar marketing digital, que ainda não estava estruturado na empresa.

A dedicação garantiu que ele fosse promovido à analista de publicidade, função que o colocou responsável pelas campanhas e o relacionamento com agências para aprovação de peças. Nos três anos de dedicação ao cargo, começou a trabalhar o conteúdo das redes sociais do grupo, o que garantiu uma promoção para supervisor de marketing, e no fim de 2022 foi convidado a ser coordenador do setor. “Já recebi propostas para sair e não quis. Eram todas parecidas com o que tenho hoje: mesmo cargo, mesmas demandas, preferi ficar onde conquistei credibilidade, conheço os processos e com espaço para fazer mais”, enfatiza.

Gonçalves acredita que se não tivesse buscado se capacitar e estudar, não teria conseguido chegar ao cargo e aconselha os jovens a procurar estudar assuntos com os quais tenham afinidade. O coordenador comemora a trajetória que oportunizou também conquistas na vida pessoal, já que comprou casa, carro e se casou. 

“Tenho seguido uma trajetória legal, e quero crescer mais, ser gerente, quem sabe um diretor. O objetivo é sempre evoluir”, conclui.

 

Desafio para as empresas

Para quem acha que só de tecnologia vivem os nascidos na primeira década do século XXI, a consultora Marina traz outra perspectiva. “Esses jovens estão inseridos no universo da tecnologia, mas não significa que todos queiram trabalhar na área. Observamos, inclusive, um resgate de profissões antigas, algumas consideradas em extinção como crocheteira ou desenhista à mão. O que eles realmente querem é se sentir produtivos”, analisa.


Marina confirma que é uma geração imediatista e que sofre de certa falta de paciência para as etapas do crescimento profissional. “O segredo para lidar com um jovem da geração Z é mostrar as possibilidades que pode ter na organização e o resultado do que ele faz. É importante a compreensão de onde ele se encaixa”, explica.

Nesse contexto a consultora reforça a necessidade de que as empresas se preparem, capacitem os líderes antigos e entendam o conflito de gerações que eventualmente pode surgir. “Reter um jovem da geração Z exige mostrar aonde ele pode chegar, as ferramentas que precisa, reconhecer o que ele está fazendo e orientar sobre o que fazer”, enfatiza.

 

Capacitação é fundamental

O jovem da geração Z quer desafios e precisa estar adequadamente capacitado para enfrentá-los. Foi buscando conhecimento que o gerente de projetos André Alessandro Feltrin cresceu na empresa de tecnologia onde trabalha há 13 anos, a Be Resolution. Ele é da geração anterior, a Y, também conhecida como ‘millenials’, que compartilha valores, visões de mundo e até um pouco da impaciência característica dos integrantes da Z.



André Alessandro Feltrin trabalha há 13 anos na Be Resolution, onde começou implantando sistemas: “fui me especializando, adquirindo conhecimento”

A trajetória de Feltrin tem elementos comuns aos jovens que estão chegando ao mercado. Ele trabalhou com o pai no sítio, foi instrutor de projeto técnico para alunos de uma universidade e atuou em uma empresa que fazia molduras para quadros. Tudo isso até os 19 anos. Com essa idade também cursava Ciências da Computação e fazia estágio na área. A caminhada na atual empresa começou com a função de implantador de sistemas e depois coordenador de suporte. “Entrei na empresa com certa experiência em banco de dados, o que facilitou, mas também fui me especializando, adquirindo conhecimento. Busquei saber mais sobre a parte organizacional de uma empresa, comportamento, gestão de projetos e isso foi contribuindo para meu crescimento até chegar em um ponto onde senti a necessidade de buscar certificação mundial na área de gestão de projetos, que é o PMP (Project Management Professional) pelo Project Management Institute (PMI), o que exigiu estudo e comprometimento”, relata.

Ele acredita que os problemas do dia a dia de uma empresa podem ser vistos como desafios para inovar e criar soluções, tão procurados pela geração Z. “Claro que depende do segmento e do cargo, mas se o jovem tem abertura para algumas situações na empresa, possivelmente conseguirá criar formas de trabalhar e gerar outras formas de desafios”, reforça.

 

Admiração pela empresa

Se crescer rápido na carreira é um objetivo para a geração Z, é importante esses jovens saberem que o crescimento é possível, mas vem acompanhado de desafios. E a carreira da gerente da joalheria Bergerson de Maringá, Keila Campos, atesta isso. Ela entrou no grupo em 2012 e um ano depois foi convidada a assumir a gerência.

“O convite foi uma surpresa e ao mesmo tempo um desafio. Assumi uma loja de uma marca conhecida com uma equipe mais antiga, pessoas que tinham de quatro a sete anos na empresa, e começava ali a jornada de moldar essa equipe, para extrair o melhor de cada colaborador. Hoje posso dizer que colhemos os frutos desse trabalho árduo dos primeiros anos”, relembra.



Keila Campos, da Bergerson: “um colaborador que fala bem, que olha nos olhos e tem firmeza nas informações normalmente sai na frente. E isso só é conquistado por quem se capacita de verdade”

Ao longo da jornada profissional, Keila vivenciou êxitos e teve resultados financeiros importantes. Além de alcançar objetivos pessoais, ganhou viagens e prêmios. A gerente conta que por trabalhar tanto tempo em uma mesma organização ficou conhecida e recebeu outras propostas de trabalho. “O que me faz ficar é que acredito ser necessário trabalhar com aquilo que me faz brilhar os olhos, admirar a empresa onde trabalho e ver o quanto o grupo é comprometido com os colaboradores”, ressalta.

Como dica para as novas gerações, ela compartilha o que sempre expõe para a própria equipe sobre não se acomodar na busca por conhecimentos e reforça o quanto a boa comunicação é essencial. “Invista na qualidade da comunicação, da persuasão e da postura profissional. Um colaborador que fala bem, que olha nos olhos e tem firmeza nas informações normalmente sai na frente. E isso só é conquistado por quem se capacita de verdade”, conclui.