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Para famílias multiespécies, múltiplos cuidados

Para famílias multiespécies, múltiplos cuidados

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Aline Spohr abriu a Cake Dog, confeitaria especializada, depois que tentou comprar um bolo para o aniversário de um ano de Olga, a cachorra da família

Foi no aniversário de um ano de Olga, a cachorra da família Spohr, que surgiu uma oportunidade de negócio. Aline, a tutora da aniversariante, queria comemorar à altura do seu amor pela companheira, mas diante da falta de opções no mercado decidiu, literalmente, colocar a mão na massa: ela fez um bolo de aniversário só com ingredientes adequados ao consumo animal.

Na época, em 2019, Aline trabalhava em um escritório de representações comerciais e com a repercussão do bolo entre a família e os amigos, viu na confeitaria pet uma oportunidade para empreender. “Assim como tenho uma relação de mãe e filha com Olga, sei que outras famílias vivem isso e gostam de celebrar aniversários e outras datas de forma especial”, afirma. Ela lançou a Cake Dog, que, além de bolos, faz biscoitos, coxinhas, quibes e cupcakes próprios para cachorros. 

Nas receitas são usados ingredientes 100% naturais, como frutas, legumes, ovos, gorduras boas (óleo de coco, azeite de oliva extravirgem ou gordura suína), proteína animal e farinhas sem glúten. Além disso, todas passam pela supervisão de um médico veterinário e não levam conservantes, corantes artificiais e aromatizantes. “Nosso propósito é oferecer aos animais um produto de qualidade. Por isso, costumo dizer que usamos ‘comida de verdade’ nas receitas”, diz. Também há opções para animais com restrições alimentares ou alergias. “Nestes casos, as receitas são adaptadas para atender a necessidade de cada pet”, explica.

Os carros-chefe são os bolos de aniversário, que custam entre R$ 50 e R$ 140 e esteticamente são semelhantes aos para consumo humano. Datas comemorativas como Natal, Páscoa, Halloween e festas juninas também movimentam a cozinha pet e exigem, inclusive, a contratação de uma auxiliar. “No Natal e na Páscoa a demanda é maior. Mas mesmo em outras datas, busco oferecer um cardápio com opções a partir de R$ 12”, afirma.

Segundo a empreendedora, os clientes são pessoas que têm os animais como membros da família e, em alguns casos, até os veem como filhos. “Temos um cenário muito diferente de anos atrás. Agora, os pets não só estão dentro de nossas casas, mas ocupam um espaço importante tanto em relação ao afeto como em relação aos cuidados. É o caso dos casais que optam por não terem filhos e levam os cachorros para bares, restaurantes, viagens etc”.


Exclusivo para gatos


Amanda Gouveia começou criando gatos até que, de tanto receber pedidos de hospedagem, abriu o hotel para gatos Santo Bengal, único da região

Na história da Amanda Gouveia a oportunidade de negócio também surgiu por uma paixão: ela trabalhava como assistente de marcenaria quando conheceu a raça de gatos Bengal, cuja pelagem lembra um leopardo. “São gatos fortes, de fisionomia e expressão marcantes e têm muita energia. Também são dóceis e inteligentes. Tudo isso fez com que eu me encantasse e fosse em busca de conhecimento sobre comportamento felino”, diz. Depois de entender as necessidades da espécie, Amanda resolveu criar gatos da raça e, naturalmente, viu a oportunidade de ampliar o negócio. “Minha experiência com marcenaria contribuiu para que eu conseguisse criar espaços agradáveis e personalizados de acordo com as características dos animais, dessa forma, as pessoas que visitavam o local onde eu criava os animais gostavam tanto da estrutura que pediam para deixar seus gatos hospedados”, lembra. Foi assim que, em 2018, surgiu o hotel Santo Bengal, o único exclusivo para felinos da região.

São 15 apartamentos. Os mais procurados são os mais espaçosos que, além de grama, contam com árvores e até uma pequena cachoeira. “Principalmente no fim de ano esta opção é superconcorrida, por isso, tem gente que garante a reserva seis meses antes”, afirma. Os outros ambientes foram projetados para gatos que preferem se divertir nas alturas, por isso, a estrutura foi pensada para que eles possam passar o dia subindo e descendo. “Nossa intenção é garantir uma estadia que priorize a qualidade de vida dos animais, permitir que eles possam brincar, se sentindo acolhidos e seguros”, explica. 

Segundo a empresária, além das férias, os tutores procuram o hotel quando precisam dedetizar a residência ou simplesmente para proporcionar experiências em um ambiente natural, já que a maioria vive em apartamentos, explica. No Santo Bengal, a diária para um gato custa R$ 100, mas se forem dois, o preço cai para R$ 75 para cada animal. Já um filhote da raça Bengal chega a custar R$ 5 mil. “Nossos clientes são amantes de gatos que se preocupam com a qualidade de vida e entendem a sensibilidade deles, por isso, buscam o hotel para proporcionar cuidado, amor e bem-estar quando os tutores estão ausentes”, diz. 

