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O desafio do crédito mais barato

O desafio do crédito mais barato

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Rodrigo da Rocha, da Uniprime: “mantenha escriturações contábeis e financeiras organizadas, elabore bons projetos de viabilidade econômica e solicite crédito com antecedência”

Diante da conjuntura econômica, com inflação, nível de endividamento e a taxa Selic em alta, as linhas de crédito ficaram mais caras e burocráticas. Entre as opções viáveis para micro e pequenas empresas (MPE) estão as oferecidas pelas instituições financeiras por meio de programas governamentais e recursos de cooperativas de crédito.

As linhas de programas podem ser acionadas via instituições financeiras como Caixa Econômica, Banco do Brasil, bancos privados, cooperativas e outros agentes. Na pandemia, o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger), um conjunto de linhas de crédito para financiar quem quer iniciar ou investir no crescimento do próprio negócio, foi fortalecido. As taxas de juros variam, girando em torno de 8% ao ano. Mas foi o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) uma das principais fontes de socorro para empreendedores. Em 2020, o programa emprestou R$ 37,5 bilhões e, em 2021, quase R$ 25 bilhões, que foram utilizados para investimentos, folha de pagamento, compra de material, despesas operacionais, entre outras finalidades.

O Pronampe tem custo formado pela taxa básica de juros (Selic) mais 6% ao ano. Com as sucessivas altas na Selic, atualmente em 13,25% ao ano, a linha deixou de ser atrativa, até que os recursos acabaram. Mas um projeto de lei sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro no final de maio faz o Pronampe retornar como opção. Embora não haja previsão de mudanças nas taxas, as empresas contempladas poderão demitir funcionários, o que antes não era permitido; Microempreendedores Individuais (MEI) poderão participar; e empresas com receita bruta anual de até R$ 300 milhões também passam a ser permitidas. Mas o destaque é a desburocratização: os proponentes ficam dispensados de apresentar certidões de regularidade fiscal, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e outras. São 48 meses para pagar, incluindo a carência de 11 meses.

O projeto de lei estabelece a prorrogação do programa, assegurando que recursos do Fundo de Garantia de Operações (FGO) possam ser utilizados em aval de novas operações até o fim de 2024 – a lei atual só previa até o fim de 2021. O governo estima que até 2024 cerca de R$ 50 bilhões sejam emprestados via Pronampe. 

Outra opção é a linha BNDES Crédito Pequenas Empresas, destinada a investimentos, capital de giro e outras necessidades diárias das empresas. A linha é repassada por meio de instituições financeiras. A taxa é uma composição de 1,25% ao ano mais o custo financeiro, além da taxa cobrada pelo agente financeiro. O prazo para pagar vai de um a cinco anos, com carência de até dois anos. 

Microcrédito costuma ser mais acessível e é oferecido por instituições e agentes como BNDES e Fomento Paraná. Na Fomento, o microcrédito pode chegar a R$ 20 mil e é oferecido para negócios com faturamento até R$ 360 mil ao ano, para capital de giro e investimento. É possível solicitar o produto por meio de um agente de crédito na prefeitura da cidade, via Sala do Empreendedor, por exemplo. A taxa de juros gira entre 1,1% e 2% ao mês e entre 0,95% e 1,86% ao mês, pelo Banco da Mulher Paranaense. O prazo para pagar é de 36 meses, com carência de até três meses. 


Recursos próprios

O gerente da Uniprime em Maringá, Rodrigo Martimiano da Rocha, diz que a cooperativa atua com diversas linhas de crédito, sendo as principais: antecipação de recebíveis (cheques, duplicatas, cartões de crédito); capital de giro (que pode ser parcelado dependendo do perfil de cliente); limites rotativos (conta garantida, cheque especial, hotmoney); créditos voltados à cadeia de exportação; destinados ao agronegócio, como custeio e CDCA. Também há linhas de financiamentos imobiliários, veículos, equipamentos profissionais e estudantil. A instituição atua apenas com recursos próprios, não possuindo créditos subsidiados de programas governamentais. “As taxas de juros são analisadas dentro das características de cada operação e momento econômico”, pontua. 

Rocha explica que para chegar às taxas de juros muitos fatores são levados em consideração, como custo de captação de recursos, situação econômica do país, tendência das taxas de juros básicas da economia e avaliação dos riscos específicos da operação. E cada instituição determina as taxas. “Em geral as cooperativas de crédito possuem linhas mais atrativas para os cooperados devido ao modelo de negócio, que é diferente dos bancos, que possuem como principal objetivo remunerar investidores”, diz.

Embora as oscilações econômicas e fatores como a guerra na Ucrânia afetem o mercado de crédito, Rocha afirma que bons projetos e empresas organizadas continuam conseguindo atuar normalmente com várias linhas. Os empecilhos são ter o nome negativado, dívidas vencidas junto a outras instituições financeiras, falta de documentação contábil organizada e falta de planejamento em novos projetos.

“Mantenha escriturações contábeis e financeiras organizadas, elabore bons projetos de viabilidade econômica, solicite crédito com antecedência para ter tempo de entender e negociar as operações e sempre que prever problema para pagar o empréstimo, atue de maneira preventiva em vez de tentar negociar depois”, aconselha.


