Artigos

Natal e Copa turbinam fim de ano

Natal e Copa turbinam fim de ano

329
visualizações
Bruna Aranega de Macedo Ribeiro aumentou o estoque e deve contratar pelo menos um temporário para cada uma das três lojas da Capodarte

Depois de uma gestão ‘conservadora’ em 2021, a empresária Bruna Aranega de Macedo Ribeiro aumentou os investimentos nas compras para este fim de ano confiante num bom desempenho do período natalino, o mais esperado do comércio. “Acreditamos que o Natal 2022 será melhor do que o do ano passado quando ainda havia resquícios da pandemia”, conta a sócia das lojas Capodarte dos shoppings Maringá Park, Catuaí e Avenida Center. 

Ela também fez o pedido com antecedência para tentar evitar problemas com entregas, haja vista que as fábricas ainda não retomaram 100% da capacidade produtiva por escassez de insumos e matérias-primas. No ano passado, a falta de mercadorias comprometeu as vendas. “O chinelo, que é o nosso carro-chefe, estava em falta no Brasil inteiro. Se tivéssemos estoque do produto, teria feito a diferença”. Por isso, o item recebeu atenção este ano na hora de fazer o pedido para a franqueadora. 

Os preparativos incluem a tradicional contratação de colaboradores temporários. Pelo menos uma vaga será aberta em cada loja. A seleção será realizada em novembro e um treinamento será ministrado no início de dezembro para garantir o atendimento de qualidade. E quem se destacar poderá ser efetivado. “Já há algum tempo contratamos temporários para atender a demanda das vendas de Natal. É uma oportunidade para quem está à procura de emprego, principalmente porque um bom funcionário pode vir a se tornar efetivo”, adianta a empresária. “O recrutamento de pessoas é a nossa maior dificuldade hoje”, completa. 

O otimismo de Bruna com as vendas, entretanto, esbarra em um fator extra: a Copa do Mundo. Tradicionalmente a competição esportiva acontece no meio do ano, mas em 2022 será disputada, excepcionalmente, entre 21 de novembro e 18 de dezembro, no Catar, no Oriente Médio. 

A exemplo de muitos lojistas, Bruna tem receio que a Copa prejudique o movimento no comércio, porque em dias de jogos da seleção brasileira os horários de atendimento são reduzidos, já que o país, literalmente, para. “Os brasileiros entram e saem antes do trabalho para torcer pelo Brasil e muitos nem voltam, vão direto para a comemoração. Isso reduz o fluxo no comércio. Dificulta até para organizar a contratação de temporários”. 

Outra dúvida é quanto ao comportamento dos consumidores. A final da Copa será em 18 de dezembro, faltando uma semana para o Natal. “Estaremos em semanas cruciais de vendas. Será que as pessoas vão se preparar ou deixar tudo para a última hora?”. 


De incerteza à inspiração

Na Perfect Way, indústria têxtil de moda feminina com 20 anos de mercado, o receio que a Copa do Mundo fora de época pudesse frear a disposição do brasileiro para o consumo ‘virou’ inspiração para ações de divulgação de coleções cápsulas da marca. Seguindo a tendência Brasilcore, peças azul, amarelo e verde viraram estrelas de campanhas. 


Cristiane Medeiros, da Perfect Way, tem peças com as cores da bandeira brasileira e aposta em lançamento de coleções quinzenais

“Essas três cores normalmente são apostas das coleções de alto verão, sempre coloridas. O que fizemos foi ressignificar peças por meio de combinações, dando uma aparência casual, mostrando que é possível torcer pelo Brasil com elegância e estilo”, explica a diretora Cristiane Medeiros.

Com a estratégia, a intenção é oferecer looks versáteis, tanto para assistir aos jogos da seleção brasileira como para os tradicionais eventos de fim de ano.

Por outro lado, Cristiane não descarta a possibilidade da Copa prejudicar as vendas de fim de ano devido ao fechamento das empresas nos dias de jogos do Brasil. No caso da Perfect Way, para não comprometer a produção – especialmente neste período da alta sazonal - foi fechado um acordo de compensação de horas com a equipe. A empresa conta com aproximadamente 150 colaboradores diretos, além da mão de obra de facções. 

