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Veganismo é um bom negócio

Veganismo é um bom negócio

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Luiz Paulo Sacoman Almeida, do Maringá Vegano: quando o primeiro guia com indicações para veganos foi lançado, em 2014, eram cinco estabelecimentos na cidade, hoje são mais de cem

No prato, nas roupas, nos cuidados com a beleza, com a higiene pessoal, com a limpeza da casa... nada de origem animal! Se parece difícil manter o estilo de vida que tem por objetivo combater a exploração contra os animais e incentiva hábitos de consumo sustentáveis, o mercado maringaense ajuda a desfazer essa impressão, com um número crescente de empreendedores apostando no mercado vegano.

É isso o que observa o professor de geografia Luiz Paulo Sacoman Almeida, fundador do Maringá Vegano. Ele conta que em 2012, ano em que a organização não governamental foi criada para aproximar adeptos e fortalecer o veganismo na cidade, as opções eram escassas. Tanto que o grupo só criou um primeiro guia com indicações para veganos em 2014. Menos de dez anos depois, a lista saltou de cinco para mais de cem opções. 

O guia tem lojas de produtos naturais, cosméticos, perfumes, restaurantes, lanchonetes, bares e outros. A maior parte dos estabelecimentos foi incluída no guia nos últimos dois anos. Uma das explicações, para Almeida, é a onda de consumo consciente que ganhou força com a pandemia, quando aumentou a percepção das pessoas sobre o impacto de escolhas individuais. 

“Temos focado nas indicações, fazemos piquenique vegano em parques da cidade para o público em geral. Fizemos churrasco vegano com a participação de mais de 150 pessoas. Com a pandemia, focamos no conteúdo digital e as novidades têm surpreendido”, diz Almeida. 

Uma pesquisa encomendada pela ONG junto ao Departamento de Pesquisa e Estatística (Depea), da ACIM, atesta que o mercado vegano local está aquecido e que existem oportunidades de negócios. Entre 411 pessoas entrevistadas no centro de Maringá, em dezembro de 2021, metade afirmou que reduziu de alguma forma o uso de derivados de animais nos últimos 12 meses. Mais de 85% afirmaram acreditar que as opções veganas são mais saudáveis e 72% disseram crer que as opções do tipo são mais sustentáveis. O levantamento mostrou ainda que quase 25% gostariam de reduzir o uso de produtos de origem animal e que 33% não reduzem por falta de conhecimento. 

“Alguns creem que ser vegano é caro, mas um prato com alimentos de origem vegetal é acessível: arroz, feijão, refogado, salada e carne de soja. Os que mais custam são alimentos que tentam imitar os de origem animal, como queijos e hambúrgueres. A indústria desse tipo de produto ainda é pioneira, falta concorrência, por isso fica mais caro, mas isso está mudando”, comenta. 

Almeida destaca que não apenas as pessoas que seguem o estilo de vida vegano são consumidores do mercado. Há as alergênicas ou que precisam seguir dietas especiais e as flexitarianas, aquelas que reduzem o consumo de carne para menos dias na semana. Uma pesquisa da instituição Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), em 2021, mostrou que 46% dos brasileiros escolhem não comer carne pelo menos uma vez na semana. 

Variedade


Elisete Gimenez abriu o Libecca Eco Empório, com 3 mil itens nacionais e importados; faturamento cresceu 30% em um ano

Em Maringá, o Libecca Eco Empório promete atender às principais necessidades dos públicos. São mais de três mil itens sem nada de origem animal e sem lactose, além de itens sem glúten – há produtos a granel, congelados, queijos, fatiados, leites, pães, sucos orgânicos, produtos para limpeza doméstica, itens para animais domésticos, entre outros.

A ideia do negócio surgiu a partir do desejo do casal Elisete Gimenez e James Prestes de não ter a preocupação de ter que ler rótulos ao fazer compras. Vindos de São Paulo e há quase oito anos em Maringá, eles, que já tinham experiência de um empreendimento anterior em outro segmento, pesquisaram o potencial de consumo local e optaram por fazer o investimento, mesmo na pandemia, em 2020. 

“Acompanhamos o aumento da atenção para o consumo sustentável. Além de pesquisas, visitamos mais de 30 lugares no Brasil. Construímos um empório conceito, seguindo um projeto sustentável, com pinus de reflorestamento. E só utilizamos embalagens recicláveis com tinta à base de água”, detalha Elisete.

O principal desafio é a ‘curadoria’ na compra dos produtos. São diversos fornecedores, entre os brasileiros e os de fora do país – há desodorante, por exemplo, que é importado da Alemanha. “É um cuidado forte para garantir que tudo seja 100% vegano”, frisa a empresária. 

A aposta vem dando certo. De 2021 para 2022 o negócio cresceu 30% e já tem sete pessoas trabalhando. A previsão de retorno do investimento não é uma prioridade para a família e há um próximo desafio, que é montar o e-commerce da marca para atender o Brasil todo. Hoje a principal clientela é de Maringá e de cidades da macrorregião, como Santa Fé, Nova Esperança e Cianorte – de acordo com o casal, são clientes fiéis, que não consomem nada de origem animal, celíacos ou intolerantes a lactose, que desejam seguir um estilo de vida mais saudável e responsável ou que procuram reduzir o consumo de carne. 

