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Bons ventos para o agronegócio

Bons ventos para o agronegócio

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“Uma safra quase perfeita”, resume o gerente técnico da Cocamar,  Rafael Furlanetto

As previsões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são de bonança em uma safra recorde de grãos no Brasil neste ano.  Depois das oscilações da bússola rural diante de quebras de produtividade em 2022, eis que a marca deve superar 300 milhões de toneladas. Só a soja deve passar de 150 milhões de toneladas, para a alegria e tranquilidade dos produtores da região de Maringá. 
Em relação ao ano passado, a safra agrícola de grãos em 2023 – segundo o IBGE - deve totalizar 302 milhões de toneladas ou 38,8 milhões de toneladas a mais que o desempenho do ano passado, uma alta de 14,7%. Ainda segundo o instituto, os produtores brasileiros devem semear 75,8 milhões de hectares na safra agrícola de 2022/2023, alta de 3,5% em relação à área colhida em 2022, o equivalente a mais 2,6 milhões de hectares.
De fato, a temporada 2021/2022 foi ruim para a região, com quebra de produtividade causada pela estiagem que chegou a 70% em muitas propriedades de Maringá e região. A volta por cima vem com os resultados do período 2022/2023 – que começou em setembro do ano passado, com a semeadura, e terminou em março, com a colheita. 

Maringá e região
A Cocamar Cooperativa Agroindustrial recebeu, até o fim de março, 2 milhões de toneladas de soja (33 milhões de sacas), mas o volume deverá chegar a 2,3 milhões, o maior volume da história. No ano passado, com a produção prejudicada pela seca, foi R$ 1,5 milhão de toneladas.
É um bom presente aos 20 mil cooperados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, já que a empresa comemora 60 anos de fundação. “Em 2021 sofremos grande frustração nas safras de soja e de milho. Agora estamos animados”, comemora o presidente executivo Divanir Higino. A projeção é de faturamento de R$ 13,7 bilhões neste ano.
O engenheiro agrônomo Rafael Furlanetto, gerente técnico da cooperativa, conta que apesar dos trabalhos terem sido interrompidos várias vezes pelas chuvas, não houve registro de perdas. “As lavouras da região de Maringá não sofreram perdas significativas, diferente de outras regiões do estado, como o norte, onde os produtores costumam semear um pouco mais tarde em comparação ao noroeste e sofreram perdas devido ao ataque de doenças fúngicas e ao excesso de chuvas“.
A Cocamar processa em Maringá praticamente metade da soja recebida, sendo que o carro-chefe da linha de varejo é o óleo de soja. A economia na região já sente os efeitos positivos da intensa movimentação financeira da safra, beneficiando todos os setores. Por outro lado, a saca da soja que chegou a R$ 200 no ano passado, estava cotada entre R$ 130 e R$ 140 em meados de abril.

Na indústria
No norte e noroeste do Paraná, isso se reflete em toda a cadeia, passando pela indústria de biofertilizantes. “Como somos uma indústria que desenvolve e fornece soluções para o agro brasileiro, é gratificante contribuir para esse crescimento. O clima favoreceu e as novas biotecnologias vêm agregando nas buscas de alta produtividade”, garante o gerente de projetos e marketing da Síntese Agroscience, produtora de biofertilizantes, Willian Martire Marcuso.


Willian Martire Marcuso, da Síntese Agroscience: empresa expandiu área de atuação e aposta em nova modalidade de venda

“Isso nos motiva a continuar evoluindo em busca de biotecnologia, contribuir para a alta produtividade, ainda mais quando as pesquisas privadas e instituições de ensino validam nossos produtos”, acrescenta. A perspectiva já se espelha nas vendas. O executivo entende que o perfil dos produtores está mudando, sempre conectados a informações e às transformações que o agro vem passando.
A combinação dessas informações e a prática resultam no incremento da produtividade e, muitas vezes, na redução dos custos. Marcuso percebe que os produtores se sentem motivados em aderir a esse novo comportamento, resultando numa agricultura sustentável com a adição de produtos biológicos, biofertilizantes e adjuvantes que potencializam as aplicações e diminuem os impactos ambientais.
Se há bons ventos sobre o campo, o mesmo não ocorreu em 2022. “Foi um ano atípico que se resumiu em superação, desde a falta de matéria-prima para a produção de insumos, altas nos preços e problemas climáticos. Mesmo com tudo isso conseguimos honrar com os clientes”, resumiu. “Para este ano, expandimos nossa área de atuação e estamos oferecendo uma nova modalidade de ‘parceria’, com relacionamento da indústria direto para o consumidor final”.
A empresa conta com logística própria e assistência técnica prestada por engenheiros agrônomos, sem passar por distribuição. A Síntese Agroscience, sediada em Maringá, é um braço do Grupo Campos Verdes, que trabalha com distribuição de insumos e comercialização de grãos há 26 anos.

