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Adeus ao defensor dos pequenos empresários

Adeus ao defensor dos pequenos empresários

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Quem o conhecia é unânime: Ali Wardani tratava as pessoas com carinho, respeito e sempre tinha um bom conselho, frequentemente chamando os amigos de ‘irmão’ ou ‘irmã’ e com um sorriso afetuoso. O líder que integrou as 12 últimas diretorias da ACIM desde 1998 faleceu em 14 de março por complicações da Covid-19, mas deixou um legado enaltecido por empresários e representantes de entidades. Também deixou impressa sua marca de defensor dos pequenos comerciantes e da colônia árabe.

Na ACIM ocupou diversos cargos, como segundo vice-presidente, vice-presidente para assuntos federativos, vice-presidente para assuntos do sindicato varejista e membro do Conselho Superior, trabalhando de forma voluntária junto a sete presidentes da entidade.

Ex-presidente da Associação Comercial em 2012-2014 e 2014-2016, Marco Tadeu Barbosa recorda o amigo com quem defendeu os interesses da classe empresarial e com quem realizou campanhas quando Wardani presidiu o Sindicato do Comércio Varejista de Maringá e Região (Sivamar). “Ele nunca me disse não. Era amigo, humilde e de espírito altruísta, estava sempre à disposição. Muita gente ia à loja dele, a Karina Móveis, apenas para conversar e tomar um café, e ele recebia todo mundo com um sorriso no rosto. Também foi um grande defensor do comércio e principalmente das pequenas empresas”.

Barbosa lembra como Wardani foi decisivo em relação a uma mudança estrutural na avenida Brasil. “Quando a prefeitura tirou as vagas de estacionamento do canteiro central da avenida, em 2014, foi Ali quem conversou com os comerciantes e evitou um embate com a prefeitura”, lembra Barbosa, sobre a retirada das “espinhas de peixe” que foram motivo de preocupação entre os comerciantes quando a prefeitura fez intervenções na via para melhorar o trânsito. “Acredito que este é o legado que ele deixa: um exemplo de pessoa que se doou para a causa coletiva”, reforça Barbosa.

Wardani presidiu o Sivamar, com gestões em 1999-2001, 2014-2018 e a terceira iniciada em 2018. Já no primeiro mandato lutou de forma bem-sucedida para que o comércio de rua de Maringá pudesse estender o horário de funcionamento nos dois primeiros sábados até as 18 horas. Também foi na gestão dele, em 2000, que o sindicato ajudou a criar a Câmara de Conciliação Trabalhista Sivamar/Sincomar, para que empresários e trabalhadores pudessem fazer a mediação de conflitos trabalhistas. E em 2017 o sindicato reinaugurou o salão de eventos, após ampla revitalização, disponibilizado por meio de locação.

Dono de uma empresa familiar, Ali Wardani foi diretor da ACIM por 12 gestões, presidiu o Sivamar, ajudou a fundar o Sicoob Metropolitano e a Sociedade Beneficente Muçulmana 

Líder

Grande parceiro da ACIM, o Sivamar é correalizador das duas principais campanhas do comércio da cidade, a Maringá Liquida e a Feira Ponta de Estoque. As duas entidades também estiveram juntas na discussão, com o poder público, sobre a suspensão e a retomada das atividades econômicas durante a pandemia. 

O presidente da ACIM, Michel Felippe Soares, recorda que Wardani sempre reforçava a importância da Maringá Liquida para os pequenos empresários e que a campanha deveria realmente aumentar as vendas das lojas. “Ele era uma pessoa alto-astral e um grande parceiro. Quando ingressei na ACIM, em 2002, como conselheiro do Copejem, Ali me recebeu de braços abertos e o convívio desde então foi de aprendizado. Ele sempre defendia os pequenos empresários”, destaca.

Vice-presidente da ACIM e empresário, Hussein Ali Wardani trabalhou ao lado do pai diariamente desde os 13 anos. Hoje aos 38 anos conta, emocionado, as lições que aprendeu: “meu pai era educado, justo, honesto e me ensinou a trabalhar e a lidar com funcionários e fornecedores com muito respeito. Ele era maravilhoso e sempre nos ensinava a tratar bem as pessoas e a respeitar as divergências”. Hussein e a irmã Samia trabalhavam com o pai na Karina Móveis, que tem 38 anos de mercado e emprega 35 colaboradores entre a loja, a fábrica e a operação de e-commerce. Antes a família foi dona de outra loja, Ao Barulho de Maringá, e até hoje emprega profissionais que trabalharam na antiga loja.

O líder afetuoso é lembrado com carinho por Lisley Messias da Silva, advogada e superintendente do Sivamar. “Ele era como um pai, exemplo de caráter, bondade e carisma” comenta. “Enquanto presidente do Sivamar, Ali era respeitado e não tomava decisão sem ouvir a opinião dos outros. Muitas vezes ele deixava o próprio negócio de lado para se concentrar nas questões do sindicato, o que mostra a importância que dava para esse trabalho. Ele nunca pensava no benefício próprio, sempre agia pelo bem comum” destaca Lisley. A advogada também comenta que Wardani tinha a habilidade de transformar positivamente todos com quem conversava. “Qualquer um que conviveu com o Ali se enriqueceu da sabedoria dele. Nós, do sindicato, não estamos conseguindo administrar essa perda. Parece que a qualquer momento ele vai entrar pela porta, como se tudo não passasse de um pesadelo” lamenta.