Orientação


“Tudo se tornou mais caro em razão da inflação. Com isso, as pessoas se endividaram mais e as instituições financeiras buscam mais garantias de pagamento”, diz Cloves José da Costa, da Cresol

Segundo o gerente-geral da Cresol em Maringá, Cloves José da Costa, as taxas têm variado com frequência devido às oscilações de mercado e à Selic e podem ser mais altas ou mais baixas dependendo das garantias oferecidas. “Tudo se tornou mais caro em razão da inflação. Com isso, as pessoas se endividaram mais e, assim, as instituições financeiras buscam mais garantias de pagamento. Aumentam as negativas, mas há opções para diversos perfis de empreendedores”, diz Cloves. 

De acordo com o gerente, a Cresol oferece Crédito Direto ao Consumidor (CDC), linhas para financiamentos de veículos, antecipação de recebíveis, cheque e duplicatas, crédito rotativo com liberação e amortização conforme a necessidade e capacidade do cliente, entre outras soluções. 

A linha de crédito para financiamento de energia solar tem sido bastante procurada, podendo ser parcelada em até 36 meses na taxa pré-fixada – a taxa depende do score (pontuação de risco de crédito) do proponente, entre outros critérios. “O que existe no momento é uma seletividade, por isso se visa a ter garantias reais, capacidade de pagamento, aval com patrimônio computável, preferencialmente de terceiros e imposto de renda com bens declarados.” 

Na cooperativa, há orientação e direcionamento para a linha de crédito adequada ao perfil do empreendedor. “Procuramos trabalhar dentro da linha que vai se enquadrar à necessidade do tomador de crédito, seja pessoa física ou jurídica, e conforme a finalidade do recurso”, explica Cloves. 


Cautela


A demanda por crédito diminuiu, diz Walter Schon, do Sicoob: “o tomador está reticente porque o crédito está mais caro, e as instituições estão mais cuidadosas”

Segundo o superintendente operacional no Sicoob, Walter Schon, diminuiu a procura por crédito e também o apetite das instituições financeiras em conceder o crédito, principalmente para o varejo. “Nas duas pontas a demanda é menor. O tomador está reticente porque o crédito está mais caro, e as instituições estão mais cuidadosas porque o momento econômico, a instabilidade econômica e política inspiram esse cuidado”, analisa.

Schon explica diante deste cenário, uma das principais opções da cooperativa é fruto da parceria com a Noroeste Garantias, Sociedade Garantidora de Crédito (SGC) que honra parte do pagamento da dívida em caso de inadimplência do tomador. Para investimento, a taxa parte de 0,8% ao mês mais CDI e para capital de giro, 0,9% ao mês mais CDI.  

A cooperativa também oferece financiamentos a partir de recursos próprios. Para investimentos, a depender do perfil de risco e das garantias, é possível encontrar taxas em torno de 1,1% ao mês mais CDI. “Esse momento é delicado para capital de giro. Algumas empresas vão precisar do crédito porque estão endividadas, mas pelo mesmo motivo, que indica capacidade de pagamento comprometida, é mais difícil conseguir”, diz. 

O Sicoob também oferece financiamentos por meio do BNDES e Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Schon diz que esses empréstimos podem ser mais burocráticos ou ter taxa de juros mais alta. “No começo da pandemia acessamos linhas do Pronampe e outras. Em parceria com a SGC, oferecemos 0,49% ao mês, antes de qualquer programa ser instituído, mas hoje não é mais possível operar nesses termos. No Pronampe, neste momento não há recurso. Estamos aguardando o governo fazer novo aporte”, comenta. 

Para capital de giro, Schon diz que a melhor forma da empresa conseguir recursos é por meio de antecipação dos recebíveis, ou seja, um recurso financeiro que permite o adiantamento do recebimento de valores futuros, principalmente os do cartão de crédito, sendo que a taxa pré-fixada fica em torno de 1,5% ao mês.

Noroeste avaliza operações para reduzir juros

Acessar empréstimo pode ser um entrave para micro e pequenos empresários que não possuem a garantia exigida pelas instituições financeiras. É aí que entra a Noroeste Garantias, entidade sem fins lucrativos que avaliza operações, atuando em mais de 120 cidades paranaenses e em quatro regiões de São Paulo. 

Como em caso de inadimplência a entidade honra a dívida, a operação se torna de baixo risco para as instituições financeiras, o que aumentam as opções de empréstimos para o empresário e ainda reduzem os juros. São linhas de R$ 4 mil a R$ 100 mil para capital de giro, investimento e energia fotovoltaica, com taxas de juros a partir de CDI + 0,55% e até 60 meses para pagar. Somente em 2021, a Noroeste aprovou R$ 48,8 milhões em crédito, superando 1,4 mil operações. E no primeiro trimestre do ano já foram mais de R$ 9 milhões concedidos.

A emissão da carta de garantia é feita para MEI e empresas com faturamento até R$ 4,8 milhões por ano. Para pleitear a carta, é preciso entrar em contato com a Noroeste: (44) 3023-2283, (44) 99955-8476 (WhatsApp) ou e-mail contato@noroestegarantias.com.br. A sede fica em Maringá, dentro da ACIM, na rua Basílio Sautchuk, 388.