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Turismo regional vira tendência

Turismo regional vira tendência

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O turismo é uma das atividades mais afetadas pela pandemia do coronavírus, mas parte das empresas soube reverter a situação e, em alguns casos, tirar proveito do momento. 

Períodos geralmente curtos de hospedagem, lugares próximos e que ofereçam conforto. Estes são, segundo proprietários de pousadas da região de Maringá, critérios citados pela maioria de clientes que procurou os locais neste ano. Comumente, o discurso era de que os hóspedes buscavam um espaço para novos ares, descansar e curtir momentos em família. 

Para a proprietária de A Fazendinha, Iracema Tavares Daleffe, apesar das dificuldades, a pandemia abriu um leque de possibilidades para o setor e lançou luz sobre o turismo regional. “Acredito que estamos em um momento privilegiado, apesar da pandemia. Os consumidores estão buscando destinos próximos, simples e mais naturais. Para mim, estes últimos dois meses foram uma experiência linda”, afirma a dona da pousada que fica em Campo Mourão.


Pet friendly

A pousada precisou ficar fechada por cinco meses. Só foi possível reabrir depois de um período crítico da doença na cidade e após as adequações para o cumprimento de protocolos sanitários. Com capacidade para 90 hóspedes, atualmente a empresa recebe até 50 pessoas, apesar da grande procura, explica Iracema. 

“Trabalhamos muito. Fizemos treinamento do pessoal, adequação com máscaras e álcool em gel em todos os espaços, luvas para todos. A pousada é um espaço grande, com muita natureza, então o hóspede se sente bem sem máscara porque está com a família, sem aglomeração, mas pedimos para usar máscaras, e estamos atentos a isso”, diz. 

Entre os principais atrativos estava o pacote de ‘day use’, que precisou ser cancelado. Nessa modalidade, grupos tinham a possibilidade de passar um dia no local e aproveitar as atrações. No entanto, esse tipo de pacote, de acordo com a empresária, atraia grupos grandes, gerando aglomerações. 

“Desde que reabrimos temos tido uma frequência praticamente normal dentro do que aceitamos. Temos tido alta procura, os hóspedes querem vir, mas estamos dosando. Chega a quinta-feira e paramos de fazer reservas”, explica. 

Foi preciso readequar a tabela de preços e se adaptar a algumas vontades de quem busca hospedagem. Diante da maior demanda, a pousada se tornou ‘pet friendly’ e passou a aceitar hóspedes com animais de estimação. 

Pousada A Fazendinha deixou de oferecer day use, passou a receber hóspedes com pets e aproveita o momento em que as famílias buscam destinos próximos para desfrutar da natureza



Para temporada

Outro espaço que precisou mudar o foco para aproveitar o momento foi a pousada Parque das Gabirobas, localizada em Roncador. De acordo com o empresário Mariano Almeida Machado, o local tinha acomodações que não eram devidamente aproveitadas. Foi observando esses espaços que ele teve a ideia de reformar as casas e alugá-las para temporadas. A novidade deu tão certo que o pacote se tornou um dos principais atrativos. 

Os aluguéis para temporadas, mesmo em épocas onde o turismo está em baixa, proporcionaram alcançar outro público. “Pude aumentar o quadro de funcionários, acabei de admitir mais dois”, revela. 

Os espaços, segundo ele, traduzem a essência da empresa, que investe no turismo regional com foco rural. “É para quem quer mostrar para os filhos uma vida rústica”, diz Machado. 

O Parque das Gabirobas nasceu há mais de 20 anos do desejo do proprietário de proporcionar hospedagem intimista. “Me hospedei em bons hotéis, frequentei bons restaurantes e percebia que faltava o calor humano, principalmente em tempos de alta tecnologia. Foi aí que estruturei uma pousada com diária prolongada, sem pressão de checkout. Os hóspedes se tornam uma grande família. Temos uma essência rural com atendimento de qualidade, desde a camareira”, afirma. 

Os mais de 600 mil metros de área verde que compõem a pousada também tornaram possível a manutenção da capacidade total de hóspedes, mesmo após as adequações aos protocolos sanitários. 

Apesar do cenário favorável, a empresa precisou adequar os preços para continuar atraindo o perfil de hóspede. “Reduzimos preços em plena alta de custos. Praticamos uma tarifa atrativa, e no mês que vem voltaremos para uma tarifa de três anos atrás”, destaca Machado. 

Contudo, a empresa não tem do que reclamar. “Mantivemos a capacidade, o que é bom, e atraímos outros públicos. Em anos anteriores, não tivemos a ocupação registrada de agosto a outubro”, ressalta o proprietário. 

A pousada Parque das Gabirobas teve as acomodações reformadas e passou a oferecer pacotes para temporadas


Viagem de carro

O turismo regional, em 2020, mostrou-se uma das poucas saídas também para as agências de viagens. Diante de tantas impossibilidades, as empresas se readequaram, e também readequaram as exigências de clientes. 

Segundo a consultora de viagens Emmanuelle Carniatto, que é proprietária da Mundo Livre Viagens e Turismo, foi preciso mostrar novas oportunidades e incentivar o turismo regional para o ‘cliente de lazer’. “Quando vimos que os hotéis e pousadas estavam adequados a atender os clientes com todas as normas de segurança, e nossos clientes estavam cansados de ficar em casa e queriam passar um final de semana em um lugar para relaxar, iniciamos campanhas para que eles viajassem de carro. Também tivemos que nos adaptar e começamos a oferecer as pousadas e hotéis-fazenda próximos a Maringá”, detalha Emmanuelle. 

“Começamos a ter melhora nas vendas a partir de agosto, quando os destinos passaram a permitir o uso de seus pontos turísticos e os clientes começaram a sentir maior necessidade de sair de casa. Muitas famílias com crianças não tinham mais criatividade para distraí-los e viram que as medidas de segurança foram afrouxadas”. 

Apesar de sentirem uma confiança maior, as principais exigências dos clientes, destaca a consultora, ainda são em relação às normas de segurança e aos protocolos sanitários. “Em consequência de todo esse cuidado que temos com os clientes, a venda de seguros de viagem aumentou, visto que as seguradoras também se adequaram e colocaram em suas coberturas a Covid-19”, frisa.

Quando vimos que os hotéis e pousadas estavam adequados a atender e nossos clientes estavam cansados de ficar em casa, iniciamos campanhas para que eles viajassem de carro”, conta Emmanuelle Carniatto, da Mundo Livre 


Perspectivas positivas

O ano de 2020 foi atípico para o turismo apesar do setor, na visão de Emmanuelle, estar sofrendo desde 2014. Contudo, essa vertente regional, que estava em segundo plano, possibilitou um respiro às empresas. A expectativa, inclusive, é que a procura continue crescendo. “As hospedagens nos finais de semana estão completas, mas esperamos que essa procura continue, pois nossa região e estado têm lugares fantásticos para serem conhecidos.”

O momento para os proprietários de pousadas também parece mais confortável. Iracema, da A Fazendinha, tem boas expectativas para a alta temporada. “Não será fácil, mas vai ser possível. Quem toma cuidado, está preparado e leva a sério, não vai ter problema. É um difícil recomeço, mas é a volta à vida”, considera. 

Machado, do Parque das Gabirobas, acredita que o período trará bons resultados. Ele diz que a empresa já tem reservas fechadas para o ano que vem e trabalha, agora, na contratação de funcionários.