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Sim, é possível empreender em meio à adversidade

Sim, é possível empreender em meio à adversidade

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No ano passado, em meio à pandemia da Covid-19, o número de empresas abertas em Maringá cresceu 6%. Segundo o Mapa de Empresas, disponibilizado pelo Ministério da Economia, 12.301 negócios foram abertos em 2020 na cidade, ante 11.589 em 2019 - incluindo Microempreendedores Individuais (MEI).

Em fevereiro, dado mais recente do levantamento, foi registrado aumento de 23% na abertura de empresas em relação ao mesmo mês do ano passado em Maringá - o número saltou de 984 para 1.217. Entre os novos negócios está a Container Baby e Kids, franquia de moda infanto-juvenil instalada no Maringá Park.

A empresa oferece mix de 20 marcas alinhadas ao conceito de preservação da natureza. Além disso, os móveis da loja são feitos com madeira de reflorestamento e materiais reciclados. A empresária Claviane Rodrigues conta que enxergou uma oportunidade em meio à crise. “Maringá é uma cidade de oportunidades, e a decisão de investir neste momento veio depois de termos realizado pesquisas e identificarmos que não existe loja especializada dessa natureza para atender do recém-nascido a 16 anos, com mix variado e selecionado. A crise gerada pela pandemia é momentânea e logo vai passar. Entendemos que assim que ela passar estaremos bem posicionados”, destaca a empresária. Além dos desafios inerentes à decisão de empreender e investir, houve um adicional: um dia após a inauguração da loja, um decreto determinou o fechamento de atividades consideradas não essenciais. 

“Fizemos planejamento estratégico, identificamos o ponto comercial com dados assertivos, escolhemos com cuidado os produtos e selecionamos uma excelente equipe de funcionárias. Contamos com o apoio de duas vendedoras bem preparadas e com conhecimento para dar consultoria aos clientes”, reforça ela, sobre a fórmula para o negócio dar certo.

Claviane Rodrigues abriu a Container Baby e Kids depois de fazer planejamento estratégico e selecionar de forma criteriosa a equipe

Café tipo americano

O Kings Café & Bar foi inaugurado em fevereiro, mas o investimento começou bem antes, há cerca de dois anos, com a reforma do espaço, localizado na rua Princesa Isabel. Os sócios Paulo Franchetti Stelmatchuk e Desirée Queiróz Pechefist restauraram o prédio, inclusive pisos e azulejos, sem tirar o aspecto aconchegante e acolhedor do imóvel - essencial para o tipo de empreendimento.

O estabelecimento serve cardápio canadense e norte-americano, sendo o donuts o carro-chefe. Além de bagels, english muffin e o biscuit, três pães de café da manhã dificilmente encontrados no Brasil, e pratos como waffle, pancakes, poutine, mac and cheese e muffins, há variedade de cafés e chás, todos  artesanais.

A experiência de ter morado fora do país, somada ao desejo de empreender e fazer parte dos hábitos dos maringaenses quando o assunto é café, impulsionou os empresários. “Queremos mudar a cultura da cidade. Como somos a primeira casa de donuts de Maringá, temos a responsabilidade de trazer um pouco da cultura que vivenciamos fora, além de trazer a nostalgia para quem já visitou ou morou em outros países. Trouxemos uma proposta para os maringaenses conhecerem produtos sem o clichê de cafeteria americana”, destaca Stelmatchuk.

Se a proposta era oferecer experiência de consumo em um ambiente único, nos períodos restritivos foi necessário se adaptar. “Trabalhar com delivery de café é um grande desafio. Defendemos o quanto é incrível o que acontece além do café: conexões, conversas, amizades, tudo isso ocorre dentro da cafeteria. Nosso maior desafio até agora foi levar a experiência que o público geralmente tem presencialmente para a casa. Para isso, contamos a história de cada produto, com o objetivo de agregar valor à venda. A massa dos donuts, por exemplo, tem história de anos, muitas tentativas e erros. Além disso, reestruturamos as embalagens e os métodos de envio. Investimos em construir uma comunidade online, personalizamos o atendimento, entendemos as demandas do nosso cliente e fazemos parte da rotina dele”, explica Desirée, que faz planos de expansão.

Paulo Stelmatchuk e Desirée Queiróz Pechefist reformaram o prédio onde fica o Kings Café & Bar e apostam na experiência de um café, com direito a donuts e pães especiais

Sorvete por delivery

Leonardo Barsaglia, primeiro franqueado da Gela Boca em Maringá, inaugurou a segunda loja em fevereiro, no Sumaré. A previsão era abrir em junho do ano passado, mas não foi possível devido à pandemia, e nem isso desanimou o empresário e a esposa e sócia, Vanessa Barsaglia.