Ali ocupava pela terceira vez a presidência do Sivamar e sempre defendia os pequenos comerciantes

“Irmão de coração”

O primeiro cargo que Wardani ocupou na ACIM foi a convite do empresário Jefferson Nogaroli, em  1998-2000, pouco antes de assumir a presidência do Sivamar. “À época não havia tanta sinergia entre o sindicato e a Associação Comercial, e convidei o Ali para a diretoria. Ele era um irmão de coração, mas também um irmão de muita gente. Sempre tinha um conselho bom, e era o amor em forma de pessoa”, lembra Nogaroli.

Amigo de mais de 50 anos, o vice-governador do Paraná, Darci Piana, lembra que conheceu Wardani quando era representante comercial e veio a Maringá em 1967. Desde então a vida empresarial deles se cruzou diversas vezes, e os laços de amizade se fortaleceram. “Sou o nono filho, sendo sete mulheres e dois homens. Meu único irmão morreu, e considero o Ali meu irmão do Paraná, já que nasci no Rio Grande do Sul. Ele era uma pessoa maravilhosa, um gentleman (cavalheiro). Sem dúvida, a morte dele é uma perda para o Sivamar, para a ACIM, para o empresariado e também pelo lado humano”. 

Piana lembra com carinho quando insistiu para que Wardani assumisse pela segunda vez a presidência do Sivamar, sob o argumento de que a entidade precisava de um líder respeitado e que tivesse conhecimento da história do comércio. O mesmo aconteceu antes de Wardani assumir pela terceira vez o cargo. “Nas duas vezes fui à loja dele para convencê-lo, porque o Ali queria que o cargo fosse assumido por uma pessoa jovem. Ele teve mandatos muito bons e sempre tivemos uma ligação estreita, já que ocupava e continuo na presidência do Sistema Fecomércio Paraná”, recorda.

É no escritório de casa que Carlos Valter Martins Pedro, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), guarda um exemplar do Alcorão, um presente que ganhou há alguns anos de Wardani. Mesmo não sendo muçulmano, Martins Pedro guarda com carinho o livro que o remete ao amigo de mais de três décadas. “O Ali era uma pessoa ímpar, muito ligado à família e que sempre externava às pessoas o quanto gostava delas, fazendo com que nós, amigos, nos sentíssemos especiais”.

Ali Wardani e o vice-governador do Paraná, Darci Piana: uma amizade de mais de 50 anos

Sindicato e cooperativa

À frente do Sivamar, Wardani esteve com a Associação Comercial quando foi criada o Sicoob Metropolitano, tanto que o Sivamar é dono da conta-corrente número 2 e a ACIM detém a conta número. Criada em 1999, a cooperativa de crédito teve Wardani integrando a primeira diretoria, permanecendo no cargo até 2007. “Como sócio-fundador do Sicoob Metropolitano, ele era preocupado com o comércio e as relações trabalhistas. Ali fazia questão de ir pessoalmente à agência, participava de todas as assembleias, era uma pessoa presente e que realmente acreditava na cooperativa”, destaca o presidente do Sicoob Metropolitano, Luiz Ajita. “Ali, meu amigo durante anos, foi uma pessoa carismática, bondosa e aberta. Foi um empresário empreendedor, desbravador e visionário. Soube gerir entidades como o Sivamar munido de propósitos. Ele queria fazer a diferença e sempre trabalhou para tornar Maringá uma cidade melhor”, continua Ajita. 

Nascido no Líbano em 1951, Wardani se mudou para o Brasil em 1961 e chegou a Maringá em 1967. Aqui, foi presidente, por seis gestões, da Sociedade Beneficente Muçulmana e um dos fundadores da Mesquita Sheik Mohamed Ben Nasser Al Ubudi. “Ali sempre valorizou nossa colônia e foi uma referência para o nosso povo em Maringá. Foi uma honra tê-lo como líder e representante”, atesta Mohamad Ali Awada Sobrinho, que presidiu a Sociedade Beneficente Muçulmana criada em 1982 e que teve Wardani como primeiro presidente. “Ele era dinâmico, inteligente e uma pessoa diferenciada que ajudou a criar um fundo para a construção da mesquita, inaugurada em 1989”, lembra Awada Sobrinho. A Sociedade Beneficente atende imigrantes e pessoas de baixa renda, oferecendo cesta básica, encaminhamento profissional e acompanhamento espiritual.

Ainda em sua trajetória, Wardani recebeu o título de Cidadão Benemérito de Maringá, outorgado pela Câmara Municipal de Maringá em 2017, e fez parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem) entre 2010-2017.