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Sem idolatria, tecnologia precisa ser incorporada à educação

Sem idolatria, tecnologia precisa ser incorporada à educação

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Em que pesem os desafios que representa para a Educação, a tecnologia, em especial a inteligência artificial, não pode ser ignorada e precisa ser incorporada à sala de aula. “A escola tem que se atualizar, mas não tem que se render”, crava o filósofo e educador Mario Sergio Cortella, que é doutor em Educação pela PUC-SP. 

A afirmação foi feita durante a passagem dele por Maringá, em agosto, como palestrante do Congresso de Educação e Cidadania, um dos maiores eventos do setor do Paraná realizado pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Noroeste do Paraná (Sinepe/NOPR). 

Em entrevista à Revista ACIM, o filósofo também analisou a sociedade pós-pandemia e falou sobre a importância de temas como a diversidade e equidade na sociedade: 

 

Durante a pandemia, muito se falava em um olhar mais empático. Como a sociedade, de forma geral, saiu da pandemia?

Temos grande capacidade de sermos tolos e esquecermos com velocidade aquilo que, de fato, importa. Temos dificuldade de entender aquilo que nos faz mal, e assim que há uma diminuição dessa situação, se retoma em larga escala aos hábitos antigos.  Durante a pandemia, a empatia apareceu por parte de algumas pessoas, mas de maneira alguma foi expressiva. Temos uma capacidade rarefeita de dar passos nessa direção. No campo do desejo, gostaria muito que não fosse assim, mas não é o meu desejo que estabelece. Por isso, de maneira geral, as pessoas recusam a ideia de que as coisas não têm alternativa.

 

Diversidade e equidade são temas em evidência, inclusive nas empresas. Estamos caminhando para uma sociedade mais tolerante e empática?

Sem dúvida, e de forma acelerada, porque não temos alternativa a não ser fazer aquilo que é certo, seja em termos de equidade como princípio garantidor da igualdade constitucional, sejam em questões de diversidade como acolhida daquilo que a vida é e as pessoas são. As empresas que têm inteligência estratégica estão fazendo porque entenderam a importância desses movimentos. Aquelas que são arcaicas e reacionárias perderão espaço, porque hoje a diversidade é um valor social e um valor de mercado. Quem não coloca isso em prática, perde capacidade de perenidade. 

como fazer da internet e da tecnologia, como o ChatGPT, aliadas do processo de aprendizagem? 

Todas as vezes que nos deparamos com tecnologias novas, elas produzem, num primeiro momento, espanto e encantamento. É necessário cautela para não perder o senso crítico. De maneira geral, a utilização da inteligência artificial faz com que a gente dê passos além. Só que não podemos ter uma entrega ingênua e distraída em relação a essas novidades. Já temos a inteligência artificial no nosso cotidiano, logo a escola precisará lidar com isso. Mas não pode haver uma informatolatria, ou seja, a adoração deste mundo, tampouco informatofobia, que é o pânico em relação à tecnologia. É preciso fazer o uso inteligente, do contrário, a distração ou o mau uso levará ao dano. A escola tem que se atualizar, mas não tem que se render, afinal uma das coisas que fazemos há séculos é lidar com o que está chegando e incorporar. 

 

Durante a pandemia havia preocupação com o possível atraso dos alunos diante de tanto tempo longe das salas de aulas. Foi possível recuperar este atraso?

Deve demorar pelo menos uma década para recuperar o período de políticas públicas absolutamente ausentes e os momentos em que houve a necessidade de retirar a ação escolar no dia a dia do espaço físico.