“Com a crise vêm as oportunidades, e quem sair na frente tem a vantagem de estar com o negócio aberto e ajustado quando tudo isso acabar. Resolvemos dar continuidade ao nosso sonho, e ainda que tivéssemos preocupações, em nenhum momento pensamos em desistir”, conta Barsaglia.

Logo depois veio a oportunidade de transferir a primeira loja da Gela Boca, inaugurada há mais de dez anos, para um prédio melhor e maior, na própria avenida Tuiuti, reinaugurado em março. “O ponto era maravilhoso, com o dobro de espaço, mas precisaria de uma grande reforma que o proprietário do prédio se comprometeu a fazer. Vimos que não poderíamos deixar essa oportunidade passar, pois seria uma chance ímpar de recolocar nossa loja em um ponto melhor e mais confortável, podendo aumentar o faturamento”, relata o empresário. E foi assim que em um período curto, os sócios reinauguraram a loja da avenida Tuiuti e abriram a segunda unidade. 

Em períodos com medidas restritivas devido à pandemia, a Gela Boca se adaptou e mostrou que é possível fazer delivery de sorvete. “Já tínhamos experiência no delivery na primeira loja, o que nos ajudou, mesmo assim foi um grande desafio”, comenta Leonardo Barsaglia. 

As lojas oferecem variedades de sabores, entre picolés, potes, taças e self service, além de açaí, bolos e churros. Há opções de sorvete sem lactose e sem açúcar. Mas o diferencial vai além da qualidade dos produtos, segundo o franqueado. “Temos um preço justo e atendimento de qualidade, tratando os clientes como amigos, pessoas que fazem parte de nossas vidas e a quem chamamos pelo nome”, finaliza.

Leonardo Barsaglia, da Gela Boca, mudou o endereço da primeira franquia e abriu a segunda loja: “ainda que tivéssemos preocupações, em nenhum momento pensamos em desistir”

Como fazer a gestão financeira de um novo negócio?

A abertura de um negócio vem carregada de desafios, principalmente para os de primeira viagem. É comum que os empreendedores não façam a separação do dinheiro particular (da família) do dinheiro da empresa. Colocar ‘tudo no mesmo bolso’ pode prejudicar a saúde financeira da empresa que acaba de nascer, segundo o gerente regional do Sebrae/PR, Wendell Gussoni.

“Esse tipo de controle e organização, assim como de custos e faturamento, é necessário para que se saiba se a empresa está tendo lucro. É importante definir um salário para o empresário (pró-labore), e com este dinheiro ele deverá pagar contas pessoais, como energia e água da casa, escolas das crianças, abastecimento do carro particular, supermercado etc.”, reforça.

A falta de dedicação para fazer os controles financeiros do dia-a-dia também é um erro comum. “É preciso separar um tempo diário para o fluxo de caixa, ou seja, administrar as entradas e saídas de recursos financeiros relativos às vendas, prestação de serviços, pagamentos de fornecedores, salários, tributos, despesas, entre outros. Uma boa dica é utilizar planilhas e até software para esses controles. Além de permitir conhecer a situação econômica atual da empresa, o fluxo de caixa pode contribuir com o planejamento”, destaca Gussoni.

As definições das despesas e custos da empresa e os respectivos valores mensais são essenciais para manter a saúde financeira. Além disso, é importante projetar a necessidade de recursos para financiar o capital de giro. “Normalmente se recebe dos clientes em um prazo superior aos pagamentos realizados junto aos fornecedores. Outro aspecto que precisa de planejamento é a necessidade de estoques iniciais, assim como a possibilidade de haver o aumento do estoque em decorrência de faturamento maior”, frisa o gerente.

O empreendedor precisa, portanto, desenvolver disciplina para manter controles e agenda atualizados, bem como monitorar o estoque, a situação dos funcionários e outros temas relacionados ao andamento da empresa.

Em tempos de pandemia, o faturamento é, certamente, o principal desafio para muitos segmentos, além da redução de custos ou despesas, já que em algumas situações é necessário gastar primeiro para economizar depois. “Algumas atividades empresariais estão sem muita previsibilidade do volume de faturamento, por isso, avalie o montante das compras, e talvez não seja indicado fazer estoque, pois é um investimento pago ou feito com lucro”, finaliza Gussoni.

Wendell Gussoni, gerente regional do Sebrae/PR: “é preciso separar um tempo diário para o fluxo de caixa”

Dicas que podem ajudar neste momento de crise:

Negocie com os fornecedores o aumento dos prazos de pagamento dos seus compromissos

Se tiver dívidas com instituição financeira, procure renegociar e também aumentar o prazo de pagamento, adequando o valor pago por mês ao faturamento

Evite fazer despesa que não seja necessária para a continuidade dos negócios

Busque alternativas para aumentar o faturamento: faça promoção de produtos que estão há muito tempo em estoque, disponibilize serviços de entrega para manter o nível de compra, diversifique e amplie as formas de pagamento, implemente estratégias de divulgação dos produtos por meio do marketing digital