Projeções
De acordo com o médico-veterinário Jucival Pereira de Sá, chefe do Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), foram plantados cerca de 300 mil hectares de soja nos 29 municípios que fazem parte do órgão, com produtividade média de 4,1 quilos ou 68 sacas de 60 quilos por hectare. Um hectare tem 10 mil metros quadrados de área e equivale a um campo de futebol. 
Isso dá 1,2 milhão de toneladas que, em sacas, correspondem a 20,4 milhões de unidades, um recorde. Na cotação de R$ 140 a saca (em 30 de março), significa que cerca de R$ 3 bilhões por hectare vão ser gerados na região. “Estamos falando somente da soja, o carro-chefe, mas o agro regional não se resume a esse grão, há outros ativos como bovinos, suínos, aves e leite, sem falar da safra de milho de inverno, que é expressiva e impacta a economia”, afirma.

Produtores
A família Luca, que produz soja em Paiçandu, Maringá, Sarandi e Itambé, fechou com média de 79 sacas neste último município e no começo da colheita em Paiçandu, o primeiro lote registrou 80 sacas por hectare. “Ficamos numa média de 80 sacas, a melhor que já conseguimos”, comenta Valter, ao lado do irmão Valdecir, do filho Jorge e do sobrinho Marcelo. 
A média esperada pelos Luca, neste ano, é mais de cinco vezes em comparação ao ciclo anterior, de apenas 14 sacas por hectare. “O ano passado foi o pior ano, sofremos muito, mas 2023, em compensação, será o melhor da história”, comenta Valter. 


João Bologuese, cuja família tem propriedades em Paiçandu, Maringá, Sarandi e Itambé; “ficamos numa média de 80 sacas, a melhor que já conseguimos” 

Ainda em Paiçandu, os irmãos João e Braulino Bologuese registraram média de 70 sacas. A exemplo dos Luca, eles são produtores tecnificados e, nesta safra, investiram mais em adubação e no manejo com fertilizantes foliares. “Num lote, colhemos 74 sacas por hectare. No ano passado, tivemos que juntar a produção de dez alqueires para atingir 75 sacas”, comenta João.

Clima
A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) projeta recuperação das perdas com a seca do ano passado com uma produção 74% acima na safra verão. Seria um total de 25,5 milhões toneladas, sendo 21,4 milhões de soja e 4,1 milhões  de milho. “O Paraná está colhendo safra recorde de grãos após quebra considerável na temporada passada. Essa produção vai permitir que os produtores consigam se capitalizar, para continuarem investindo em tecnologias dentro da porteira”, comemora o presidente do Sistema Faep/Senar-PR, Ágide Meneguette.
“No âmbito estadual, sabemos que quando o meio rural contabiliza boa produção, as centenas de cidades do estado têm sua economia aquecida, além da geração de renda e empregos a sociedade”, arrebata. 



“No âmbito estadual, sabemos que quando o meio rural contabiliza boa produção, as centenas de cidades do estado têm sua economia aquecida”, diz Ágide Meneguette, da Faep

De três anos para cá, tudo o que o clima ocasionou de estragos foi atribuído às variações do fenômeno La Niña, extinto agora em fevereiro. Ele promove o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Sul e é causador de ocorrências climáticas em todo o mundo.
No Brasil e países vizinhos, a principal característica é uma drástica redução das precipitações ao sul e abundância de umidade ao norte. Felizmente neste ano, ao contrário do que se viu no Rio Grande do Sul e na Argentina – onde as regiões produtoras foram fortemente castigadas pela seca – quase todo o Paraná recebeu chuvas regulares durante a fase de desenvolvimento da lavoura.