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Score e Cadastro Positivo: termômetros da boa gestão

Score e Cadastro Positivo: termômetros da boa gestão

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Fagner Braga e Diego Braga, da SupraErvas: com nota alta de score, eles não têm dificuldade para acessar financiamento e conseguem investir no crescimento da empresa

Fagner Braga e Diego Braga, da SupraErvas, indústria de produtos nutracêuticos, alcançaram um feito que serve de inspiração para empreendedores: há oito anos no mercado, a empresa deles, que nasceu em Campo Mourão, mas hoje tem sede em Maringá, tem score de crédito de 952 pontos. As notas, que vão de zero a mil, são atribuídas por birôs do mercado financeiro, como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), e têm o objetivo de prever a possibilidade de um consumidor, pessoa física ou empresa, vir a inadimplir. Com base em informações, é gerado um valor numérico que, quanto mais alto, demostra maior confiança no consumidor.

Fagner tem 14 anos de experiência em indústria e, em 2014, quando decidiu empreender, traçou o objetivo de crescer de forma sustentável. A estrutura, que produz 250 produtos, começou em 180 metros quadrados e hoje são quase 2 mil metros. O carro-chefe da indústria de 43 funcionários é um suplemento digestivo, mas também há produção de chás solúveis, encapsulados, comprimidos, suplementos para atletas, cafés funcionais, entre outros. “Todo começo é difícil, mas estamos em uma área com mercado aquecido e isso, aliado à gestão, nos ajudou a chegar aqui”, diz. 

Segundo o empresário, para manter a saúde financeira, ele e o irmão, que é consultor do Sebrae e sócio da empresa, optaram por não fazer retiradas robustas, mas reinvestir grande parte do lucro. Assim eles têm dobrado de tamanho anualmente em faturamento, número de funcionários e estrutura física. “Alguns empresários oneram o negócio quando fazem retiradas altas para uso pessoal para a compra de imóveis, carros, entre outros, então, decidimos fazer o caminho contrário e aplicar os rendimentos focados na expansão”, diz. 

Outra estratégia é ter um bom alinhamento de preços e jamais trabalhar com as contas no vermelho, para isso, eles tratam o cliente como patrimônio e buscam a fidelização. “Zelamos por relacionamentos. Em relação aos pagamentos, procuramos não atrasar sequer um dia, mesmo que seja preciso tirar da nossa retirada”, afirma. 

O foco da indústria, que tem atuação nacional, é a venda dos produtos para distribuidores e pontos de venda no atacado e, segundo o empresário, nos últimos dois anos, os negócios foram impulsionados pela pandemia, graças à busca crescente das pessoas por saúde e hábitos saudáveis. “A crise sanitária nos trouxe um crescimento que não esperávamos, temos crescido de forma sólida mantendo o foco, a resiliência e a dedicação”, diz. 

Além de refletir a boa gestão, o score elevado abre portas quando o assunto é a obtenção de crédito. Por ter as contas em dia, a SupraErvas não teve dificuldades para conseguir linhas de crédito para financiar maquinário. O mesmo aconteceu quando os sócios procuraram a Noroeste Garantias (Sociedade de Garantia de Crédito) para fazer novo empréstimo. “O score nos dá visibilidade positiva e ajuda a alavancar projetos. Se as contas não estivessem ‘redondinhas’, seria difícil obter crédito para continuar crescendo”, afirma. 

Análise minuciosa 

Bancário por 25 anos e advogado, Paulo Evangelista de Lima é um dos 14 analistas de crédito voluntários da Noroeste Garantias, ajudando a analisar a viabilidade para empréstimos. “Fazemos uma entrevista com os sócios para coletar informações como receitas, despesas, tempo de atividade, área de atuação, concorrência e experiência. Essas informações são inseridas em um sistema que gera dados que permitem deferir ou não a proposta de crédito”, explica. A entidade recebe em média 100 pedidos por mês, com taxa de aprovação de 70 a 80%. 


Paulo Evangelista de Lima, analista da Noroeste Garantias: “alguns empresários não se importam de pagar as contas vencidas, mas isso tem reflexos na avaliação” 

Depois do parecer positivo, a Noroeste Garantias passa a ser a garantidora do empréstimo, o que significa que se o tomador de crédito não honrar a operação, a entidade fará a honra junto às instituições financeiras. Segundo Lima, em algumas situações pode acontecer da complicação financeira sugerir que o problema não é necessariamente a falta de recurso ou crédito, mas de gestão. Nestes casos, os analistas orientam o empreendedor a fazer mudanças específicas e/ou contratar consultoria especializada como o Sebrae.

“Alguns empresários não se importam de pagar as contas vencidas, mas isso tem reflexos na avaliação. É preciso dar valor à pontualidade de títulos e duplicatas e evitar protestos e devolução de cheques”, diz. Além de atrasos nos pagamentos, a informalidade e restrições da empresa e dos sócios são entraves para ter acesso ao crédito com taxas de juros menores e fácil contratação junto às instituições financeiras. “Em caso de dificuldade de pagamento, uma dica importante é se antecipar e negociar o vencimento de título antes da data limite, desta forma, o credor pode se organizar e permitir a prorrogação do vencimento”, recomenda. 