Depois de dois anos de percalços causados pela incerteza da pandemia, a diretora acredita, enfim, numa retomada efetiva do setor. Em relação à Perfect Way, ela diz já colher os resultados da estratégia bem-sucedida de lançar coleções cápsulas, adotada em meados de 2020. “Lançamos 50 modelos a cada 15 dias que são criados para o período em que serão comercializados. Desta forma, o lojista consegue ter assertividade na compra e, consequentemente, facilita o planejamento do fluxo de caixa, porque ele consegue ter base de investimento para ter o produto certo na hora certa”, comenta.

Ainda segundo Cristiane, o crescimento das vendas só não tem sido maior por causa da instabilidade climática registrada nas regiões sul e sudeste do país nos últimos meses. Paraná, São Paulo e Minas Gerais, principais mercados da marca, são estados que têm apresentado clima adverso à estação. Situação que, segundo as previsões, deve ser superada, com uma regularidade climática nos próximos meses. 


De Papais Noéis a cornetas

Na Tricolândia Festas a procura por árvores de Natal, luzes decorativas, guirlandas, duendes e, claro, Papais Noéis dos mais variados tamanhos já começou. E opções não faltam nas prateleiras. “É preciso se preparar com muita antecedência para as datas festivas, tanto que já estamos pensando no Carnaval e na Páscoa de 2023. Para as festas de fim de ano, a nossa loja está abastecida e organizada”, garante o gerente de vendas, Adriano Soares.


Adriano Soares, gerente de vendas da Tricolândia Festas: “trabalhar com vendas é viver um dia de cada vez. Hoje existe uma pressa em comprar, adquirir com antecedência”

Outro motivo para se antecipar é o desafio constante para encontrar fornecedores. O setor de festas foi um dos mais afetados pela pandemia e, com isso, segundo o gerente, muitos parceiros fecharam as portas, obrigando a loja a buscar novos fornecedores. 

Já o diferencial é que este ano foi preciso incluir um tema a mais na lista de compras. Afinal, o Natal e o Ano Novo têm a concorrência da Copa do Mundo ‘fora de época’. Por isso, foi preciso reservar uma área verde-amarelo para bandeiras e cornetas. Felizmente, espaço para abrigar os dois temas não falta na Tricolândia Festas, instalada em um imóvel de 1,4 mil metros. 

Soares acredita que a concentração de eventos festivos deve alavancar as vendas, mesmo diante de um cenário econômico ainda incerto no país. “O brasileiro gosta de festa e ama futebol. Por isso acreditamos que esta combinação tem tudo para dar certo”. 

Nem mesmo o horário reduzido de atendimento em dias de jogos da seleção brasileira chega a ser uma preocupação. Até porque o gerente destaca uma mudança de comportamento do consumidor no pós-pandemia. “Trabalhar com vendas é viver um dia de cada vez. O que era regra há quatro anos, hoje não é mais. Hoje existe uma pressa em comprar, adquirir com antecedência”, conta Soares, acrescentando que a procura por decoração de Natal começou em outubro.

Ainda assim, espera-se um grande movimento nos dias próximos às datas festivas, afinal, segundo o gerente, “sempre tem aquele consumidor que acaba deixando para última hora”. 

O bom atendimento é outra preocupação e por isso o quadro efetivo de colaboradores foi reforçado recentemente. Hoje a loja conta com mais de 60 profissionais devidamente treinados.


Temporada de casa cheia

Já os empresários do setor de bares e restaurantes esbanjam confiança no desempenho da dupla Natal-Copa. A aposta é de casa cheia, especialmente nos dias de jogos da seleção brasileira. “Em novembro e dezembro sempre há aumento do fluxo de clientes, o que consequentemente resulta num incremento nas vendas. Mas sem dúvidas a Copa do Mundo é um ingrediente a mais para fomentar o segmento este fim de ano”, diz o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Seccional de Maringá, Rafael Cecato. 


Rafael Cecato, dono do Firula e presidente da Abrasel: “os donos de bares e restaurantes foram fustigados nos últimos dois anos. Esperamos uma fase próspera no fim de ano e em 2023”

Por conta disso, o Firula, bar do qual é proprietário, vai ter novos telões e televisores para as transmissões dos jogos. Ele aposta em picos de atendimentos durante a Copa, em especial quando o Brasil estiver em campo, mas trabalha para ter um movimento constante. “Precisamos pensar para garantir um faturamento uniforme. Ou seja, fazer com que as pessoas venham nos dias de jogos e nos outros também”. 