Refeições


Depois de fazer panquecas em casa, Clarice Mateus assumiu a Da Terra Alimentação Saudável, uma marmitaria delivery que tem registrado aumento crescente de pedidos; na foto com o marido, Claudio Frugeri Mateus

Os clientes da marmitaria delivery Da Terra Alimentação Saudável, há seis anos no mercado, também possuem perfis diversos, incluindo aqueles que precisam de pratos personalizados e encomendam refeições seguindo orientações de nutricionistas. Em geral, a empresa oferece duas linhas de marmitas: as saudáveis (algumas com carne) e as veganas, sem glúten e sem lactose, que impulsionam o negócio. 

Clarice Cardoso Frugeri Mateus assumiu a empresa há pouco mais de um ano e está feliz com o aumento do número de clientes. No começo, vendia cerca de 20 marmitas por dia e, recentemente, chegou a vender 86 – a maioria vai para a região central da cidade. Além de três motoboys fixos, trabalham na marmitaria a empreendedora e mais uma cozinheira. 

Antes Clarice fazia panquecas saudáveis em casa para vender. “Pesquisei, fiz cursos e comprei livros. Cada dia temos um cardápio diferente para as opções saudável e vegana. Faço um trabalho diversificado com a proteína de soja, o bife a rolê, quibe, croquete de milho, de lentilha, tomate recheado com lentilha, estrogonofe de grão-de-bico com shimeji, rolinhos de berinjela e tofu salteado. As saladas são orgânicas. Testamos tudo antes de colocar no cardápio”, diz Clarice.

Os preços variam entre R$ 16 e R$ 22 por unidade, mas a empreendedora diz que a maioria dos clientes compra por pacote, neste caso com valores mais em conta. Há as versões congeladas e as quentes, entregues diariamente. “Quem procura seguir um estilo mais saudável, incluindo vegetais na alimentação, e come no trabalho, sempre acaba influenciando alguém que compra também e se torna nosso cliente. Eles adoram postar nas redes sociais e de vez em quando nos marcam”, comemora. 

Cosméticos 


Mesmo não sendo vegana, Camilla Guimarães apostou nesse mercado com a sua Gaia Cosméticos, que tem mais de 3 mil clientes e e-commerce

Se em todos os nichos de mercado a identificação dos consumidores com o propósito da marca é importante, no vegano não poderia ser diferente. A engenheira química Camilla Guimarães dos Santos vem comprovando isso a partir do negócio que formalizou em 2020, a Gaia Cosméticos. “As pessoas estão mais críticas e querem comprar de fontes que compartilham os mesmos valores que elas”, diz a engenheira, acrescentando que trabalha essa identificação por meio da comunicação nas redes sociais, focada principalmente em conteúdo educativo.

Camilla não é vegana, mas se preocupa com questões como consumo consciente e exploração animal, vendo nesse nicho uma oportunidade de empreender e de oferecer produtos que considera de qualidade superior aos cuidados com a pele. “Acredito que os melhores cosméticos têm ativos vegetais, são mais absorvíveis. Meu foco é oferecer um produto bom e eficiente e que não seja ruim para o meio ambiente”, diz.

A engenheira começou o negócio divulgando em rede social os primeiros produtos que desenvolveu, quando cursava MBA em Tecnologia Cosmética e Ciências da Pele. Atualmente, é responsável pela formulação dos produtos, comunicação e vendas, sendo que a fabricação é terceirizada, ocorrendo em Londrina/PR e em Salto/SP. 

Desde a abertura, a empresa cresceu cinco vezes e possui mais de três mil clientes no Brasil. O e-commerce é o principal canal de vendas, concentrando 85% delas, enquanto 15% dos produtos são vendidos na loja física. O mix inclui opções para cuidados faciais como sabonete, hidratante, séruns, máscaras, esfoliantes e a recém-lançada linha de xampus e condicionadores sólidos. O que mais vende é a rotina básica para o rosto: sabonete, hidratante e sérum. 

Mulheres de 25 a 35 anos são as principais clientes. Segundo Camilla, são pessoas não atendidas por cosméticos convencionais e que estão buscando consumo consciente. O conceito da marca vai sendo criado também a partir de parcerias. Por exemplo, em uma das fábricas parceiras só trabalham mulheres, e alguns óleos vegetais utilizados nas fórmulas são extraídos na Amazônia por comunidades locais. 

“Criamos produtos eficientes que são funcionais em contato com a pele, não poluem o meio ambiente e são envasados em vidro, priorizando o uso de recipientes recicláveis e reutilizáveis. A Gaia compartilha dos valores veganos ao não utilizar matéria-prima de origem animal e não realizando testes em animais”, finaliza Camilla.