Autenticidade e relacionamento

Enquanto o score tenta prever a possibilidade de um consumidor ficar inadimplente, o Cadastro Positivo leva em conta o histórico de pagamentos de pessoas físicas e jurídicas. Neste caso são avaliados pagamentos rotineiros, como luz, água, internet e compras parceladas no comércio. O superintendente Operacional do Sicoob Metropolitano, Walter Marcelo Schon, explica que os dois mecanismos são disponibilizados por instituições como Serasa e Boa Vista, porém, cada banco ou cooperativa de crédito tem o próprio método de avaliação. O Cadastro Positivo conta pontos para o score.


Walter Marcelo Schon, do Sicoob: “não há como o gerente elevar uma nota de score, pois ele é responsável apenas por alimentar o sistema com dados do cliente

Schon explica que os cálculos de score são feitos por sistemas, com uso de algoritmos e inteligência artificial. “Isso quer dizer que no processo há pouca ou nenhuma interferência humana, ou seja, não há como o gerente, por exemplo, elevar uma nota, pois ele é responsável apenas por alimentar o sistema com dados do cliente”, esclarece. Nesse sentido, ele alerta para que os empresários não se deixem enganar por anúncios que prometem a elevação do score. “Geralmente se tratam de golpes e ainda que seja possível melhorar dados de birô de crédito, as instituições financeiras possuem cálculos próprios”. 

Para garantir a autenticidade dos números gerados pelos score e liberação de crédito, o Banco Central faz avaliações regulares do sistema das instituições financeiras. “O Banco Central, por meio de uma resolução, determina a classificação das operações de crédito com faixas de risco que vão de ‘AA’ a ‘H’, mas o Sicoob Metropolitano não opera com operações classificadas com risco acima de ‘C’”, esclarece. 

Apesar das análises levarem em consideração o score, o relacionamento também conta pontos, por isso, concentrar a movimentação na instituição pretendida e não ter baixa movimentação na conta-corrente terão reflexos positivos. “Nosso sistema usa a nota de risco para calcular desde a taxa de juros à exigência de garantias e para os casos em que o tomador de crédito não possui nota de risco dentro do aceitável, não é possível sequer lançar proposta no sistema”, explica. 

Histórico

Os scores são influenciados por milhares de informações processadas em menos de um segundo. “Na década de 1950 eles eram obtidos manualmente e calculados com até 20 variáveis. Já na década de 1970 passaram a ser calculados com o auxílio de softwares e davam as respostas de forma eletrônica, mas ainda com poucas variáveis, até 50”, afirma o consultor Marcelo Aragona, que atua como superintendente de Produtos e Negócios do SPC Brasil. 

Já as informações do Cadastro Positivo estão disponíveis desde 2011, mas antes pessoas físicas e jurídica precisavam optar por disponibilizar os dados para os birôs autorizados. “A partir de 2019 a disponibilização se tornou compulsória, no entanto, existe a possibilidade de solicitar a exclusão do Cadastro Positivo”, explica. Atualmente são mais de 125 milhões de pessoas físicas e jurídicas com informações ativas. 

Consequências das notas baixas

No score quem tem nota baixa pode ter a solicitação de crédito negada, ter acesso a valor menor de empréstimo, acesso a recursos com prazo de pagamento menor, com mais juros ou ter que desembolsar entrada mais alta, oferecer garantia ou ter avalista. 


Marcelo Aragona, do SPC Brasil: com o score, as empresas puderam evoluir o processo de crédito de ‘aprovar’ ou ‘negar’ para oferecer produtos diferentes

Segundo Aragona, de forma geral, o score e o Cadastro Positivo deixaram claro que o comportamento do consumidor com as obrigações financeiras refletem diretamente na capacidade de ter crédito. “Já para as empresas credoras, que avaliam solicitações de crédito, esses instrumentos trouxeram mais informações do solicitante e uma noção precisa do risco da operação. Assim, as empresas puderam evoluir o processo de crédito de ‘aprovar’ ou ‘negar’ para oferecer produtos diferentes, contrapropostas, entre outras ações para ajustar o crédito ao perfil de risco”, diz. 

Para o SPC Brasil, os produtos de score de crédito têm participação relevante no faturamento, ao permitir que milhares de informações sejam traduzidas e simplificadas em uma nota que representa a probabilidade de inadimplência, o que facilita o trabalho das empresas que não têm capacidade de desenvolver o próprio score. Mas é possível aprimorar o serviço com mais dados. “O cadastro positivo é focado na parte transacional dos compromissos financeiros: o que venceu, quanto foi pago e quando foi pago. Mas também há as parcelas a vencer, por isso, poderíamos melhorar a informação se soubéssemos, por exemplo, o saldo devedor dos contratos ou faturas de cartão de crédito”, diz.