Segundo ele, o período é aguardado pelo setor porque é a oportunidade para colocar as contas em dia, principalmente após os prejuízos deixados pela pandemia. “Os donos de bares e restaurantes foram fustigados nos últimos dois anos. Esperamos uma fase próspera no fim de ano e em 2023”.

Depois da última onda da pandemia, entre janeiro e março de 2022, o setor ainda sofreu com os impactos da alta nos preços, ocasionada pela inflação, e da guerra entre a Ucrânia e Rússia. “Não fosse por isso, o desempenho poderia ter sido melhor. Mas não dá para ficar lamentando. A ideia é que nosso segmento se fortaleça até porque é um dos mais importantes do país, tanto na geração de empregos como na participação no PIB”, diz Cecato. 

O presidente da Abrasel espera, inclusive, que a retomada amenize o problema conjuntural da escassez da mão de obra. Ele lembra que muitos colaboradores deixaram o segmento durante a pandemia – quando bares e restaurantes fecharam – e não retornaram. Além disso, a abertura de estabelecimentos acirrou a concorrência. “Neste fim de ano ainda teremos dificuldades para contratar, mas em 2023 o setor estará reestruturado e certamente criará ferramentas para atrair e qualificar mão de obra. Colocando as contas em dia, o empresário conseguirá valorizar os colaboradores e remontar as equipes”, conclui Cecato.


Chope, futebol e festa

Os investimentos recentes traduzem o otimismo do empresário Mairon Mazini Sacchi, da Hórus Cervejaria. Em setembro, a fábrica foi transferida para um novo endereço, com área de quatro mil metros, sendo mil metros de barracão. Com isso, a produção saltou de sete mil litros mês para 21 mil litros. “Antes produzíamos só para atender o nosso bar. Não conseguíamos atender nenhum tipo de evento. Hoje, triplicando e antecipando a produção, suprimos a nossa demanda e ainda conseguimos participar e patrocinar eventos. Então a expectativa é alta”, comemora Sacchi. 


Mairon Mazini Sacchi transferiu a fábrica Hórus Cervejaria para um endereço maior, ampliando a produção, investiu em mais chopeiras para delivery, comprou telão e televisores  

Além do bar da fábrica, que fica em frente ao Parque do Ingá, a Hórus possui dois pontos exclusivos de vendas no Restaurante Pavan no Shopping Catuaí, e no aeroporto de Maringá. 

Já para quem quiser apreciar a bebida em casa, a empresa oferece delivery de chopeiras. Inclusive, para atender a crescente demanda, foram adquiridos mais equipamentos e contratados dois colaboradores para atender esse setor. 

“Está em alta fazer eventos, festas e churrascos em casa, e a tendência é aumentar neste período de festas e férias. O chope em si é um produto diferenciado, de qualidade superior à cerveja por não ser pasteurizado. Como muitos optam por alugar chopeiras para servir a bebida geladinha, apostamos no serviço de delivery”, conta o empresário, lembrando que para eventos maiores, é possível contratar a Kombi cervejeira da Hórus. 

E os investimentos não param. Na torcida pelo hexacampeonato da seleção brasileira, a Hórus adquiriu um telão e seis televisores para serem instalados na varanda. E o horário de abertura do bar será antecipado quando o Brasil entrar em campo. “Os jogos serão às 13h e 16h, ou seja, horários que normalmente não temos movimento porque abrimos às 17h30. Então vamos abrir mais cedo para aproveitar este fator Copa do Mundo, que certamente será um plus nas vendas de novembro e dezembro”, diz Sacchi.

Mas como não só de futebol vive o brasileiro, o empresário ampliou o espaço de eventos para quem quiser comemorar aniversário, confraternizar ou revelar amigo-secreto neste fim de ano. “Transformamos o espaço que ficava a fábrica num lugar de eventos”. 

Com os investimentos, a expectativa é de aumento de 25% a 30% no movimento da empresa, o que, consequentemente, eleva o faturamento. “As pessoas querem sair de casa, saem para ver a decoração da Maringá Encantada e procuram bares e restaurantes para momentos de descontração. O período de festas de fim de ano, férias e verão representa muito para nós”.

O otimismo do empresário com o fim de ano só não é completo por falta de mão de obra. A exemplo de outros bares e restaurantes, a contratação tem sido um desafio constante. “O mercado está escasso, precisamos de quatro ou cinco funcionários e não estamos conseguindo contratar. Tem vaga de cozinheiro, caixa e garçom. Quem tiver interesse é só trazer o currículo”.