Nos últimos meses o
mundo do trabalho foi profundamente afetado pela pandemia do novo coronavírus.
Milhões de pessoas foram levadas ao regime de home office. Para os que
continuaram exercendo suas funções presencialmente, foi imposto o
distanciamento, além de uma série de medidas de prevenção, como uso de
máscaras, higiene das mãos e objetos.
Os novos hábitos
trouxeram novas necessidades e, consequentemente, tendências para os espaços de
trabalho, e por isso os escritórios não serão mais os mesmos na era
pós-pandemia. É o que afirma o consultor em Gestão Empresarial do Sebrae/Paraná,
Cleber Correia.
“A
tendência é que procuremos criar espaços de trabalho onde tenhamos menos
contato e aglomeração e mais distanciamento. Aquele conceito de estações de
trabalho próximas não será aplicado. Salas de reuniões também vão proporcionar
espaçamento maior, e as reuniões serão realizadas em menor intensidade, já que
com a pandemia, os empresários tiveram maior contato com ferramentas de
reuniões remotas, e que até então eram vistas de forma negativa por muitos”,
frisa.
De acordo com ele, outras tecnologias passarão a ser mais comuns nos escritórios, como sensor de iluminação, para que não seja necessário tocar no interruptor ao acionar luzes, além de sensor de torneira e descarga nos banheiros e outros.
Coworking
Espaços
compartilhados, os chamados coworkings, ganharão espaço no pós-pandemia,
de acordo com o consultor. “Nesse momento os coworkings estão sofrendo,
mas no pós-pandemia vai haver um fortalecimento dessa metodologia de trabalho.
Já havia uma tendência das empresas migrarem do ponto físico, e a pandemia
antecipou essa tendência. Isso vai acontecer, em princípio, por uma questão de
redução de custos, já que um escritório físico requer certo investimento, como
aluguel”, destaca.
Os coworkings
podem ser locados por dia, período ou hora, conforme a necessidade do
empreendedor e oferecem estrutura pronta, com Wi-Fi, mesas, cadeiras e
banheiros. “Você carrega seu escritório debaixo do braço: pega o notebook,
coloca na mochila, leva para o coworking, monta o equipamento e rapidinho está
em sua estação de trabalho. E esse espaço vem pronto, com segurança, limpeza e
secretária compartilhada. Vejo, ainda, que os coworkings vão colocar
muita tecnologia a favor dos escritórios, como o uso de QR Code e
leitura facial”, explica Correia.
E a tendência é que
aumente a oferta desse tipo de negócio. “E caso o espaço não tenha ficado
legal, o usuário tem a oportunidade de, rapidamente, ir para outro, porque
surgirão novas oportunidades”, destaca.
Correia
acrescenta que as salas e demais cômodos das residências continuarão servindo
de escritórios para trabalhadores. “Empresas perceberam que podem enviar seus
funcionários para o home office e eles conseguem desenvolver as
atividades e proporcionar resultados. Esses empresários descobriram na pandemia
melhores formas de flexibilizar o trabalho”.
Mudança
No mercado há mais de
20 anos, a Itabrasil, agência de viagens e turismo de Maringá, deixou o formato
tradicional de atendimento para viver a nova realidade do mercado. Impulsionadas
pela pandemia, as três proprietárias fecharam o ponto físico, na avenida
Euclides da Cunha, para atender os clientes de forma personalizada, em suas
residências, local de trabalho ou até em uma cafeteria. Já os fornecedores
serão atendidos em um espaço de coworking.
A sócia Adriana
Scandelai Soares conta que estava amadurecendo a ideia há dois anos. “Ficávamos
com a loja aberta em horário comercial, sendo que 90% do nosso trabalho é feito
quando o cliente não está: pesquisa, contatos, acordos comerciais etc. Quando
viemos, de forma obrigatória, para o home office, vimos que poderíamos
manter o padrão de atendimento, ou até mais elevado, trabalhando com
tranquilidade em horários flexíveis. Além disso, somos três mães com filhos
pequenos. Essa flexibilidade permitiu que conseguíssemos ter mais tempo para
eles e ao mesmo tempo trabalhar em horários alternativos, dedicando mais
atenção aos clientes”, destaca.
Segundo ela, a
mudança foi bem-aceita. “No primeiro momento, achamos que os clientes fossem
estranhar, mas percebemos que estamos sólidas no mercado, e que o ponto físico
não tem mais a mesma importância. Todos os clientes receberam bem mudança, até
incentivaram. E o atendimento se tornou mais personalizado. O cliente pode
marcar uma visita a qualquer hora do dia no local onde ficar melhor”, destaca.
Além da flexibilidade
de horários e do atendimento personalizado, a mudança trouxe economia.
“Alugamos um espaço de coworking onde atenderemos os fornecedores, que
muitas vezes vêm de outras cidades, e reuniremos a nossa equipe, quando
necessário. Esse contato presencial fortalece o vínculo. E é isso que nos faz
diferentes das agências online. Usaremos o espaço pelo menos um dia na semana”,
acrescenta.
Empreendimentos do futuro
A pandemia acelerou o uso de produtos digitais e criou hábitos. Agora as empresas da
construção civil terão o desafio de entender essas mudanças e saber quais
vieram para ficar, para que possam definir estratégias de novos produtos e
empreendimentos.
De acordo com o
especialista em Inovação e Tecnologia, Guga Stocco, co-fundador da Domo Invest
e membro do conselho de administração da Totvs e do Banco Original, a construção civil terá que “abraçar o século XXI”, investindo em
tecnologia, design e serviços. Além da construção em si, as empresas terão que
se preparar para um modelo de negócio híbrido.
Stocco cita tendências que vieram para ficar e que devem ser pensadas
nos futuros empreendimentos: o home office, os condomínios híbridos, o delivery
e a inclusão de serviços nos produtos imobiliários.
“O home office é uma tendência que vinha ocorrendo em países
desenvolvidos e mostrou que empresas brasileiras vão continuar adotando esse
modelo. Os empreendimentos residenciais deverão ter espaço para incluir o
home office, garantindo privacidade, acústica, iluminação e em alguns casos
até um piso elevado em virtude da quantidade de fios e equipamentos”, explica.
Já os condomínios híbridos unem casa e escritório. “Uma grande tendência
será ter o escritório e a residência no mesmo empreendimento, ou em alguns
casos empreendimentos residenciais deverão incluir espaços de coworking,
reuniões mais sofisticadas e até restaurantes”, frisa.
Stocco reforça que o delivery de alimentos veio para ficar. “A
entrega de comida vai continuar, e hoje os condomínios não estão preparados
para isso: fila de motoboys na entrada, falta de segurança, os moradores
precisam sair do apartamento para pegar a comida etc. Precisamos criar produtos
que otimizem e melhorem esse processo”, explica.
Além disso, com o home office, a busca por casas em condomínios próximos
das cidades, com infraestrutura e segurança, deve aumentar, tanto residencial
como comercial. “Um exemplo é a XP Investimentos que anunciou a ideia de criar
uma vila no interior de São Paulo
seguindo o estilo Vale do Silício”, explica
A
construção civil também deverá estar atenta à inclusão de serviços. “Há outras
tendências acontecendo, como serviços compartilhados de bicicletas elétricas,
carros, aluguéis de produtos e serviços. Os condomínios serão grandes
comunidades de serviços, e isso deverá ser pensado também”, finaliza.