Com o sucesso do serviço de hospedagem, o Santo Bengal deixou de criar, mas ainda comercializa filhotes. “O reprodutor está em São Paulo. Recebemos os filhotes com três meses e fazemos a adaptação até que sejam inseridos em uma família”, explica. O hotel aceita todas as raças de gatos, mas exige a carteira de vacinação em dia e o resultado negativo para FIV e FeLV, duas doenças que afetam os gatos. “Temos o cuidado de exigir os exames negativos, pois mesmo com a limpeza após o checkout, não queremos expor nossos hóspedes a nenhum risco”, garante. 


Bem-estar e educação canina


Débora e Pedro Istchuk fundaram a Petskill Escola Canina, que oferece adestramento positivo e bem-estar animal, empregando 14 colaboradores

Se os pets se tornaram membros importantes das famílias, surge outra demanda: os ajustes de comportamento. Entre os tutores são comuns queixas como destruição de objetos, excesso de latidos ou lambeduras nas patas, xixi e cocô em locais inapropriados, ansiedade, entre outros, por isso, têm crescido a busca por serviços especializados em comportamento animal. Foi pensando nisso que o casal de zootecnistas Debora e Pedro Istchuk fundou, em 2018, a Petskill Escola Canina, que trabalha com técnicas de adestramento positivo e bem-estar animal.   

Antes de empreender, Debora era adestradora em domicílios e via de perto os desafios enfrentados pelos tutores. Alguns animais apresentavam dificuldades de socialização, outros tinham maior necessidade de gasto de energia do que os tutores podiam oferecer. “Nossa ideia foi ajudar os clientes oferecendo um espaço seguro para a socialização dos cães, além do gasto de energia físico e mental compatível com o perfil de cada animal”, explica a empresária.  

Desde 2021, a Petskill, que conta com 14 funcionários, está em um endereço com mais de mil metros quadrados, com espaço com areia e pista com obstáculos. O leque de serviços inclui adestramento, hospedagem, creche, banho, tosa, taxidog, loja e o mais recente: consultório veterinário. De acordo com os proprietários, o tíquete médio dos pacotes de serviços é de R$ 315, já entre os produtos da loja a média é de R$ 75.  

“O serviço de creche vem crescendo tanto pelo maior conhecimento das pessoas a respeito de benefícios quanto pelo aumento do número de lares com cães”, explica o empresário. De acordo com um relatório da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), em 2020 a população de cães no Brasil era de 55,1 milhões, já a de gatos atingiu 24,7 milhões. “Os clientes da PetSkill querem aprender mais sobre cães, aumentar e diversificar as atividades dos pets, oferecer mais saúde e qualidade de vida. Assim, recorrem a nossa equipe para ajudá-los no cuidado com seus cães no dia a dia”, diz.  

Na visão dos empresários, apesar de ser um segmento promissor, o mercado não é imune a crises, pois, segundo eles, mudanças na economia sempre vão ter efeito sobre o consumo e gastos das famílias. No entanto, durante a pandemia eles perceberam que em uma escala de prioridade, os gastos com os animais tiveram mais importância em relação a outros gastos, e é isso que os motiva a planejar a expansão dos negócios. “Nosso próximo passo será oferecer cursos profissionalizantes na área pet de forma presencial e online e cursos online de educação canina para tutores”, revela.


Alimentos premium para tutores exigentes


Vera Lucia Occhi Françozo, representante da Alisul Alimentos: “temos ração feita com proteína de peixe própria para cães sensíveis e outra para animais que têm alta exigência nutricional”

Há 36 anos vendendo rações, a representante comercial Vera Lucia Occhi Françozo acompanhou o crescimento do setor. Além de dona do Pet Shop Duas Pontas, há 22 anos ela representa a Alisul Alimentos, que produz rações para diversas espécies, e aposta em superpremium, premium especial, premium e manutenção, sendo a primeira com teor mais alto de proteínas e vitaminas e a última, um alimento básico.

“O mercado está sempre em crescimento, por isso é fundamental estar atento para responder às demandas com agilidade”, afirma. A Alisul, cuja matriz fica em São Leopoldo/RS, tem fábricas em outras seis cidades, incluindo Maringá e cerca de 20 centros de distribuição no país. Além disso, tem investido em formulações elaboradas com ampla variedade de cereais, vegetais e proteína animal. “O mercado exige produtos específicos para cada tipo de necessidade dos pets, o que não víamos anos atrás. Por exemplo, temos ração feita com proteína de peixe própria para cães sensíveis, com alergias de pele, e outra para animais que têm alta exigência nutricional, como pitbulls e outras raças de médio e grande portes”, explica.